Apresentados dentro de duas caixas de madeira com uma frente perfurada, é possível vislumbrar as lombadas dos 30 livros escolhidos, em versões fac-similadas, estando uma das caixas fechada e outra aberta, onde a partir de uma cinta impressa nas obras censuradas os jovens poderão ter acesso a um ‘QR Code’ (um código que é lido pelo telemóvel), que os leva a um excerto da obra proibida ou ao próprio despacho do censor, em textos lidos por atores e atrizes de Coimbra.

A exposição itinerante, concebida pela BGUC, integra as programações oficiais dos 50 anos do 25 de Abril da Universidade de Coimbra e da Comissão Comemorativa 50 Anos 25 de Abril, estando presentes livros como “Quando os lobos uivam”, de Aquilino Ribeiro, a “Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica”, organizada por Natália Correia, ou o “Quarto Dia”, de Miguel Torga.

Se a maioria das obras escolhidas foram proibidas ou censuradas, há também um caso distinto, o de “Dinossauro Excelentíssimo”, de José Cardoso Pires, que saiu em 1972.

O curador da exposição e diretor adjunto da BGUC, Maia Amaral, contou, na apresentação da iniciativa, que um deputado ultraconservador, num debate na Assembleia Nacional, usou o exemplo de ter saído “um livro ignóbil chamado ‘Dinossauro Excelentíssimo’” como exemplo da liberdade que se vivia no país.

Por ter sido usado como um exemplo da liberdade do regime, a censura ficou sem capacidade de atuar e o livro teria seis edições entre 1972 e 1973, notou o curador.

A exposição itinerante começa esta semana em escolas do concelho de Coimbra, havendo prioridade para escolas secundárias.

A exposição estará disponível mês e meio em cada escola, devendo circular nos concelhos da Região de Coimbra, mas poderá alargar-se a outros territórios.

Para Maia Amaral, o objetivo na construção da exposição foi torná-la o “mais versátil possível”, permitindo adaptar-se “às estruturas das escolas”.

A iniciativa conta ainda com um ‘site’ dedicado, onde os alunos e professores poderão encontrar mais informação sobre cada uma das 30 obras escolhidas.

“Parece-me que é muito importante o conhecimento da nossa história e da história da leitura, e da leitura que a censura fez dos nossos livros. De certo modo, podemos pensar neste projeto como um projeto para educar os jovens da sociedade na história da censura, e na história da leitura que os censores fizeram dos livros”, salientou o diretor da BGUC, Manuel Portela, durante a conferência de imprensa.

Para o coordenador do Plano Nacional das Artes, Paulo Pires do Vale, as caixas, desenhadas pelo Atelier do Corvo, “são objetos transcendentes”, com o não acesso, no caso de uma das caixas, a “aumentar ainda mais o desejo de lhes tocar”.

“Pensar sobre os livros proibidos é pensar nesse tempo e na forma como nos devemos proteger desse tempo”, frisou.

Segundo o vice-reitor da Universidade de Coimbra Delfim Leão, o projeto procura “chamar a atenção para os ganhos dessa liberdade, mas também para os riscos de quando se acha que a liberdade está garantida”.