Equipados com enxadas, forquilhas, ancinhos e vassouras, dez voluntários “meteram mãos à obra” para tirar arbustos e ervas secas que crescem durante o inverno em redor das ruínas romanas da Ilha do Pessegueiro, localizada próximo de Porto Covo, no concelho de Sines (Setúbal), integrada no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e da Costa Vicentina.

Apesar de o trabalho ser “um pouco duro”, António Silva, de 38 anos, ofereceu-se pela terceira vez para participar na limpeza da Ilha do Pessegueiro.

“Se a gente não vier limpar, vai chegar uma altura em que não se consegue ver o que está aqui”, disse em declarações à agência Lusa o voluntário, talhante de profissão, que reside no concelho vizinho de Santiago do Cacém, enquanto apontava para os vestígios das paredes da fábrica de salga construída na época romana.

Susana Coelho, uma engenheira química de 41 anos, voluntariou-se pela segunda vez para “ajudar” na “preservação do território” e gostava de ver mais pessoas envolvidas, afirmou, sorrindo, enquanto se preparava para voltar a levantar a enxada.

Embora alguns voluntários sejam “repetentes”, outros pisaram hoje pela primeira vez a ilha, “eternizada” na canção de Carlos Tê, a que Rui Veloso dá voz.

É o caso de Eric Montgomery, norte-americano, de 58 anos, a residir no concelho de Odemira “há 30 anos” e que aproveitou a ocasião para conhecer o local, bem como de César Dias, técnico de laboratório reformado, de Santiago do Cacém, que resolveu aos 69 anos visitar a ilha, depois de ter passado vários verões a apreciá-la de longe.

créditos: Tiago Canhoto | Agência Lusa

A conversa animada entre os voluntários flui, ao mesmo tempo que trabalham. Enquanto uns tiram do chão as ervas secas com a ajuda de enxadas, outros afastam e amontoam a vegetação arrancada e outros ainda varrem a terra e o pó acumulado nas estruturas históricas.

Depois de passarem os meses mais frios do ano a “desaparecer” entre vegetação que vai crescendo, os tanques, armazéns, sauna e hipocausto, da fábrica de salga da época romana que fazem parte destes vestígios arqueológicos, ganham nova visibilidade em poucas horas de trabalho dos voluntários.

Para Joaquim Matias, antigo pescador “convertido” em guia turístico que leva visitantes à Ilha do Pessegueiro desde 1999, a ajuda tem sido “essencial” para a manutenção do espaço, contribuindo para que fique “mais apresentável” para a época de visitação, durante o verão.

Há nove anos que a limpeza do património histórico da ilha é assegurada por voluntários, uma iniciativa promovida por Joaquim Matias e pela empresa de arqueologia Smile@culture, criada pelo arqueólogo Rui Fragoso, que estudou as ruínas romanas do local no âmbito de um trabalho de mestrado, em 2008.

“As estruturas estavam [na altura] pouco visíveis e precisavam de limpeza para o senhor Matias fazer visitas guiadas com outra qualidade e para as pessoas realmente perceberem as estruturas que aqui estão”, disse, recordando como nasceu a ideia.

Por: Ângela Nobre (Texto) e Tiago Canhoto (Foto) / Agência Lusa