Em resposta à Lusa, o partido, que tem assento na Assembleia Municipal do Porto, diz entender que "o município deverá abrir um inquérito interno para se apurarem os factos do sucedido", mas até lá, não pede a demissão do diretor daquela estrutura municipal, Tiago Guedes.

"Tendo em conta que Tiago Guedes nega as acusações que lhe são dirigidas, não consideramos que o mesmo se deva demitir neste momento. Apenas quando os factos forem conhecidos na totalidade, poderão ter consequências adequadas", afirmam em resposta à Lusa.

Caso se venham a confirmar as acusações de Regina Guimarães, "trata-se de um comportamento inaceitável de condicionamento da liberdade artística e de censura na arte que o PAN certamente repudia".

No dia 03 de fevereiro, a dramaturga Regina Guimarães acusou a direção do Teatro Municipal do Porto de censurar um texto da sua autoria, escrito para integrar a folha de sala do espetáculo “Turismo”, da Companhia A Turma, com texto original e encenação de Tiago Correia, que esteve em cena nos dias 31 de janeiro e 01 de fevereiro, no Teatro do Campo Alegre, no Porto.

Em causa está uma nota de rodapé onde a escritora critica a noção de “cidade líquida” de Paulo Cunha e Silva, antigo vereador da Câmara do Porto, que morreu em 2015.

Numa primeira reação, na madrugada do dia 04, Tiago Guedes, em declarações à Lusa, garantiu que o texto da dramaturga não tinha sido publicado com a concordância do encenador do espetáculo, e que o mesmo tinha-lhe até pedido desculpa.

Contudo, essas declarações foram desmentidas, no próprio dia, pelo encenador do espetáculo Tiago Correia, numa publicação na rede social Facebook, onde acusou o diretor do Teatro Municipal do Porto de "chantagem emocional, coação, ameaça e abuso de poder".

Dois dias depois, PS, PSD, CDU e Bloco de Esquerda, ouvidos pela Lusa, exigiram um esclarecimento cabal sobre o alegado ato de censura da Direção do Teatro Municipal do Porto, tendo os socialistas pedido para ouvir Tiago Guedes na reunião de câmara de segunda-feira para onde remetem a sua posição definitiva.

À data, também o vereador do PSD, Álvaro Almeida, adiantou que iria pedir esclarecimentos ao executivo, solicitando que o mesmo averigue se houve ou não censura.

A ter havido censura, apontou em declarações à Lusa, o PSD só pode ser crítico.

"A censura da liberdade criativa é algo que nós não podemos aceitar e, portanto, a ter havido censura não é admissível que alguém que pratique censura tenha uma função de diretor de um equipamento municipal. Tudo isto com a ressalva de eu ainda não ter evidencia suficiente que permita fazer esse juízo", declarou.

Também os eleitos da CDU do Porto informaram que vão também solicitar esclarecimentos na Assembleia e Câmara Municipal, e nessa sequência agirão em conformidade.

Segundo a CDU as declarações dos envolvidos indicam que ingerência do poder institucional na criação artística e no conteúdo dos espetáculos realizados nos equipamentos de gestão municipal "foi exercida, o que se trata de um inaceitável comportamento da Direção do Teatro Municipal, que é tanto mais grave se se confirmar qualquer articulação a nível da vereação e presidência".

Já o Bloco de Esquerda (BE), que tem apenas assento na Assembleia Municipal do Porto, condenou este alegado ato de censura que considera "intolerável" e ao qual os órgãos autárquicos da cidade não podem ficar indiferentes.

"Já na próxima segunda-feira há uma reunião da Câmara Municipal. O vereador da Cultura, que por acaso é o Presidente da Câmara, deve quebrar o silêncio em torno de algo que é gravíssimo e lamentável. Esperamos que pelo menos aí esclareça cabalmente a cidade sobre o que se passou. Tratou-se de um episódio, ou configura um padrão?", afirmaram à Lusa.

À data, a Lusa tentou obter uma reação do Movimento de Rui Moreira, Porto, o Nosso Movimento, e da própria Câmara do Porto, mas até ao momento sem sucesso.

Já depois da denúncia da dramaturga Regina Guimarães, foram tornados públicos pelos profissionais outros casos de alegada censura, nomeadamente pela Associação de Profissionais das Artes Cénicas - Plateia que não só repudiou o ato de censura ao texto de Regina Guimarães como apontou outros exemplos.