[O Francisco tem 19 anos, estuda nos Países Baixos e está em viagem com um passe de Interrail que o vai levar por esta Europa fora e este é o seu diário de viagem publicado no SAPO24]
Dia 6 (14 de julho]: Dica #8 para futuros viajantes: "Don’t forget the sunscreen!" A minha mãe repete esta frase constantemente desde que ouviu um colega da minha antiga escola, a Oeiras Internacional School, dizê-la várias vezes com muito humor no seu discurso de formatura. Não, mãe, não apanhei um escaldão - e se não apanhei, foi mesmo por trazer o protetor solar comigo para onde quer que vá. E o sol de Budapeste não perdoa.
Acordamos cedo, já com o sol a matar. Nos quartos do hostel, no entanto, um frio desgraçado - pelo menos no meu, onde algum engraçadinho decidiu pôr o ar condicionado a 16ºC (e a bater diretamente na minha cama). Malucos. Preparo-me e deixo o quarto o mais rápido possível, até porque quero aproveitar o dia ao máximo. Amelia não tarda a juntar-se e saímos para a nossa primeira paragem, na rua do hostel, a livraria-café Massolit.
Vamos até ao edifício do Parlamento húngaro, tão elegante nas fotografias
Fico maravilhado. Livros usados, novos, finos, grossos, ficção, poesia, política e, acima de tudo, livros baratos. Mas os bolos também são incríveis. Como uma fatia de tarte com chocolate branco e groselha no ponto. E, claro, saio com dois livros: um sobre a história do século XX, outro com três peças de teatro contemporâneas húngaras. Tudo isto e um sumo fresco de maçã por pouco mais de quinze euros na moeda local, o forint húngaro (a Hungria está atualmente a preparar a adoção do euro). Se voltar a Budapeste, regresso à Massolit, que recomendo vivamente!
De pequeno-almoço tomado, estamos prontos para ver a cidade. Vamos até ao edifício do Parlamento húngaro, tão elegante nas fotografias. Pelo caminho, refrescamo-nos com um gelado e já a chegar sentamo-nos na relva de um pequeno parque em frente ao Parlamento, o único sítio com sombra. À nossa volta umas vinte pessoas, todas a arfar.
Entre fotografias e repouso, vou sabendo como estão os meus amigos, muitos a fazer as suas próprias viagens, de visitas à família a festanças de verão. Tenho preferido manter-me mais quieto em relação ao que vou fazendo - mas sempre dando a saber que estou bem e a divertir-me muito. Enquanto falo com alguns deles (a Amelia faz o mesmo em relação aos seus) sobre a tentativa de homicídio do Donald Trump, uma polícia manda toda a gente sair da relva do parque. Sem outra escolha, voltamos para a torreira do sol. Confesso que não gosto muito de Orbán, mas com esta ele foi longe demais. LONGE DEMAIS!
Encontramos a embaixada dos Estados Unidos quando ouvimos uma guia turística perto de nós falar da controvérsia do local da embaixada
Optamos por continuar a explorar a cidade, um pouco sem rumo. Por um momento, olhamos para a outra margem do rio para perceber que o tempo que temos é apertado. Decidimos que mais tarde podemos fazer uma excursão de barco pelo rio Danúbio e explorar assim um pouco de tudo.
Encontramos a embaixada dos Estados Unidos quando ouvimos uma guia turística perto de nós falar da controvérsia do local da embaixada. Ficamos um tanto confusos, até reparar na rotunda com um símbolo comunista, onde se lê algo como "Glória aos nossos heróis libertadores soviéticos". Ah, okay. Percebe-se, talvez o memorial dedicado ao Exército Vermelho não seja de bom gosto para os embaixadores dos EUA.
Não muito longe, uma basílica imponente que não vemos por dentro. Trata-se do maior edifício religioso da Hungria e uma pequena pesquisa diz-me que a construção da basílica de Santo Estêvão, estilo neoclássico, foi dedicada ao primeiro rei da Hungria, na segunda metade do século XIX.
