"Pegámos na casa porque é o elemento mais próximo, quando somos pequeninos é o que nos envolve, a nossa família e a nossa casa, e a relação que temos com o espaço", disse à Lusa Filipa Tomaz, que com Letícia do Carmo escreveu os textos do livro, que conta com ilustrações de Yara Kono.

O projeto está nomeado para o prémio do tema "Priorizar os lugares e as pessoas que mais precisam" na categoria "Campeões da Educação" do Novo Bauhaus Europeu, iniciativa da Comissão Europeia lançada em 2021, sendo um dos seis projetos portugueses finalistas na cerimónia de atribuição dos galardões, marcada para quinta-feira, em Bruxelas.

Segundo Filipa Tomaz, o objetivo é "partir de um universo pessoal, que é o mais próximo das crianças", através do "elemento simples" que é a casa, para depois o relacionar com o espaço, numa interação que "ao longo do livro se vai complexificando, até chegar ao bairro e à cidade".

Letícia do Carmo afirmou que a ideia era que o livro não fosse um "manual escolar", mas sim "algo poético, que levasse ao imaginário, com ritmo, e que desse para contar um conto, não ser descritivo e aborrecido".

"O primeiro ponto é que uma casa é um abrigo, é uma segunda pele, ou uma terceira, é um lugar que nos protege, e é daí que aparece também a necessidade de também haver a casa, é de fazer esta relação entre nós, o nosso corpo, com o meio em que habitamos. É um intermediário", justificou ainda Filipa Tomaz.

Fazendo uma menção ao título da obra, a casa tem formas que derivam das suas funções, "daí lembrar uma montanha, porque tem um telhado inclinado e a chuva escorrega".

Já Letícia do Carmo entende "a casa enquanto organismo, enquanto corpo, quase fazendo um paralelismo com o corpo humano, em que para funcionar tem de poder respirar, tem de poder abrir uma janela para poder olhar lá para fora", e em que, por exemplo, "os olhos são as janelas, o telhado que é um chapéu para proteger".

Este paralelismo "tem funcionado muito bem nas mediações" feitas pelas autoras, referiu Letícia do Carmo, apesar de o livro ainda não estar publicado pela editora Planeta Tangerina, contando ainda com o apoio da consultora Locus Access.

Segundo Filipa Tomaz, ainda não está editado por "ser um objeto muito caro de produzir", apesar de já existirem livros multiformato com braille, pictogramas para pessoas com deficiência cognitiva e, tal como nesta obra, texto com fonte em tamanho grande.

Assim, caso vençam o prémio de 30 mil euros do Novo Bauhaus Europeu, o montante "vai ser canalizado para cobrir o orçamento deste projeto".

Em maio de 2022, no âmbito de uma tentativa de angariação de 4.500 euros através de 'crowdfunding', a Trienal já tinha comunicado que a produção do livro contou com apoio financeiro da Direção-Geral das Artes, que se revelou "insuficiente para ser possível praticar preços acessíveis para o público" e ofertas a escolas, estando os custos de 1.500 exemplares calculados em quase 55 mil euros.

Depois de editado, previsivelmente este ano, as autoras querem que "seja publicado noutras línguas", em audiolivro, "com audiodescrição das ilustrações", em "vídeo com interpretação em língua gestual portuguesa" e com pictogramas para leitura das pessoas com deficiência cognitiva capazes de o fazer.

Os galardões Novo Bauhaus Europeu visam distinguir projetos ambientais, económicos e culturais que combinem sustentabilidade, acessibilidade de preços e investimento, para enquadrar a transição climática e a mudança cultural, como propõe o Pacto Ecológico Europeu, tendo este ano sido selecionados 61 finalistas.