Esta é a estreia da produção da Broadway Entertainment Group, que traz a Lisboa aquele que é provavelmente o musical de Andrew Lloyd Webber mais aclamado pela crítica, já que ganhou mais de 70 grandes prémios de teatro, incluindo quatro Olivier e sete Tony.

Foi visto por mais de 160 milhões de pessoas em 46 territórios, em 193 cidades e cantado em 18 idiomas. Pela primeira vez em Portugal com uma versão internacional, esta peça estreou em Londres em outubro de 1986 no Her Majesty's Theatre, em West End, atual His Majesty's Theatre, que ainda hoje exibe esta produção após quase 40 anos.

A chegada a Portugal é uma conquista da produtora Everything is New, que conseguiu esgotar a sala até ao último dia. "Há muitos anos que estamos a trabalhar para trazer esta obra do Lloyd Webber a Lisboa", realçou Álvaro Covões, diretor-geral da produtora, na apresentação à imprensa.

Com uma mulher na frente da direção do espetáculo com mais de 80 pessoas, Sophia McAvoy destaca que a produção dá um destaque especial à personagem de Christine, que aqui parte em descoberta de si própria. "Nesta produção, como mulher, é absolutamente fantástico poder ver a personagem principal a crescer nesta jornada de independência".

Esta é uma ideia com que uma das duas atrizes que a encarnam concorda. "O texto está escrito de forma a observarem que a Christine faz perguntas, aprende, é curiosa e tenta formar novas relações", sublinha Bridget Costello, que representa esta personagem de forma intercalada com Georgia Wilkinson, em entrevista ao SAPO24.

As músicas são as mesmas da produção de Londres num musical composto e co-escrito por Andrew Lloyd Webber, baseado no romance homónimo de Gaston Leroux. As melodias foram compostas por Andrew Lloyd Webber, com letras de Charles Hart e letras adicionais de Richard Stilgoe. No Campo Pequeno, a orquestra, dirigida por Ben Turner, é composta por 14 músicos, numa orquestração elaborada em 2011 e com 2h30 de música.

A história é sobre a jovem soprano Christine Daaé, que é a obsessão de um génio musical conhecido como "O Fantasma da Ópera", já que ninguém o vê nem sabe quem é. Ao longo da atuação, a história de Christine cruza-se com a de Raoul, que acaba por ser o grande amor da protagonista. Para viverem o grande amor é necessário afastarem o Fantasma e isso leva este triângulo amoroso numa jornada de descoberta que fazem em conjunto com o público.

Na mala com a companhia vieram duas portuguesas, Lara Martins, que faz da diva Carlotta, e Francisca Mendo, bailarina, que reforçam ainda mais a ligação deste espetáculo a Lisboa.

"Os portugueses também podem ver produções internacionais"

Esta é a primeira vez que uma produção original do "Fantasma da Ópera" chega a Portugal, tendo já existido a versão em concerto e uma adaptação de Filipe La Féria. Para a bailarina Francisca Mendo, "os portugueses também podem ver produções internacionais".

"Nós nem sabíamos que vínhamos a Portugal no início, porque estava previsto andarmos mais pelo Médio Oriente. Quando percebemos adorámos, porque é fascinante poder vir ao nosso país e dar a conhecer também a nossa profissão para poder inspirar, talvez, mais pessoas a seguir as artes e também o país a investir mais em artes", reforça.

Francisca Mendo
Francisca Mendo Francisca Mendo - "The Phantom of the Opera" créditos: 24

Para Francisca, o sonho agora realizado de fazer parte da produção internacional é resultado de muito trabalho, mas sobretudo formação. Estudou no Porto e depois seguiu para Barcelona e Londres. No Fantasma começou a bailar em julho de 2023. "É a minha primeira grande produção internacional. Eu trabalhei com várias companhias, mas mais no Reino Unido, por isso é a primeira vez que estamos a viajar pelo mundo", destaca a jovem bailarina de 30 anos.

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Lara Martins, a colega no papel de Carlotta, também não esconde a emoção de estar na sua terra. "Eu já estou ligada a este papel há vários anos. Comecei a fazer de Carlotta em West End, na produção de 2012, e depois estive até 2018. Quando saí estava cansada de fazer sempre a mesma coisa, mas agora por vezes faço estas digressões, que para mim acaba por ser mais interessante porque vou conseguindo integrar outros trabalhos pelo meio".

A veterana, natural de Coimbra e que há muito optou por viver a sua carreira no estrangeiro, aponta que ter estes papéis internacionais nem sempre é aquilo que as pessoas pensam: "Eu já estou fora de Portugal há muitos anos, mas tive sempre a preocupação de manter alguns laços de trabalho com instituições portuguesas. Viver aqui é que não é possível, tenho a minha base noutro sítio". "Depois também temos oportunidades diferentes apesar da enorme competição, não é fácil. É muita gente. Londres, por exemplo, é um centro de formação das artes, todos querem lá ficar e nem sempre é um mar de rosas", destaca.

Lara Martins
Lara Martins Lara Martins créditos: 24

Sobre a complexidade de ambas as personagens, a bailarina Francisca Mendo destaca os sete figurinos que faz durante as 2h30 de espetáculo. "Faço o papel de uma bailarina da Ópera de Paris, mas também dentro das diferentes Óperas que vão acontecendo ao longo espetáculo e, apesar de ser quase tudo clássico, também temos dança moderna, pontas, coisas que lembram jazz, mostramos todas as nossas valências e tudo o que estudámos".

