Tem sido quase sempre assim desde a década de 30 do século XX, naquele que é, para muitos felgueirenses, um dos momentos mais marcantes do ano, num misto de festa e devoção religiosa. "É um momento muito especial para todos nós", comentou o presidente da câmara, Nuno Fonseca, em declarações à Lusa.
Em Felgueiras o dia de São Pedro é feriado municipal e festejado com eventos religiosos e profanos, mas "o cortejo das flores é o grande acontecimento, talvez pela sua singularidade em termos nacionais, atraindo dezenas de milhares de pessoas que ladeiam as ruas e caminhos e que se deixam contagiar pelo ambiente festivo", disse a fonte.
Mas para muitos, os que incorporam o cortejo, é ainda mais especial, porque a marcha a pé, pelo caminho das capelas, é precedida de muitos dias de trabalho de preparação dos arranjos florais, dos trajes que remontam à lavoura de outros tempos e dos versos rimados que vão sendo entoados na longa subida, enquanto os homens tocam instrumentos tradicionais, como harmónicas, concertinas, violas, tambores, cavaquinhos, ferrinhos e castanholas, a fazer lembrar o folclore do Douro Litoral.
Segundo a organização, este ano vão participar cerca de duas dezenas de grupos, em representação de freguesias, lugares ou associações do concelho. Cada um, manhã cedo, ao longo do percurso, até com uma certa vaidade, executa coreografias, enquanto exibe os seus arranjos florais. Os brasões das freguesias "desenhados" com flores de muitas cores são dignos de aplausos e manifestações de espanto para quem vê.
São geralmente as mulheres mais velhas que, orgulhosas, de socas que arrastam pelo chão, carregam à cabeça grandes cestos de vime decorados com flores garridas, de todos os tipos. De mãos nas ancas que emolduram as saias coloridas, as mulheres dançam e cantam, com vozes agudas e com todos os pulmões, músicas com letras alusivas ao São Pedro e a Santa Quitéria, como a fazer lembrar quando eram jovens e casadoiras.
Também as crianças, sempre em grande número, dão brilho ao momento, com ramos de flores e vestes garridas, como que a dizer que a tradição está para durar.
"Este momento é vivido praticamente por todos os felgueirenses com muita emoção e reflete a cultura das nossas gentes de forma genuína", destacou Nuno Fonseca.
O cortejo exige disponibilidade física, porque a subida é íngreme, sinuosa e quase sempre faz calor, que o digam os mais velhos obrigados a um esforço que só a fé explica.
Mas, a cada ano que passa, a tão almejada chegada ao alto de Santa Quitéria, com o seu templo de tantos devotos, compensa o esforço e o suor dos romeiros. Avançando pela alameda refrescada pelo denso arvoredo e repleta de pessoas que não se cansam de aplaudir, os grupos não param de cantar e dançar, agora com vigor renovado, porque chega a hora de depositar os arranjos florais aos pé de virgem, saudados pelo presidente da câmara e outras entidades do concelho, que os esperam no local, como manda a tradição em Felgueiras.
No final, a base do pedestal da imagem da santa fica repleta de milhares de ramos de flores, um regalo para o olfato e para os olhos, que pode ser apreciado tarde fora, para alegria e orgulho de muitos figueirenses.
Alguns choram ao avistar o cenário e ficam com vontade de voltar no ano que vem. Tem sido assim, há décadas.
Para o presidente do município, o cortejo das flores é um momento único no país e, por isso, a autarquia vai continuar a apoiar, correspondendo à vontade da população.
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