No ritmo apressado de Nova Iorque, o memorial do 11 de Setembro é um sítio calmo, de passo lento e de reflexão. O som das quedas de água torna o ambiente mais pesado e introspetivo, onde muitos visitantes lembram as suas próprias experiências de vida e momentos em que sentiram os seus valores ameaçados.

A tristeza pelo número excessivo de vidas acabadas é um sentimento que pesa sobre todos os que passam pelo parque do memorial.

“É muito triste saber que muitas pessoas perderam a vida só porque, por acaso, estavam aqui, e só por serem americanos. Coisas assim não deviam acontecer em lado nenhum do mundo”, sublinhou Anna Mel, à agência Lusa.

Duas piscinas, em buracos de nove metros de profundidade abaixo do solo, foram construídas no lugar das duas Torres Gémeas, que só terminavam a 415 metros acima do solo e que foram destruídas no atentado terrorista.

Dentro das piscinas existem as maiores cascatas artificiais do país, que ostentam painéis com o nome de 2.977 pessoas mortas nos ataques terroristas perpetrados nos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001.

Para Anna Mel, que vive em Nova Iorque e trouxe quatro crianças ao memorial, mais do que o aspeto, o que importa é o que se está a representar, que, na sua interpretação, são as “vidas perdidas e a importância da liberdade”.

“Estava a ler alguns dos nomes e a imaginar que tipo de vida teriam tido e nas famílias. É, na verdade, um sítio muito triste de estar”, partilhou.

Por outro lado, acrescentou a emigrante da Albânia, o memorial é o sítio certo para “apreciar a liberdade”, que “não se pode tomar por garantida”.

Nascida e crescida na Albânia, Anna Mel disse que o regime comunista perseguiu e executou vários membros da sua família. “Eu mesma experienciei um certo nível de perseguição por não ser parte de uma certa ideologia”, acrescentou.

“Sei que [o 11 de Setembro] não tem nada a ver com comunismo, mas tem muito a ver com liberdade. Valorizamos de verdade que este seja um país de liberdade e esperamos que assim continue”, declarou a mãe das quatro crianças que aproveitam o passeio pelo Memorial para brincar e se divertir.

Mary Reid, de 82 anos, mãe de uma paramédica do departamento de bombeiros de outra cidade, expressou à Lusa a sua pena e tristeza pelas pessoas que morreram no atentado: “Rezamos pelas pessoas que perdemos, pelos pais que não mais existem e pelas crianças que ficaram órfãs”.

Lara Moffat, que vive em Dallas, no Texas, admitiu estar um pouco desiludida com a sua primeira visita ao “Ground Zero” em Nova Iorque, por não ter sentido nenhum rasgo de “inspiração”.

Arquiteta paisagista de profissão, Lara Moffat pensava que a experiência seria semelhante à primeira vez que viajou à cidade de Washington e viu o memorial dedicado ao 11 de Setembro, mas em Nova Iorque a sensação ficou perdida na grande “escala” e dimensão que se deu ao monumento.

Ainda assim, afirmou que se trata de um “espaço lindamente desenhado e bem executado” e que a faz pensar no dia fatídico, 11 de setembro de 2001, em que “não podia acreditar” no que estava a ser divulgado na televisão.

“É como se o mundo tivesse parado naquele dia. Eu vivia perto de um aeroporto e não havia aviões, ninguém tinha a certeza do que ia acontecer”, revelou Lara Moffat à Lusa.

“Íamos para a guerra?” – esta era uma das interrogações que estava na mente dos norte-americanos naquele dia, lembrou ainda Lara Moffat.

Passadas duas décadas, é impossível falar do “Ground Zero” sem se fazer uma correlação com a guerra lançada pelos EUA contra a organização terrorista Al-Qaida, que tinha base no Afeganistão.

Uma das opiniões mais apoiadas é a de que os EUA passaram demasiados anos a lutar sem sentido no Afeganistão antes da retirada das forças militares norte-americanas do país, no final de agosto por decisão do atual Presidente, Joe Biden.

A retirada das tropas pôs fim a uma guerra de 20 anos desencadeada pela intervenção de uma coligação internacional liderada pelos Estados Unidos para expulsar os talibãs no poder, na sequência dos ataques de 11 de Setembro em solo norte-americano.

Lara Moffat considerou que os Estados Unidos não tiveram uma boa saída da situação.

“Não sinto que tenhamos feito muito progresso. Da perspetiva dos direitos humanos, acho que se gastou demasiado dinheiro para lutar numa guerra para a qual não houve boa solução e tenho muita pena das mulheres no Afeganistão”, concluiu.

Museu de Nova Iorque quer garantir que gerações mais novas não esquecem tragédia

O Museu do 11 de Setembro em Nova Iorque, maior instituição dedicada à memória dos atentados terroristas de 2001, tem como principal foco para o 20.º aniversário garantir que as gerações mais novas lembram a tragédia.

