O professor e ensaísta Vítor Manuel de Aguiar e Silva é o vencedor do Prémio Camões 2020, anunciado hoje pela ministra da Cultura, após reunião do júri.
Aos 81 anos, Vítor Manuel de Aguiar e Silva foi escolhido pelo júri em reconhecimento pela “importância transversal da sua obra ensaística, e o seu papel activo relativamente às questões da política da língua portuguesa e ao cânone das literaturas de língua portuguesa”, lê-se no comunicado divulgado no seguimento da reunião do júri da 32.ª edição do Prémio Camões, que decorreu hoje em Lisboa.
“No âmbito da teoria literária, a sua obra reconfigurou a fisionomia dos estudos literários em todos os países de língua portuguesa. Objecto de sucessivas reformulações, a Teoria da Literatura constitui-se como exemplo emblemático de um pensamento sistematizador que continuamente se revisita. Releve-se igualmente o importante contributo dos seus estudos sobre Camões”, acrescentou o júri sobre a vasta bibliografia do autor da qual se destacam as publicações A Estrutura do Romance (1974), Teoria e Metodologia Literárias (1990) ou Camões: Labirintos e Fascínios (1994).
A ministra da Cultura destaca, por sua vez, as “qualidades intelectuais e académicas, mas também pelo perfil humanista com que marcou de um modo decisivo gerações de alunos, um pouco por todos os lugares onde ensinou, bem como leitores”.
"A sua obra revela o seu apurado sentido crítico e o sempre renovado olhar de leitor", acrescentou Graça Fonseca.
Vítor Manuel de Aguiar e Silva, ensaísta e professor universitário, nasceu em Penalva do Castelo, em 1939.
Na Universidade de Coimbra, obteve todos os seus graus e títulos académicos e foi professor catedrático da Faculdade de Letras até 1989, ano em que pediu transferência para a Universidade do Minho.
Nesta Universidade, foi professor catedrático do Instituto de Letras e Ciências Humanas, fundou e dirigiu o Centro de Estudos Humanísticos e a revista Diacrítica. Desempenhou também as funções de vice-reitor, de junho de 1990 a julho de 2002, altura em que se aposentou.
Vítor Aguiar e Silva tem-se dedicado especialmente ao estudo da Teoria da Literatura - domínio em que a relevância do seu ensino e da sua investigação é nacional e internacionalmente reconhecida -, e da Literatura Portuguesa do Maneirismo, do Barroco e do Modernismo.
A sua atividade de investigador tem-se centrado sobretudo nos estudos camonianos.
Em 2015 afirmou que "é importante para o futuro da língua portuguesa, que é transnacional e transcultural, partilhada por vários países, estabelecer um cânone literário que possa disciplinar, na medida do desejável, a norma da língua. Criar uma solidariedade entre a língua que se fala e que se escreve nos diversos espaços geográficos e antropológicos".
No seu mais recente livro, "Colheita de Inverno", publicado no passado mês de julho, reúne ensaios que procuram "conhecer e explicar as formas e os sentidos que, desde há quase trinta séculos, constituem a literatura (...), memória do Ocidente e voz insubstituível da liberdade, dos sonhos e das misérias do homem", atravessando uma multidão de autores, das mais diferentes origens, dos clássicos aos contemporâneos, portugueses e estrangeiros, entre os quais Camões, sempre presente no seu percurso.
Em novembro de 2014, foi um dos subscritores de uma ação judicial popular contra a aplicação do Acordo Ortográfico de 1990, no ensino, apresentada no Supremo Tribunal Administrativo, assim como de um requerimento para o Ministério Público intentar uma ação judicial , no mesmo sentido.
Foi também um dos mais de cem mil subscritores da petição "Em Defesa da Língua Portuguesa contra o Novo Acordo Ortográfico", que chegou a ser discutida no parlamento, em 2009.
O ensaísta tem recebido vários prémios, entre os quais o Prémio Vergílio Ferreira de 2002, atribuído pela Universidade de Évora, o Prémio Vida Literária, em 2007, instituído pela Associação Portuguesa de Escritores e pela Caixa Geral de Depósitos, e o Prémio Vasco Graça Moura de Cidadania Cultural, em 2018.
O Prémio Camões de literatura em língua portuguesa foi instituído por Portugal e pelo Brasil em 1988, com o objetivo de distinguir um autor "cuja obra contribua para a projeção e reconhecimento do património literário e cultural da língua comum".
Foi atribuído pela primeira vez, em 1989, ao escritor Miguel Torga. Em 2019 o prémio distinguiu o músico e escritor brasileiro Chico Buarque, autor de "Leite Derramado" e "Budapeste", entre outras obras.
Segundo o texto do protocolo constituinte, assinado em Brasília, em 22 de junho de 1988, e publicado em novembro do mesmo ano, o prémio consagra anualmente “um autor de língua portuguesa que, pelo valor intrínseco da sua obra, tenha contribuído para o enriquecimento do património literário e cultural da língua comum”.
Portugal e Brasil lideram a lista de distinguidos com o Prémio Camões, com 13 premiados cada, seguindo-se Moçambique e Cabo Verde, cada um com dois laureados, mais um autor angolano e outro lusoangolano.
A história do galardão conta apenas com uma recusa, exatamente a do lusoangolano Luandino Vieira, em 2006.
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