O espetáculo no centenário teatro da cidade alentejana está marcado para as 21:30 de 31 de janeiro, indicou hoje a Câmara de Évora, em comunicado.
“No fim era o frio”, editado no passado mês de setembro, é o mais recente trabalho da banda de Braga, tratando-se de “uma narrativa distópica”, destacou a banda, citada pelo município alentejano.
Nesta narrativa, continuou, “conceitos como aquecimento global ou subida das águas do mar servem de ponto de partida e cenário para um questionar e decompor de diferentes paradigmas do quotidiano”.
Paradigmas esses “que nos rodeiam e com os quais nos relacionamos e que todos os dias replicamos – criando com eles uma familiaridade tal que nos impede, muitas vezes, de deles tomar verdadeira consciência –, desviados para um outro enquadramento onde a familiaridade ganha a estranheza que permite a sua perceção”, resumiu.
“Mas esta é uma perceção demencial, num horizonte ficcional que nunca sabemos se é real ou delirante e onde as composições criadas com os padrões deslocalizados da sua primitiva função dão novas vidas e leituras ao frio cosmológico e à solidão humana, aqui ecos de uma mesma inadaptação existencial e vazio afetivo”, pode ler-se no comunicado.
Trata-se de um álbum “conceptual” que conta uma história de perda, criada de raiz por Adolfo Luxúria Canibal, vocalista do grupo, disse o próprio músico à agência Lusa, em julho passado.
O disco é “muito centrado numa história, que atravessa todo” o álbum, “uma distopia, uma história de perda”, contou o músico, referindo que, na génese do novo trabalho da banda, esteve “uma ideia musical de construção, de composição a partir de módulos, uma ideia retirada da música eletrónica”, e que a banda quis “aplicar à música elétrica”.
Adolfo Luxúria Canibal aludiu a módulos, por as 11 faixas que compõem o álbum “não [serem] propriamente músicas”, ou seja: “São longos ambientes, a que chamamos módulos”, sem refrão, pontes ou estrofes, frisou.
Segundo a Câmara de Évora, o espetáculo no Teatro Garcia de Resende vai ser composto por uma primeira parte, mais dedicada a este último trabalho da banda, e, após um intervalo, na segunda parte, os Mão Morta vão “revisitar” o seu património musical.
“Numa primeira parte de apresentação do disco “No fim era o frio”, os Mão Morta recriam a distopia, dando espaço para o palco funcionar como terreiro dessa demanda de calor humano, um terreiro devastado pelo fim da civilização e pelo níveo alvor de um novo recomeço, sem outro programa para além do mantra hipnótico tecido pela música”, explicou a autarquia.
Depois, “há um outro concerto”, com a colaboração da Oficina Arara, no cenário, em que “os temas do passado” da banda vão ganhar “as asas do presente”, instalando em palco “o caos urbano e a decadência civilizacional que sempre” inspirou os Mão Morta, frisou o município.
Além do vocalista, o grupo integra António Rafael Machado (teclado e guitarra), Vasco Vaz e Rui Lacerda (guitarras), Joana Longobardi (baixo elétrico) e Miguel Pedro Guimarães (bateria).
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