O espetáculo a decorrer no Centro Cultural Olga Cadaval, a partir das 21:30, será o primeiro de uma digressão que irá passar também pelo Porto, pela Figueira da Foz e por Loulé, numa série de “lotações esgotadas”, de acordo com o comunicado da organização, que também destaca as participações de Jorge Palma, Márcia, Samuel Úria e Mazgani.
Os músicos nacionais vão colaborar sob direção de Pedro Vidal, em quatro concertos produzidos pelo Bairro da Música, organização que convidou os artistas, com o apoio da Embaixada do Canadá, em Portugal.
Em entrevista à agência Lusa, por telefone, Miguel Guedes começa por salientar que o objetivo era “reunir um conjunto de artistas que tinha ligações estéticas mais fortes” a Leonard Cohen, tendo ficado “muito feliz” por ter sido convidado, uma vez que sempre ouviu a música do poeta e compositor, “desde muito cedo”.
O vocalista da banda Blind Zero admitiu que apesar de nunca ter tido a oportunidade de ver Cohen atuar ao vivo, pensa que o legado do responsável por canções como “Hallelujah”, “Dance Me To The End Of Love” ou “Bird on The Wire” é “relativamente consensual entre [os artistas] a fazer este concerto”.
“A dimensão da palavra, muitas vezes pré existente à própria canção, é fundamental no Cohen e a forma como ele transporta a palavra para as canções, com um sentido de métrica e dicção únicos, com um enorme peso nas palavras”, são algumas das características que distinguem o repertório de Cohen.
Na opinião do cantor português, Cohen “descreve a perfeição como ninguém”, concluindo que “a escolha dos artistas foi muito certeira [e] as pessoas (…) vão dar uma visão alternativa” ao trabalho do músico canadiano.
Trata-se de tentar dar às canções um “cunho pessoal sabendo que há coisas [a] respeitar, nomeadamente a dimensão da palavra nas canções”, ambicionando fazer “um espetáculo bonito, tocante, comovente, não necessariamente nostálgico (…) mas que seja uma prova viva de tudo o que ele nos deixou após a sua morte”.
Também em entrevista à Lusa, David Fonseca considera que Cohen “acabou por nunca envelhecer” e poder integrar o lote de músicos que lhe prestam homenagem não significa que haja “um cruzamento tão grande” [entre as obras dos dois], realçando que, acima de tudo, “é um grande admirador”, sendo que “todos [se identificam] com o repertório [de Cohen] de alguma maneira”.
Relativamente à forte adesão do público, o antigo membro da banda Silence 4 confessa que não sabia que resposta esperar, já que “nunca se tinha feito um espetáculo deste género sobre Leonard Cohen”. Contudo, admite que fica “muito feliz” ao saber da lotação esgotada, pois “acaba por ser uma espécie de uma celebração, que vai ao encontro do trabalho” desenvolvido.
A aliança entre a poesia e a música é uma das características “mais marcantes (…), porque não é muito fácil ser um poeta e ser um músico ao mesmo tempo”, das artes inimigas, do ponto de vista de David Fonseca.
“A música tem o condão de desajustar [a palavra] dentro do seu universo”, mas “Cohen é daquelas raras figuras que consegue dissociar as duas”, sendo que “a palavra tem uma força absurda”, mencionando o “classicismo à volta da construção das canções”, típico dos anos 1960 e 1970, em que nenhuma delas acabava “por se desmoronar perante a outra”.
Cohen morreu a 07 de novembro de 2016, pouco tempo depois de editar o seu 14.º álbum de originais, intitulado “You Want It Darker”.
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