"Nunca um país anfitrião tinha impedido um artista de atuar no Festival Eurovisão da Canção e a EBU não pretende abrir um precedente em 2017". Escreveu Ingrid Deltenre, diretora da União Europeia de Radiodifusão (EBU, na sigla em inglês), numa carta citada pela BBC. No mesmo documento, Deltenre alerta para o facto de a emissora pública ucraniana UAPBC poder “ser excluída de eventos futuros” se a Ucrânia insistir em impedir a entrada de Samoilova no país.
O serviço de informação ucraniano (SBU) proibiu a entrada de Ioulia Samoilova na Ucrânia por três anos, acusando-a de ter realizado um concerto em junho de 2015 na Crimeia, cerca de um ano após a anexação da península ucraniana pela Rússia. Na sequência da proibição, a Rússia apelou a Kiev que reconsiderasse a sua decisão.
Deltenre, em representação da EBU, diz sentir-se “frustrada” e “furiosa” pelo facto da competição deste ano estar a ser usada como um “instrumento de confronto” entre a Rússia e a Ucrânia. A diretora-geral dirigiu-se ainda ao primeiro-ministro ucraniano, Volodymyr Groysman, referindo-se que a proibição da participação terá "um profundo impacto negativo na reputação internacional [da Ucrânia] enquanto nação europeia moderna e democrática".
Ioulia Samoilova foi selecionada no dia 12 de março e iria interpretar na Ucrânia uma balada romântica intitulada “Uma Chama Queima” ("Flame Is Burning", em inglês). A cantora de 27 anos sofre da doença de Werdnig-Hoffmann, um tipo de atrofia muscular espinhal, que a obriga a movimentar-se em cadeira de rodas desde criança.
O Festival Eurovisão da Canção é regularmente abalado por tensões políticas. Recorde-se que em 2016 a Rússia protestou pela vitória da Ucrânia. Jamala, a cantora ucraniana, levou à competição “1944” um tema que cantava a opressão russa sobre os Tártaros da Crimeia por Joseph Estaline, amplamente interpretado como uma crítica à anexação da península. O país dos czares tentou, sem êxito, que a canção fosse excluída. O tema, acusado de ser político e não artístico, violava as regras no entender dos russos. Ao receber o prémio, Jamala, que sempre defendeu que a música era sobre a história dos seus avós, pediu “paz e amor”.
A Rússia e a Ucrânia estão em conflito desde a anexação da Crimeia, em 2014, seguido por um conflito armado no leste da Ucrânia entre Kiev e as forças separatistas pró-russas que já provocou mais de 10.000 mortos.
Salvador Sobral representará Portugal, com a canção "Amar pelos Dois", na primeira meia-final do Festival da Eurovisão, no dia 9 de maio. A segunda semifinal está agendada para 11 de maio e a final decorre no dia 13 do mesmo mês em Kiev, na Ucrânia.
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