[O Francisco tem 19 anos, estuda nos Países Baixos e está em viagem com um passe de Interrail que o vai levar por esta Europa fora e este é o seu diário de viagem publicado no SAPO24]

Dia 2 (10 de julho): Dica #4 para futuros viajantes: se os planos falharem (e, acreditem, por vezes vão falhar), não entrar em pânico.

Acordamos, eu antes da Amelia, prontos para continuar viagem. Ela dormiu mal - parece que houve gritos às quatro da manhã -, eu ferrado que nem uma rocha.

Entramos e o comboio arranca. De repente, percebemos que estamos no comboio errado

Chegamos à estação principal com muita antecedência, aguardamos calmamente na plataforma de embarque. O ecrã indica a partida para Cracóvia às 08h10. Vemos um comboio chegar. O ecrã muda. O próximo comboio vai para o Aeroporto de Viena. Corremos para o comboio que parou à nossa frente, apenas a tempo de ler: "Breclav, hora de partida 08h10". Entramos e o comboio arranca. De repente, percebemos que estamos no comboio errado.

A nossa estação final não é Breclav, na República Checa, ainda que passemos por lá a caminho de Cracóvia (Polónia). O comboio em que seguimos para noutra estação de Viena, saímos e fazemos o percurso inverso. Às 08h21 estamos de volta ao ponto de partida. Mas o comboio que devíamos apanhar já saiu. Com dez minutos de atraso. Ou seja, perdemo-lo por um minuto. Galo, grande galo!

Além de um calor sufocante no comboio de Breclav para Cracóvia, nada a assinalar, a não ser uma cabine só para os dois durante grande parte da viagem

Demora um pouco, mas encontramos uma solução: partir no próximo comboio com destino a Breclav e aí fazer a ligação para Cracóvia. Perdemos duas horas, mas podia ter sido bastante pior. Valeu a ajuda materna (da Amelia, a minha mãe saberá do incidente apenas através deste diário. Também não creio que pudesse ter ajudado muito, com base em experiência prévia nesta coisa de transportes públicos - adoro-a, mãe, beijinhooooooooooos!)

A viagem prossegue de acordo com o plano B, sem incidentes. Além de um calor sufocante no comboio de Breclav para Cracóvia, nada a assinalar, a não ser uma cabine só para os dois durante grande parte da viagem. À medida que o comboio pára nas várias estações polacas vamos ganhando companhia - chegamos à movimentadíssima estação principal de Cracóvia sedentos e esbaforidos.

Uma curta viagem de elétrico, alguns minutos a pé e chegamos ao nosso destino: a casa de uma tia-avó de Amelia. Acompanhada por uma prima que fala um inglês irrepreensível, recebe-nos com calorosas boas-vindas (por favor, já chega de calor!), mostra-nos os quartos e convida-nos para a sala de estar. Fui avisado de que o seu estado de saúde não era muito bom, mas, apesar dos pedidos da família, nada a deteve de nos preparar uma refeição. À nossa espera uma sopa de legumes e pierogis, pastéis tradicionais muito populares na região.

E falamos - há sempre alguma coisa para dizer a alguém que conhecemos, mas não vemos durante dois anos

Aconchego de casa. Trocamos sorrisos e conversas, volta e meia uma tradução de polaco para inglês (ainda bem, não sei quase nada de polaco) e logo recebo a alcunha de "Franek", a versão polaca do nome Francisco. E a comida, meu Deus, tão simples, mas tão boa. Dziękuję!

Estafados pela viagem, não vamos muito longe. Fazemos as camas e saímos para um parque próximo dali. E falamos - há sempre alguma coisa para dizer a alguém que conhecemos, mas não vemos durante dois anos. Estes dias são passados numa área muito menos turística, mas ainda acessível. Perfeito para quem quer algo um pouco mais autêntico.

As saudades apertam em alturas como esta e os momentos bons são ainda melhores quando partilhados

E fica provada a importância de procurar contactos (família ou amigos) nos destinos do Interrail; não só porque se poupa dinheiro, mas sobretudo pelo apoio, pela sensação de segurança e pelo conforto (e aquele colo de avó). Com sorte, também vemos a cidade na perspectiva de quem a habita, que é bem diferente da turística. Se for o caso, é bom levar um presente para oferecer aos donos da casa. Em breve teremos flores para oferecer.

Devia dormir cedo, mas fico a falar com amigos de Portugal e dos Países Baixos. Depois de um dia a ouvir polaco (que adoro), o holandês começa a fazer mais sentido. As saudades apertam em alturas como esta e os momentos bons são ainda melhores quando partilhados. Agora é aproveitar para descansar.