A peça aborda os bastidores políticos que levaram à Magna Carta, promulgada pelo rei João Sem Terra, de Inglaterra, e que é um dos pilares constitucionais deste país.
Trata-se de "uma bela paródia dos bastidores do poder, regidos pelo único valor, o do proveito próprio", disse António Pires à agência Lusa.
"Uma peça pouco habitual" de Shakespeare, autor regularmente levado à cena com outras peças como "Romeu e Julieta" ou "Como Queiram".
A peça "Rei João", nunca antes encenada em Portugal, está em cartaz nas ruínas do Convento do Carmo, em Lisboa, até 15 de agosto, sempre às 21:30, com um elenco composto por Alexandra Sargento, Carolina Campanela, Maria João Freitas, Sofia Marques, Dinarte Branco, Duarte Guimarães, Francisco Tavares, Gonçalo Norton, João Barbosa, Luís Lima Barreto, Mário Sousa e Rafael Fonseca.
Em declarações à agência Lusa, o encenador afirmou que colocar a peça em cena, após meses de confinamento, "é uma alegria e um desafio".
"Neste momento, é importante que os artistas vão para cena", afirmou António Pires.
Sobre a peça, Pires afirmou que "é muito legível aos dias de hoje, tem muita atualidade"
João, rei de Inglaterra, senhor da Irlanda e duque da Aquitânia, "é um monarca que se move pelo interesse próprio, sem honra, que muda de opinião facilmente".
"Situação muito comum a alguns dos nossos políticos de hoje", referiu António Pires que citou a personagem do "bastardo", criada por Shakespeare e desempenhada por Francisco Tavares, que a dado passo na peça afirma que "o proveito próprio é o que faz girar o mundo".
João, filho de Leonor de Aquitânia e do rei Ricardo I, de Inglaterra, viveu entre 1199 e 1216, a sua governação volátil levou à redação da Magna Carta, documento que estabelece um equilíbrio entre os limites de governação do monarca e as liberdades da aristocracia e da Igreja e os garante.
Shakespeare não refere explicitamente a Magna Carta, mas os movimentos políticos e sociais nos seus bastidores.
O espaço cénico, concebido por Alberto Oliveira, é uma escadaria, "simbolizando a subida ao poder", no centro das ruínas do convento, a céu aberto, e onde acontece a ação dramática, "ficando o público em baixo".
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