O criador Alexi Hawley, que conversou com jornalistas internacionais nos estúdios onde a série é gravada, disse que o mote da história protagonizada por Nathan Fillion é "esperar o inesperado" e que isso a torna interessante para os espectadores.

"The Rookie" tem registado as maiores subidas da televisão convencional nas audiências atrasadas, que contabilizam o número de espectadores que acederam ao episódio na semana seguinte à emissão original através de 'streaming'.

"As pessoas assistem porque tentamos imitar a realidade de ser um agente da polícia e nunca se sabe o que vai acontecer quando se responde a um incidente", afirmou Alexi Hawley, comentando que a inclusão de imagens da câmara corporal dos agentes contribui para esse conceito.

"Vivemos num mundo com tanto entretenimento com 'script' que a ideia de que há algo imprevisível é interessante", explicou, contrastando com a fórmula das séries processuais como "Castle", na qual trabalhou também ao lado de Nathan Fillion. "Começa com um 'teaser', acusa-se alguém, as audiências conhecem o padrão. O que tentamos fazer [aqui] é nunca saber quando algo excitante vai acontecer".

Por outro lado, disse, os escritores procuram "manter tudo fundamentado" e inspirar-se em cenários realistas, já que um dos argumentistas foi polícia durante 18 anos. "Se olharmos para as notícias, a realidade está mais louca do que alguma vez conseguiremos fazer em ficção", comentou.

Hawley, que criou a série depois de adquirir os direitos sobre a história verdadeira de um homem de 45 anos que se tornou no novato mais velho de LA, sublinhou também que "não havia uma série de patrulha há muito tempo" e que as pessoas mostraram ter interesse nisso.

"Há coisas sobre o que os polícias passam que são interessantes se conseguirmos dramatizar bem, desde a forma como gerem os seus carros até como prendem pessoas", afirmou. "Tentamos ter episódios que são baseados nisso, como o dia das roupas à paisana ou o dia de seguir pistas em casos por resolver".

A resposta da audiência, considerou Hawley, "está a correr muito bem". No sexto episódio da segunda temporada, transmitido na primeira semana de novembro, as audiências subiram 160% nos sete dias a seguir à emissão original, registando o maior crescimento de todas as séries nos canais tradicionais para aquela semana.

Hawley salientou a centralidade do personagem interpretado por Nathan Fillion, "o homem mais charmoso do planeta", e a capacidade de manter a atração dos espectadores. "Penso que a audiência considera o personagem acessível e convincente", disse.

O personagem, John Nolan, encarna os desafios de um novato com mais de 40 anos que mudou de vida depois do divórcio. "Ele não é um super-herói, quando tem medo, tem medo", disse Hawley. "Os polícias são é treinados para conseguirem funcionar mesmo quando têm medo".

A trabalhar de perto com o polícia da vida real no qual a série se inspirou, Hawley referiu que é importante mostrar as vidas pessoais dos agentes e como o trabalho as afeta.

"O interessante no Nolan é que ele está a começar de novo aos 45", disse, algo com que muita gente se identifica mesmo noutras idades. "Estas novas gerações encontram a reinvenção mais cedo", argumentou, considerando que já não aceitam a etiqueta da crise de meia idade.

"Reinventar-se tornou-se uma ideia mais universal do que era. Mesmo que a reinvenção do Nolan esteja ligada à sua idade, é algo que apela a muita gente", afirmou Hawley. "A ideia de que se não estou contente no caminho em que estou e quero fazer outra coisa é convincente".

A inspirar candidatos mais velhos à academia de polícia

E a série "The Rookie" está mesmo a inspirar uma onda de recrutas mais velhos, disse o protagonista Nathan Fillion.

O ator, que interpreta John Nolan na série da ABC, explicou que a academia está a receber candidatos a polícias para lá da idade convencional, durante uma conversa com jornalistas internacionais em LA.

"[São pessoas que] sempre quiseram ser polícias, receavam que fosse visto como crise de meia idade e agora perceberam que pode ser visto como a realização de um sonho", afirmou o ator. "As pessoas estão a ter inspiração e coragem para seguir algo que queriam fazer por causa da série".

Há apenas duas esquadras em Los Angeles onde os novatos ('rookies') podem ter mais de 37 anos, e é numa delas que a história decorre.

Popularizado pelo papel principal em "Castle", série que protagonizou durante oito anos, Fillion argumentou que o sucesso de "The Rookie" está ligado à humanização das personagens, que mostram um lado diferente da polícia.

"Quando vejo televisão, não me identifico com muita coisa no que toca ao perigo e à intensidade de ser um agente da polícia", referiu. "Mas consigo identificar-me com o falhanço, acontece-me muitas vezes, com o facto de as coisas nem sempre correrem como quero, não ter sorte, desafios, sofrimento, embaraço, ser ridicularizado", descreveu. "É isso que humaniza esta série, faz parte da vida. É uma profissão muito intensa mas estamos a interpretar polícias como eles são realmente, humanos".

O ator canadiano sublinhou que a identificação da audiência com as personagens reflete o esforço dos escritores.

"Nos anos oitenta, os heróis que nos vendiam eram enormes e musculados, fortes e preparados, conseguiam lidar com qualquer situação em que se encontrassem", lembrou. "Os heróis que vemos agora são pessoas normais, e isso é algo com que consigo identificar-me, porque sou um homem como qualquer outro".

Visivelmente mais atlético na segunda temporada de "The Rookie", que em Portugal passa no canal AXN, Fillion explicou que o facto de não aparecer em todas as cenas da série, ao contrário do que acontecia em "Castle", lhe permitiu um estilo de vida mais equilibrado e com tempo para exercício.

