A encenação da peça é “um sonho de há muito” do encenador, admirador confesso de Shakespeare e, apesar de esse sonho datar do tempo em que estudou em Inglaterra, só agora concretiza, porque não é fácil levar Shakespeare ao palco, quando não se tem qualquer subsídio, como o próprio disse à agência Lusa.
“É uma peça muito festiva e muito onírica, e estou numa parte da vida em que os amigos estão todos a casar, de modo que estou a ficar meloso com o casamento”, mas disse aos atores para “esquecerem tudo sobre o que conheciam desta peça de Shakespeare”.
O que interessava a Luís Moreira realçar nesta comédia, era o problema do ciúme, humanizando ainda mais a obra, disse à Lusa.
“O que fiz, no fundo, não é mais do que está a acontecer no cinema. Veja-se o caso dos heróis da Marvel, que já são todos humanizados”, frisou.
Este texto de Shakespeare, a que o encenador assistiu no Globe Theatre, em Londres, serviu, contudo, de pretexto para Luís Moreira “humanizar [ainda] mais as personagens originais”, referiu.
“Até as personagens que têm capacidades sobre-humanas são ciumentas e também elas têm necessidade de se vingar”, acrescenta, citando o caso de Oberon e Titânia.
No fundo, é o que acontece quase diariamente nas nossas vidas, embora muitos de nós não gostemos de o admitir.
Para Luís Moreira, que admite ter uma paixão por Shakespeare, levar obras do dramaturgo e poeta inglês ao palco é também uma forma de “mostrar que Shakespeare não é só para intelectuais”.
Essa opção está ainda patente na cenografia, simples e despojada, por que o encenador optou, sendo de destacar uma cena em que as fadas da corte de Titânia e o elfo aparecem em palco, sob um chão quase repleto de invólucros de rebuçados vazios.
À semelhança do texto original de Shakespeare, também o figurino da peça remonta muito para a mitologia.
“Sonho de uma noite de verão” é ainda uma forma de Luís Moreira se “sublevar contra o que considera um escândalo, [uma situação] totalmente inconstitucional”, o facto de a Cultura em Portugal ter menos de um por cento do Orçamento do Estado, sublinhou.
“Não sei o que andam a fazer, andamos todos a dormir, porque menos de um por cento para a Cultura é absurdo, é ridículo e é inconstitucional”, sublinhou.
A peça que a companhia independente Espaço em Branco leva àquela sala na rua Luz Soriano, em Lisboa, tem interpretações de Alice Medeiros, Frederico Coutinho, Gonçalo Lello, João Silva, Jorge Costa, José Oliveira, Luís Barros, Luís Lobão, Luís Simões, Rita Loureiro, Rodrigo Cachucho, Sónia Lisboa, Teresa Tavares e Valter Teixeira.
Com 14 atores e 20 personagens em palco, a Espaço em Branco é, segundo Luís Moreira, a companhia não financiada com mais atores em atividade.
A peça, com tradução de Fernando Villas-Boas e figurinos de Maria Gonzaga, vai estar em cena de 10 a 28 de janeiro, de quarta-feira a sábado, às 21:30, e aos domingos, às 17:00.
Os preços dos bilhetes, de quinta-feira a domingo oscilam entre os 7,5 e os 15 euros - com o espetador a escolher qual o preço que quer pagar. As quartas-feiras são dias do público, com bilhetes a cinco euros.
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