Estamos sedentos e já sem água. Com sorte, um restaurante perto - "Platz", aqui ficam as indicações - deixa-nos reabastecer o depósito com água fresca e boa. Percebemos que é boa ideia voltar para a área do hostel para almoçar. Ainda pensamos em dar uma volta na roda gigante, mas por onze euros desistimos da ideia.
Já perto do hostel, que fica no sétimo distrito de Budapeste, damos com uma rua muito gira, a do Mercado de Szimpla, uma espécie de LX Factory. É a "feira dos agricultores" e acontece exatamente todos os domingos, o dia em que grande parte da cidade abranda em termos comerciais. Portanto, viemos em boa altura. No entanto, tal como na LX Factory, o projeto parece-nos super gentrificado e com preços um tanto escandalosos. Tenho pena, porque gostei do local. E foi aí, numa barraca que estava a angariar fundos para apoiar uma biblioteca, que comi um goulash, um dos guisados húngaros mais antigos. Fiquei muito satisfeito e sempre pude experimentar a cozinha autêntica da região.
As peças de arte têm o que se lhe diga, mas infelizmente não tenho espaço na mochila para um quadro
Ao lado do mercado, outro ponto imperdível: uma pequena galeria de arte, a Jancso Art Gallery, que convida os visitantes a ver (e comprar!) peças de arte de uma série de artistas independentes. É um espaço pequeno mas acolhedor; a artista presente pergunta imediatamente se quero um abraço. As peças de arte têm o que se lhe diga, mas infelizmente não tenho espaço na mochila para um quadro. O espaço também vende colares e ímanes feitos com base em algumas das pinturas expostas. Na rua, mais rulotes de comida, mas já tínhamos em mente outras coisas para comer.
Ainda mais perto do hostel, uma loja de lángos (pão ázimo) da "avozinha". Não vejo avó nenhuma, mas parecem apetitosos. Pedimos um com queijo, cebola e natas. E não nos arrependemos. Saímos de barriga cheia e prontos para descansar um pouco no hostel.
Uma sesta e é hora do passeio de barco. A oferta é variada e achamos graça a uma empresa em particular, "Legenda". Queremos ir nesse barco - a viagem é um pouco mais longa, tem uma bebida incluída e um aspeto muito mais profissional -, mas, aparentemente, não é possível fazer marcações para o dia. A reserva é feita online, ao contrário dos barcos ao lado. Sem alternativa, escolhemos um com preço semelhante (no outro teríamos desconto de estudante, neste o preço fixo é mais baixo) que parte dentro de cinco minutos.
A dada altura começamos a fazer de guia um para o outro, inventando factos extraordinários, mas possíveis, para edifícios e pontes
A viagem é gira, mas não recomendo esta empresa (de tal foram que me esqueci do nome). O guia é gravado e é necessário telefone para aceder à explicação. Tento, mas não funciona. Desistimos e a dada altura começamos a fazer de guia um para o outro, inventando factos extraordinários, mas possíveis, para edifícios e pontes. Entre bons risos e vistas belíssimas, a viagem de barco vale a pena.
Não há volta a dar, a noite tinha mesmo de acabar assim: a ver a final do Euro 2024. Vemos a final num parque pop-up - um conceito interessante de parque instantâneo, penso que dedicado a eventos desportivos de verão (do futebol aos Jogos Olímpicos). Está a abarrotar, num ambiente que, sobretudo na segunda parte do jogo, me enche de emoção. Diversos britânicos vagueavam tristonhos pela cidade na altura em que regressamos ao hostel e nos preparamos para a viagem de seis horas que nos espera amanhã.
Praga (República Checa), onde vamos estar três dias, é a estadia mais longa deste Interrail. Estou muito entusiasmado com o que se segue. E esta seria uma boa altura para deixar qualquer coisa lamechas em húngaro, mas, muito honestamente, não consegui apanhar uma palavra da língua. Talvez para a próxima.
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