De acordo com a Companhia das Letras, editora que publica agora “A Obscena Senhora D e outras histórias”, esta é uma obra com alguns dos melhores textos em prosa daquela que é considerada “uma das maiores escritoras de língua portuguesa”.

O lançamento de “A Obscena Senhora D e outras histórias” põe fim a um hiato de quase 20 anos desde a última publicação de alguns dos seus livros, pela Campo de Letras, apenas interrompido em 2014 pela Orfeu Negro, que editou um livro ilustrado, em formato A4, com textos de Hilda Hilst e desenhos de André da Loba, intitulado “Obscénica. Textos eróticos & grotescos”.

“Hilda Hilst foi uma autora-chave do século XX, muitas vezes tomada como imoral, que rompeu cânones literários e expandiu horizontes. A Companhia das Letras reúne agora a sua melhor prosa em ‘A Obscena Senhora D e outras histórias’, uma obra única no mercado português, com vários textos inéditos em Portugal, provocadores e profundamente crus”, descreve a editora.

Nesta obra estão reunidos “A obscena senhora D”; “Com os meus olhos de cão”; “Rútilo nada” (vencedor do Prémio Jabuti); e a chamada “trilogia obscena”, de literatura pornográfica, composta por “O caderno rosa de Lori Lambi”, “Contos d’escárnio” e “Cartas de um sedutor”.

A escrita provocadora que sempre cultivou, procurando libertar a linguagem de espartilhos formais, foi muitas vezes considerada imoral e atentatória dos bons costumes, mas nos anos recentes foi “resgatada da marginalidade”, tendo “arrebatado os leitores e a crítica”.

A sua obra literária mistura a ficção mais desabrida com a biografia confessional mais comovente e o lirismo sempre latente, e a “sua voz hipnótica não deixa ninguém indiferente”, afirma a editora.

O título “A Obscena Senhora D e outras histórias” é composto por histórias escritas ao longo de onze anos, nas quais o leitor é introduzido aos temas de eleição de “uma escritora inquietada e inquietante”: o sexo, a insanidade, a relação com o pai, as escolhas da mulher numa sociedade castradora, o lugar da escritora num panorama impreparado para a receber.

Nas palavras da própria Hilda Hilst, ao questionar-se sobre os motivos que levam de repente uma pessoa a escrever, essa raíz, nela, “está na vontade de ser amada, numa avidez pela vida”.

“Quem sabe também se não é uma necessidade de viver o transitório com intensidade, uma força oculta que nos impele a descobrir o segredo das coisas. Uma necessidade imperiosa de ir ao âmago de nós mesmos, um estado passional diante da existência, uma compaixão pelos seres humanos, pelos animais, pelas plantas”, escreveu a autora.

Hilda Hilst nasceu em Jaú, São Paulo, em 1930. Foi poeta, ficcionista, cronista e dramaturga, apesar de se ter formado em Direito.

Estreou-se com um livro de poesia, “Presságio”, em 1950.

Em 1963, abandonou a vida boémia e atribulada da cidade, mudando-se para Campinas, onde construiu a mítica “Casa do Sol”, onde passou a viver, dedicando-se exclusivamente à escrita.

Nos anos 1990, despediu-se daquilo a que chamava “literatura séria” e inaugurou a fase da escrita pornográfica.

Entre as distinções que recebeu, destacam-se o Grande Prémio da Crítica pelo conjunto da obra, da Associação Paulista dos Críticos de Arte (1981), e o Prémio Jabuti para Rútilo nada (1994).

Hilda Hilst morreu em 2004, ano em que alguma da sua obra foi publicada em Portugal.

Em 2018, foi a homenageada da Festa Literária Internacional de Parati.

A sua obra está traduzida em França, Itália, Alemanha, Canadá, Argentina e EUA.