Em entrevista à agência Lusa, o fundador e sócio-gerente da editora portuguesa de jogos de tabuleiro MEBO Games – integrada no grupo financeiro Henry Reynaud – admitiu que “a cultura dos jogos de tabuleiro é ainda incipiente” em Portugal, apesar de “fortíssima” em países como os EUA, Alemanha, França ou Polónia, mas afirmou-se confiante no potencial de crescimento do mercado interno.

“Tenho o desejo secreto que o mercado em Portugal suba muito e nos dê bastante trabalho”, disse Gil d’Orey, apontando como objetivo duplicar a atual faturação de 240 mil euros da empresa no país, para meio milhão de euros, “dentro de dois ou três anos”.

Em 2018 cerca de 40% do volume de negócios de 400 mil euros da MEBO Games foi obtido no estrangeiro, com a empresa a vender jogos para uma dezena de países: EUA, China, Japão, Alemanha, Espanha, França, Itália, Rússia, Polónia e Brasil.

Para este ano, a meta é aumentar as vendas totais em 25%, para os 500 mil euros, e o interesse demonstrado por uma editora da Coreia do Sul poderá levar os jogos da empresa portuguesa a esta nova geografia.

Desde muito novo fascinado pelos jogos de tabuleiro, Gil d’Orey decidiu, aos 40 anos, transformar este ‘hobby’ em negócio, fundando uma editora que se dedica exclusivamente à criação e comercialização de jogos de tabuleiro dirigidos a todas as faixas etárias.

“A MEBO Games marca a diferença porque cria e edita novos e originais jogos de tabuleiro”, refere, explicando que alguns dos jogos “baseiam-se em acontecimentos importantes da História de Portugal, como são os casos de ‘Caravelas’, ‘D. Afonso Henriques’ ou ‘Estoril 1942’”, enquanto “outros apostam em temas transversais, para poderem ser mais facilmente comercializados noutros países, como o ‘Viral’ ou o ‘Panamax’”.

Além das criações próprias, a MEBO Games também edita, em português de Portugal, jogos internacionais de sucesso como o ‘Passa o Desenho’, ‘Sagrada’, ‘O Rei de Tóquio’ e ‘A Nossa Casa’.

Em Portugal, os jogos da MEBO estão disponíveis nas superfícies comerciais, livrarias e pequeno comércio, mas o mercado é ainda “muito pequeno, porque as pessoas tendem a ver os jogos de tabuleiro apenas como atividades para as crianças” ou como “um revivalismo que, um pouco como as calças à boca de sino, agora ficou na moda”.

Contudo, Gil d’Orey garante que a nova indústria de jogos de tabuleiro “nada tem a ver com revivalismo”, sendo antes uma verdadeira “reinvenção” do que anteriormente se fazia.

E, destaca, numa altura em que as pessoas passam várias horas por dia “isoladas à frente de um computador”, esta indústria tem o mérito de promover “o envolvimento humano” e a comunicação.

“Os jogos de tabuleiro tornam-nos mais humanos, obrigam-nos a comunicar uns com os outros, a estar à volta da mesa, a ouvir e a falar. Isto dá uma nova dimensão e permite uma maneira de estar de que, hoje em dia, as pessoas têm necessidade”, sustenta Gil d’Orey.

“É uma maneira lúdica de interagir e brincar que parece muito antiga, mas é muito moderna, porque hoje em dia os jogos têm mecânicas modernas e superatractivas, com as mais diversas e apelativas temáticas, e muitos são quase uma história”, acrescenta.

De acordo com o fundador da MEBO Games, “os jogos de tabuleiro nunca desapareceram completamente, mas ficaram muito reduzidos em determinada altura”, tendo começado a ressurgir a partir do início dos anos 90, principalmente no mercado alemão, onde apareceram “alguns jogos com propostas interessantes em termos de mecânica e de interação”.

“Talvez o Catan [criado pelo alemão Klaus Teuber] tenha sido o grande jogo que, no princípio dos anos 90, de repente desbloqueou a maneira de as pessoas pensarem sobre os jogos de tabuleiro, que até aí eram um nicho. A partir daí foi um ‘boom’ enorme de jogos novos”, explicou Gil d’Orey.

Em Portugal, a MEBO Games tenta cativar novos adeptos deste ‘hobby’ apoiando as várias convenções de jogos de tabuleiro organizadas no país, de Lisboa, a Leiria, Porto e Braga, apostando também na promoção de torneios e de demonstrações nas lojas que comercializam os seus títulos e no “passa palavra” nas redes sociais.

Segundo Gil d’Orey, a estratégia de crescimento da MEBO Games passa por apresentar os vários jogos que vai criando a editoras estrangeiras que, “se estiverem interessadas, compram a licença mundial desse jogo” em determinado idioma, assegurando depois a respetiva distribuição.

O facto de não haver em Portugal “nenhuma fábrica especializada em produzir jogos de tabuleiro” tem obrigado a editora a encomendar a produção dos seus jogos em países como a Alemanha, a Polónia, a Itália e, sobretudo, a China, cujos “preços e qualidade” apresentadas o empresário diz ser “muito difícil contrariar”.