John Berger foi um escritor, poeta, romancista, crítico de arte, ensaísta, dramaturgo, guionista e crítico de arte, que começou por ser pintor, mas que acabou por se virar para a escrita, não porque duvidasse do seu talento como pintor, mas por sentir que a situação política em que vivia na altura (Guerra Fria) o impelia a escrever.
Morreu em janeiro de 2017, em Paris, França, aos 90 anos, deixando uma vasta obra publicada, de várias dezenas de romances, ensaios, artigos na imprensa, poesias, guiões de cinema – escritas com o realizador suíço Alain Tanner —, peças de teatro e algumas pinturas, atualmente expostas nas galerias Wildenstein, Redfern e Leicester, em Londres.
O autor ensinou desenho na Universidade de St Mary's, em Londres, e tornou-se crítico de arte, tendo publicado vários ensaios sobre o tema.
É o caso de “Modos de ver” (“Ways of seeing”, 1972), um dos poucos livros publicados em Portugal e que se encontra esgotado, que a Antígona vai incluir no seu catálogo a partir de setembro.
Trata-se de um ensaio introdutório em crítica de arte, escrito como acompanhamento de uma série homónima da BBC, considerada a obra mais famosa de John Berger – a par com o romance “G”, vencedor do Man Booker Prize em 1972 – e um dos livros mais influentes na história da arte do século XX, que agora chegará às livrarias portuguesas com nova tradução, de Jorge Leandro Rosa.
Entre os vários textos de Berger sobre arte, inclui-se um que escreveu em 2000, intitulado “Encontros em Lisboa”, que descreve um passeio que fez, com a filha Katya Berger Andreadakis, dissecando as ruas, os lugares, as tradições e as pessoas e enquadrando-as na pintura, especificamente, nos painéis de São Vicente, pintados por Nuno Gonçalves.
Nos vários rostos com que se cruzou, reconheceu os lisboetas de há 500 anos, colocando cada um deles sobre cada uma das figuras presentes nos seis painéis, como um imenso puzzle humano, tendo a cidade de Lisboa como pano de fundo.
A sua obra não se esgota na pintura e na crítica de arte, sendo vastos os textos que escreveu sobre os mais variados temas, como é o caso de “Confabulações” (“Confabulations”), um livro de ensaios, escrito em 2016, e um dos últimos trabalhos de John Berger, nunca antes publicado em Portugal, que a Relógio d’Água edita neste mês.
Esta publicação sucede-se ao romance “Para o casamento” (“To the wedding”, 1995), publicado pela mesma editora em março deste ano, que também nunca tinha estado disponível em Portugal.
É a história do casamento entre um vendedor e a sua noiva, contada através de uma série de episódios intensos e reveladores, que avançam de forma cinematográfica, passando da perspetiva de uma personagem para a de outra.
Neste romance, a protagonista é uma jovem seropositiva, que descobre estar infetada - fruto de um fugaz relacionamento passado - quando está a viver uma história de amor com um homem que, não obstante a condição de saúde da noiva, insiste em casar com ela, sabendo que essa união está condenada a durar pouco e a terminar com a sua morte.
A Antígona prossegue com a publicação de obras de John Berger, lançando, em setembro, “Entretanto” (“Meanwhile”, 2008), um breve ensaio, poético, sobre o mundo contemporâneo e uma denúncia da forma como o poder transforma o planeta numa prisão, segundo descreve a editora.
Igualmente inédito em Portugal, “Entretanto” era “um dos ensaios favoritos do autor”, cuja versão portuguesa é traduzida por Júlio Henriques, acrescenta.
No mês seguinte, a Antígona edita “Um sétimo homem” (“A seventh man”), outro livro de Berger a chegar pela primeira vez a Portugal, com fotografias Jean Mohr e tradução de Jorge Leandro Rosa.
John Berger disse em tempos que certos livros, ao contrário dos seus autores, rejuvenescem à medida que o tempo passa, situação que, segundo a Antígona, se aplica a “Um sétimo homem”.
Publicado em 1975, este relato foi um dos primeiros estudos sobre a vida e as experiências dos trabalhadores imigrantes nos países ocidentais, no pós-Segunda Guerra Mundial.
Financiada com parte do que lhe rendeu o Booker Prize (o autor terá dado a outra metade do prémio ao partido dos Panteras Negras), esta “é uma obra seminal cada vez mais relevante e uma incisiva resposta ao ressurgimento da retórica anti-imigração”.
Na escolha dos temas sobre os quais escrevia, John Berger evidenciou o seu compromisso com a escrita como forma de luta política, a mesma razão que o desviou da pintura para as letras, e embora nos últimos anos se tenha afastado de antigas posições políticas, num dos seus últimos artigos terminou afirmando: “Sim, entre muitas outras coisas, continuo a ser marxista”.
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