Segundo o vice-presidente executivo do Museu do 11 de Setembro, data conhecida como 9/11 nos Estados Unidos, Clifford Chanin, chegou-se a uma “conclusão chocante” de que “toda uma geração à face da Terra não tem memória dos ataques”.

Em conferência virtual dada para a imprensa internacional, sublinhou que nasceram nos Estados Unidos 75 milhões de crianças desde 11 de setembro de 2001 e que não viveram durante um dos períodos mais difíceis para a cidade de Nova Iorque.

O subdiretor da programação declarou que muitas atividades foram “reorientadas para pensar no que a nova geração precisa e como comunicar o evento e o impacto”.

Todas as pessoas da geração que se seguiu ao 11 de setembro “são as herdeiras do mundo que foi construído antes” e não há sombra de dúvidas sobre a “contínua relevância dos ataques” nos dias de hoje, disse o responsável.

O vigésimo aniversário dos atentados terroristas, que mataram 2.977 pessoas nos Estados Unidos, para além dos 19 terroristas responsáveis, ocorre também num outro período “inimaginável”, a pandemia de covid-19, acrescentou Clifford Chanin.

A pandemia de covid-19 obrigou ao ‘layoff’ de metade dos funcionários do 9/11 Museum e a uma drástica redução do orçamento do monumento.

O vice-presidente destacou a iniciativa de angariação de fundos “Never Forget Fund” (neverfoget.org), para financiar novos programas de educação e formação do museu a oferecer aos mais jovens, alunos e professores.

Destas atividades educativas destacam-se ‘webinars’ interativos, documentários com sobreviventes e autoridades, ‘workshops’, ações de formação, e visitas virtuais ao museu, atividades para que existe atualmente uma “necessidade e procura enorme”, especialmente dos professores para abordar o tema do terrorismo com os mais novos.

O programa virtual de aniversário do 11 de Setembro nas escolas, com um documentário de 30 minutos, tem visto um grande aumento de participantes todos os anos, provenientes de vários países, não só dos Estados Unidos.

No ano passado, este ‘webinar’ contou com a assistência de 340 mil estudantes, um número “impressionante” segundo os responsáveis, mas este ano, revelou Clifford Chanin, mais de um milhão de alunos vão fazer parte do programa.

Desde que o museu abriu, em 2014, realizaram-se cerca de 125 diferentes programas para o público em geral e devido às medidas de contingência da pandemia de covid-19, a plataforma para os programas públicos passou a ser virtual.

O subdiretor da programação considerou que um dos efeitos mais fortes do museu vê-se nas famílias que em conjunto visitam o espaço.

“Uma das coisas mais fortes para mim, observando pais e filhos durante anos, é ver como se juntam neste espaço. Eles literalmente, fisicamente, ficam juntos, como uma família. Querem estar juntos, querem tocar, e estar em contacto com o que sentem uns pelos outros, porque veem que todos os sentimentos que eles partilham foram traídos por este ataque que matou tantas pessoas que simplesmente deixaram as suas casas e famílias naquela manhã para ir para o trabalho”, disse.

Em resposta aos jornalistas, Clifford Chanin relembrou também a sua experiência pessoal no dia 11 de setembro, quando se encontrava em casa em Brooklyn, uma outra parte da cidade de Nova Iorque.

Uma das memórias mais fortes para Chanin é a de ver os seus filhos voltarem da escola para casa a “emergirem de uma nuvem de fumo”, um momento que lhe ficou gravado na memória como “uma imagem de guerra”.

O 9/11 Memorial and Museum, localizados no “Ground Zero”, World Trade Center, onde as torres mais altas da cidade foram destruídas por dois aviões, vai celebrar o vigésimo aniversário com diversas iniciativas, começando pelo toque de sinos por igrejas em diversos momentos em que os atentados terroristas se desenvolveram.

Momentos de silêncio e a leitura de cada um dos 2.977 nomes das vítimas do 11 de Setembro e de um anterior ataque terrorista, em 26 de fevereiro de 1993, ao World Trade Center, onde morreram seis pessoas, vão ocupar cerca de quatro horas, disse o vice-presidente.

Ao entardecer vão ser projetados dois focos de luz no céu, a atingir quase 6,5 quilómetros acima do solo, para simbolizar as duas torres de 110 andares que caíram, uma das imagens mais marcantes para qualquer residente de Nova Iorque.

Vários arranha-céus e edifícios de Nova Iorque vão ostentar a cor do “memorial blue” à noite para marcar a data.

Em 11 de setembro de 2001, quatro aviões comerciais foram sequestrados por um grupo de 19 terroristas, usados para ataques suicidas em Nova Iorque e Washington.

A cidade de Nova Iorque viu a maior destruição, com a queda das Torres Gémeas depois da colisão de dois aviões. Só nesta cidade morreram 2.753 pessoas, segundo o Museu do 11 de Setembro.

*Por Elena Lentza, da agência Lusa

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