Em ata, o júri, ao qual presidiu o jurista Guilherme d’Oliveira Martins, realçou a “escrita límpida e luminosa” que dá “uma cativante ‘estória’ de gente simultaneamente comum e singular”.
“A sobriedade estilística da autora, exemplar enquanto modo de entender a escrita artística, estrutura um romance cuja legibilidade chama o leitor a participar na própria narrativa que está a ler. Quer pela notável capacidade de observar e descrever, quer pela tranquila inventividade, quer pela admirável economia da narrativa”, salientou o júri.
Para o júri, “O Senhor d’Além” é “um romance que constitui um elogio à arte de bem escrever”.
“Assinalar a sua importância no quadro da literatura portuguesa atual é, por isso, a validação do seu intrínseco valor”, sustenta o júri.
Teresa Veiga, por seu turno, citada pela Estoril Sol, afirmou que quando começou a escrever “O Senhor d’Além” ainda “não tinha um plano definido”.
Porém, “já sabia que iria desenvolver-se à volta de dois pontos fundamentais: a descoberta por alguém de um lugar no Algarve que há muito conhecia e amava, e uma certa casa, entrevista da estrada, que por algum motivo despertara em mim uma ressonância particular”, afirmou.
“Poderia este livro chamar-se ‘A Casa das Palmeiras’ e também seria um título adequado. Afinal são a casa e o senhor d`Além que abrem o livro e determinam o seu desfecho”, disse Teresa Veiga.
“Fico, portanto, muito feliz por [o romance] ter sido distinguido com o prémio Fernando Namora, autor que comecei a ler nos anos 1970 e a que regresso às vezes por razões diversas, pois, sendo um grande escritor, a sua obra não só reflete a realidade portuguesa como é também um olhar atento sobre o mundo. Não poderia ficar em melhor companhia”, rematou Teresa Veiga.
Teresa Veiga nasceu e vive em Lisboa, sendo licenciada em Direito, em 1968, e em Filologia Românica, em 1980, pela Universidade de Lisboa.
De acordo com a biografia da escritora, que assina sob pseudónimo, exerceu as funções de conservadora do Registo Civil entre 1975 e 1983, no Alentejo e Algarve, e foi também professora.
No total a escritora, de 77 anos, já publicou nove livros, entre volumes de contos, novelas e romances. Teresa Veiga já recebeu por três vezes o Grande Prémio do Conto Camilo Castelo Branco, em 1992, 2008 e 2016.
Teresa Veiga é referenciada pela Estoril Sol como uma “autora misteriosa”, justificando: “Apesar dos prémios e da consagração da sua obra de qualidade, a escritora é reservada e avara a intervenções públicas e não costuma conceder entrevistas. Sabe-se, inclusive, que já esteve em lançamentos de livros seus, mas sem que o público soubesse de quem se tratava”.
O júri salientou ainda, outros romances concorrentes ao galardão que constituíram a lista de finalistas, designadamente as obras de José Luís Peixoto, “Almoço de Domingo”, de José Gardeazabal, “Quarentena Uma História de Amor”, de Hugo Gonçalves, “Deus Pátria Família”, de Djaimilia Pereira de Almeida, “Maremoto”, e de Amadeu Lopes Sabino, “Tempo de Fuga”.
Além de Guilherme d’Oliveira Martins, o júri desta 25.ª edição do Prémio Literário Fernando Namora/Estoril Sol foi constituído por José Manuel Mendes, pela Associação Portuguesa de Escritores, Manuel Frias Martins, pela Associação Portuguesa dos Críticos Literários, por Maria Carlos Gil Loureiro, pela Direção-Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas, por Ana Paula Laborinho, Liberto Cruz e José Carlos de Vasconcelos, convidados a título individual, e por Dinis de Abreu, pela Estoril Sol.
O romance “Felicidade”, de João Tordo, foi o vencedor no ano passado do Prémio Fernando Namora/Estoril Sol.
A data da entrega do galardão a Teresa Veiga não foi adiantada pela organização.
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