"Uma agente da CIA investiga um carismático homem que iniciou um movimento espiritual e que anda a causar agitação política". Assim reza a sinopse do novo drama político da Netflix e que promete dar que falar.

"Sim, é provocativo; a série é provocativa", declarou à agência France-Press (AFP) o criador Michael Petroni (argumentista do filme A Rapariga Que Roubava Livros, 2013). "Mas provocativo não é ser ofensivo", remata.

Messiah, que estreia no dia 1 de janeiro na plataforma de streaming, procura descobrir como a sociedade moderna reagiria ao surgimento de uma figura religiosa deste tipo, passando a sua mensagem rapidamente pelas redes sociais num mundo afetado pelas notícias falsas e ciclos de notícias intermináveis.

A ação da série decorre entre o Médio Oriente e os Estados Unidos. As personagens, como a obstinada agente da CIA interpretada por Michelle Monaghan, vão do inglês ao hebraico, passando pelo árabe, às vezes na mesma conversa.

E a pergunta que se figura central da série — interpretada pelo ator belga Mehdi Dehbi — é se este é um messias genuíno, um nefasto agente político ou simplesmente um trapaceiro que está no coração da trama.

Petroni afirma que o thriller tem como objetivo provocar um debate e uma perspetiva do "ponto de vista do outro".

"Estamos à espera de muito ruído em torno do programa e de muito debate. Espero que aconteça um debate". Porém, insiste que não "procura ofender nem julgar ninguém".

Uma campanha no site Change.org pede o boicote do programa, descrito como "propaganda maligna e anti-islâmica", embora a série nunca especifique a que religião pertence o enigmático líder, que os demais personagens chamam de "Messias" e "Al-Masih", entre outros nomes.

"Muito cuidadosos"

Petroni admite que a Netflix ficou "nervosa" quando apresentou a ideia. "Era um conceito muito audacioso", destaca. "[Nomeadamente] quando lês o episódio piloto e este indivíduo vai marchar com 2.000 sírios palestinos através da fronteira de Israel", diz.

A proposta também incluía a construção, com um custo considerável, de uma réplica à escala real de parte do Monte do Templo — o local mais sagrado do judaísmo —, incluindo o Domo da Rocha, de onde os muçulmanos acreditam que o profeta Maomé subiu ao céu.

Filmar no local sagrado nunca foi uma possibilidade, particularmente pela natureza violenta da cena que aparece no segundo episódio da série.

As cenas passadas no Médio Oriente foram rodadas na Jordânia e nos Estados Unidos, o que representou um desafio adicional.

Outras séries norte-americanas, como Homeland, enfrentaram barreiras culturais e linguísticas, o que gerou críticas pela representação da região e dos muçulmanos.

Nesta série em particular, por exemplo, numa cena filmada em Berlim, em que um comandante do Hezbollah escolta a protagonista por um suposto campo de refugiados sírios, alguém gritou em árabe a frase "Homeland é racista".

O primeiro trailer de Messiah, divulgado no início do mês, foi ridicularizado pelos espetadores muçulmanos, que afirmaram que o nome "Al-Masih" é utilizado na teologia islâmica por Dajjal, um falso profeta comparável ao Anticristo.

A Netflix rapidamente respondeu que este "não é o nome do personagem" e que os detalhes da trama permanecem sob embargo.

Petroni, um australiano cujo pai foi criado no Egito, não fala árabe, assim como os realizadores, o que exigiu a contratação de uma equipa experiente e confiável de tradutores e professores de dialetos.

"Fomos muito cuidadosos", garantiu Petroni.