Fundado em 2005, num espaço de apenas 30 metros quadrados, sem casas de banho nem aquecimento, o museu contava a história da imigração através de ‘malas de cartão’ de imigrantes repletas de recordações, livros, fotografias, jornais e cartazes, tendo em 2022 sido relocalizado no Centro de Apoio ao Imigrante, também na cidade de Lausana, devido à demolição das antigas instalações.

No entanto, três anos volvidos, Ernesto Ricou tomou a difícil decisão de fechar portas, tendo explicado, em declarações à Lusa, que tal se deve à sua “idade avançada”, 76 anos, e “por questões de saúde”.

“Comuniquei a decisão há duas semanas na assembleia-geral da associação dos museus de Lausana. A pouco e pouco passei a ficar cansado de tanto trabalho, eu não parava”, diz, apontando que, além dos 20 anos a dirigir o museu e da carreira como artista plástico, também trabalhou cerca de duas décadas na escola pública suíça, como professor de Desenho e de História de Arte, sempre com “tarefas muito intensas”.

Comentando o encerramento do seu museu, que classifica como “uma estrela cadente”, Ernesto Ricou admite à Lusa que sente “mágoa”, mas prefere destacar o sentimento de recompensa e de reconhecimento pelo trabalho desenvolvido e, ao Estado português, agradece “o carinho”, embora durante anos se tivesse queixado de falta de apoios.

“As coisas poderiam realmente ter evoluído de outra forma [com mais apoios], mas eu tinha uma ideia, talvez demasiado original, de que o dinheiro corrompe. Havia duas hipóteses e eu tinha de fazer uma escolha: ou me dedicava à administração - e entrava nessa senda dos subsídios, convenções e todo esse circuito, que conheço desde os tempos que trabalhava na área da Cultura ainda em Portugal -, ou a rua. E eu escolhi a rua, não podia ser de outra forma”, conta.

“Como se diz no Porto – cidade de onde é natural – o que eu queria era «estar com o pessoal». Tive sempre a preocupação da gratuidade, estar perto das pessoas mais humildes e afastadas da cultura, dando uma oportunidade a pessoas de formação mais modesta de estar em contacto com a cultura. Foi essa a minha intenção”, diz.

Em jeito de balanço, Ernesto Ricou considera que esta sua abordagem “resultou”, como o atestam “o reconhecimento enorme de parte das autoridades, do mundo da cultura e das pessoas”.

“Eu dei tudo, fiz o mais que pude, sem nenhum orçamento e sem salário. E vi que houve uma evolução nas mentalidades”, diz.

Com o museu fechado há já duas semanas, a sua grande preocupação agora é “salvar o mais possível” do espólio do museu.

“Estou agora a trabalhar na seleção de peças, as mais importantes, que dizem diretamente respeito aos imigrantes, designadamente as malas, um património sempre muito capital no nosso trabalho de divulgação do Museu. Estou a fazer todo o possível para que os arquivos municipais [de Lausana] aceitem acolher estes objetos, que são preciosos, como a coleção de fotografias”, conta.

“E estou muito satisfeito porque o grupo de diretores dos museus mais importantes de Lausana está na disposição de me ajudar em tudo o que possam, com a sua influência, para que o arquivo municipal aceite o património direto dos imigrantes, a parte mais rica e humana do museu”, conclui, dando por encerrada a história do mais pequeno museu da Suíça.