Já sobre Carlotta, Lara Martins, a prima donna deste espetáculo, como diz a música que a própria canta, admite ser a artista que esteve mais tempo a representar esta personagem. Revela ainda que o mais desafiante é não deixar o físico afetar a voz. "Ela é muito enervada, nasceu assim, muito irritada, é italiana…", sublinha.

"Uma das poucas personagens no teatro que todas as pessoas no mundo inteiro reconhecem"

No centro da ação desta peça com quase 40 anos está o triângulo amoroso entre o Fantasma, Christine e Raoul, que em conjunto com o elenco e os músicos transportam a audiência para Paris no século XIX.

The Phantom of the Opera
The Phantom of the Opera Nadim Naaman, Fantasma Georgia Wilkinson, Christine (1) Bridget Costello, Christine (2) créditos: 24

"Esta personagem é uma das poucas personagens no teatro que todas as pessoas no mundo inteiro reconhecem. Basta mostrar-se uma fotografia da máscara e todos conseguem entender do que se trata", começa por frisar Nadim Naaman, o Fantasma desta produção.

Esta já não é a primeira vez para Nadim neste papel, tendo representando durante quatro anos o mesmo na produção original de Londres. Longe do teatro tradicional, agora experimenta recintos novos a cada cidade que passa e destaca principalmente o benefício de fazer uma produção nova.

"Como ator é muito especial porque podemos ter todas as conversas com a encenadora sobre como é que a personagem anda, como fala, como é a jornada emocional, como interage com outras pessoas. Em Londres fazemos sempre da mesma forma porque foi assim durante 40 anos", diz.

The Phantom of the Opera
The Phantom of the Opera Nadim Naaman, Fantasma créditos: 24

Além desta ser uma versão mais moderna, o facto de ser uma estreia em Portugal também é um fator adicional de orgulho para o ator: "Se vamos a uma cidade onde já viram o Fantasma várias vezes, a reação é: Oh, ok… Já sabemos o que isto é… Aqui sente-se que é um evento especial".

Algo com que o colega de elenco Dougie Carter, que na peça faz de Raoul e acaba por "roubar" Christine ao Fantasma, concorda e acrescenta que esta arena assume diferenças especiais dos demais teatros. "Em todos os sítios onde acabamos por fazer o espetáculo conseguimos fazer algo diferente".

“The Phantom of the Opera”
“The Phantom of the Opera” Dougie Carter créditos: 24

Sobre a sua personagem, que contrasta com o Fantasma, não revelou muito e convidou o público a vir ver e descobrir. Já sobre a atualidade da temática do musical, diz que "é algo muito moderno porque é sobre um assunto do dia a dia com que todos nos podemos relacionar".

Experiente no domínio da personagem por ter estado vários meses a substituir outros atores, revela que considera trazer diariamente a "própria versão do Raoul".

Já Nadim sublinha que a melhor parte de ser o Fantasma é precisamente a multiplicidade de emoções. "No fundo, esta personagem são duas: a famosa, o Fantasma, que é falso e é também uma personagem criada por este homem para ter poder e estatuto num mundo onde ele não consegue atingir nada disso, sendo na realidade é um homem falhado, sozinho, não amado por ninguém por ter uma deformação facial. Porém, com a máscara passa a ser confiante e forte e isso é um contraste muito interessante".

"O que tento é fazer com que o público sinta todas estas emoções porque ele faz muitas coisas más e acaba por ser perdoado pela audiência. Ele rapta, ele mata, ele esconde-se atrás de um espelho para observar a Christine, mas quando ele começa a cantar as pessoas adoram-no", aponta.

"O que eu gosto mais é quando a máscara é retirada e ele não finge mais ser o Fantasma e é apenas o homem e a Christine é a única pessoa que consegue interagir com ele", reforça.

Sobre a arena, diz que "não muda nada" na qualidade do espetáculo e que se consegue ver em todo o lado. Uma opinião partilhada por Bridget Costello, no papel de Christine. "É muito giro fazer peça numa arena de touros, que não deixa de ser semelhante ao tempo em que a nossa peça se passa", destaca.

Já tendo sido Christine em Londres, na Sydney Opera House, na Austrália, e agora um pouco por todo o mundo nesta digressão, não deixa de elogiar o trabalho de luz, som e design, que existe sempre que a digressão muda de país várias vezes por ano e leva consigo toda uma equipa técnica.

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Recorde-se que o "The Phantom of the Opera" contém algumas das mais famosas e emocionantes músicas compostas por Andrew Lloyd Webber, incluindo "The Phantom of the Opera", "Think of Me", "All I Ask Of You" ou "Masquerade". A gravação do elenco original, com mais de 40 milhões de cópias vendidas em todo o mundo, é a gravação por um elenco mais vendida de sempre.

Em Lisboa vai estar até dia 27 de outubro, domingo, no Campo Pequeno e quem não conseguiu bilhetes perdeu a oportunidade porque o espetáculo já estava esgotado mesmo antes da primeira apresentação, esta terça-feira.