Revelou também que costuma ver os episódios quando passam na televisão, algo que não fazia na série anterior. "Ainda há episódios de 'Castle' que nunca vi", admitiu. "Estava lá 16 horas por dia, tinha visto o guião mil vezes, sabia como ia acabar, o meu tempo era muito curto para ver televisão".

Agora, disse que tem curiosidade em seguir o desfecho das linhas narrativas em que não participa. "Estou a divertir-me como fã da série, o que é uma experiência nova para mim", caracterizou.

Na nova temporada, John Nolan é confrontado com a saída inesperada da agente Talia Bishop, que o estava a treinar, há uma ex-namorada que reaparece e outras ligações ao passado que vão emergir, incluindo o pai que o abandonou em pequeno, contou Fillion.

Realçando a admiração pela intensidade da profissão, o ator descreveu Nolan como "o tipo de homem que faz as suas escolhas como se toda a gente o estivesse a ver o tempo todo".

É algo que faz parte do sentido aspiracional da série: "Tem a ver com quem somos. Quando fechamos os olhos à noite e estamos sozinhos com o silêncio. Consegue viver com essa pessoa?", perguntou. "É assim que tento viver a minha vida e é assim que o Nolan vive a dele".

Ainda sem saber se a ABC renovará "The Rookie" para mais uma temporada, Nathan Fillion reconheceu o bom momento que vive neste momento. "Não acontece sempre ter a oportunidade de ter uma segunda temporada, não me aconteceu muitas vezes, e é uma altura muito entusiasmante".

Disse ainda que "não sabia que estava preparado para voltar a fazer televisão" quando o 'showrunner' Alexi Hawley ligou com a proposta, mas "soube logo que com as pessoas envolvidas isto ia ser uma experiência fantástica".

Aos 48 anos, Fillion afirmou que continua a agradecer "às estrelas da sorte" quando é escolhido para um papel e não teve dúvidas de que conseguiria interpretar um polícia.

"Sinto que sou muito bom ator", considerou. "A minha expectativa e esperança é que qualquer novo papel e personagem que interpreto mostre às pessoas que tenho talentos diversificados, e o quão credível posso ser".

A saída inesperada de Afton Williamson

O elenco de "The Rookie", uma das séries mais diversas em Hollywood no pós-Me Too, foi "afetado" pela saída inesperada de Afton Williamson, disse à Lusa o 'showrunner' Alexi Hawley em Los Angeles.

A atriz que interpretava Talia Bishop, agente encarregada de treinar o protagonista John Nolan (Nathan Fillion), deixou a produção da ABC depois de se queixar de conduta sexual inapropriada do ator Demetrius Grosse, e de racismo da cabeleireira responsável Sally Nicole Ciganovich.

"[A saída da Afton] afetou a série e afetou-nos a nós", afirmou Alexi Hawley. "Não há muito que eu possa dizer que seja produtivo além da investigação exaustiva que foi feita e os seus resultados", afirmou, referindo-se à inquirição da produtora eOne sobre o sucedido, e que acabou por ilibar Demetrius Grosse.

Após a conclusão dessa investigação, conduzida por uma sociedade de advogados, Afton Williamson lamentou o resultado e disse que a indústria teria de fazer mais no futuro para proteger os atores de assédio e discriminação.

A polémica aconteceu depois de "The Rookie" ter sido elogiada pela diversidade étnica e de género do elenco e da equipa técnica, na primeira temporada, em que metade dos argumentistas eram mulheres. A equipa de edição foi exclusivamente feminina e houve oito produtoras nos primeiros 13 episódios.

"Obviamente foi algo inesperado e tivemos de fazer ajustamentos à forma como estávamos a contar a história", disse o 'showrunner' Alexi Hawley. Afton saiu no verão e obrigou os escritores a afastarem a sua personagem, algo que o protagonista Nathan Fillion considerou ter sido feito corretamente.

"Tivemos sorte porque havia uma linha narrativa que tinha sido introduzida e que permitiu que a personagem Talia Bishop saísse de forma credível", disse o ator, em conversa no estúdio onde decorrem as gravações. "Não tivemos que inventar uma saída, foi parte natural do processo de uma história que tínhamos introduzido".

Nos primeiros episódios da segunda temporada, John Nolan não sabe quem irá substituir a agente que o treina, e essa resposta chega no quarto episódio com a introdução de Nyla Harper, interpretada por Mekia Cox.

"Acabou por nos dar uma oportunidade de nos debruçarmos sobre uma narrativa diferente", explicou Alexi Hawley, "e desenhar uma personagem que foi mesmo feita para esta temporada". Segundo ele, Harper é "alguém que está a passar por uma jornada que tem impacto na sua relação com o Nolan, e de certa forma pode ajudá-lo a brilhar".

No entanto, Harper é uma agente muito diferente de Bishop, com pouca vontade de treinar o novato de 45 anos, algo que Nathan Fillion considerou interessante.

"O que gosto na jornada do Nolan é que está cheia de desafios. Ele não entra nesta nova carreira a pensar que como tem toda aquela experiência de vida isto será fácil", afirmou. "A Harper será o seu desafio número um nesta temporada".

A escrita da nova personagem baseia-se na realidade do ex-polícia que trabalha na série como escritor e que teve algumas missões sob disfarce, adiantou Alexi Hawley. "São coisas duras", disse. "Quando se está em missão mente-se o tempo todo. Conseguir ir para casa ao fim de semana e imaginar ser uma pessoa normal é irreal".

A segunda temporada de "The Rookie" é transmitida no AXN Portugal à quarta-feira à noite.

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