Num artigo intitulado “Um mistério de 1.000 anos desvendado”, publicado hoje na Science Advances, investigadores do Laboratório associado para a Química Verde, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, em conjunto com académicos das universidades de Aveiro, Lisboa e Porto, explicam que o que distinguia a planta – de nome ‘Chrozophora tinctoria’ – de outras fontes naturais medievais para tingir ou produzir tintas “era que, até agora, a estrutura da cor azul permanecia desconhecida”.
“Para abordar este mistério, o nosso grupo interdisciplinar reuniu uma equipa de químicos com experiência na identificação de produtos naturais: cientistas de conservação, a trabalhar na reprodução de cores medievais, e uma bióloga com grande conhecimento botânico da flora portuguesa”, pode ler-se no artigo, que realça que este esforço multidisciplinar foi fundamental.
Seguindo instruções medievais, os investigadores recolheram amostras do fruto da planta, que é nativa da região mediterrânica e das regiões central e sudoeste da Ásia, na aldeia da Granja, no concelho alentejano de Mourão, de onde foi extraído “um corante azul como principal cromóforo”.
O cromóforo, molécula responsável pela cor, foi então “isolado, purificado e caracterizado através de uma metodologia multianalítica”, recebendo o nome de ‘chrozophoridina’.
“Agora, após a determinação da estrutura, conclui-se que não é nem uma antocianina, encontrado em muitas flores e frutas azuis, nem índigo, o corante azul natural mais estável, mas sim uma nova classe por si só”, afirmou, citada em comunicado, a líder do estudo, Maria João Melo.
Para os autores da investigação, que indicam ainda ter trabalho pela frente na análise da planta, “este é um pedaço de conhecimento indispensável para a preservação do património cultural europeu, em obras de arte como iluminuras de manuscritos medievais onde este corante possa ter sido usado”.
“Em resumo, esta estrutura molecular é chave para identificar [o corante] ‘folium’ em obras de arte e estudar as propriedades estruturais, eletrónicas e reativas deste corante complexo. Isto vai abrir caminho para a avaliação de condições de conservação e determinar e planear as melhor estratégias de preservação”, escrevem os autores.
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