Em 2020, os 46 anos do 25 de Abril foram celebrados de forma diferente do que aconteceu nos anos anteriores, devido à covid-19: sem desfile e com uma sessão solene reduzida. Na altura, a decisão de manter este momento na Assembleia da República em pleno estado de emergência gerou polémica, dentro e fora do parlamento, com duas petições online — uma pelo cancelamento e outra a favor da sessão, a juntarem centenas de milhares de assinaturas.

Este ano, mantendo-se a pandemia, pairava no ar a questão: como será celebrado o 25 de Abril? Ontem, ao início da noite, o coronel Vasco Lourenço confirmou que o tradicional desfile comemorativo do 25 de Abril de 1974 vai regressar à Avenida da Liberdade, com algumas regras definidas pela DGS, que logo de seguida se veio pronunciar.

Para que o desfile voltasse à rua, a comissão organizadora esteve nas últimas semanas em contacto com as autoridades de saúde, bem como com a PSP e a Câmara Municipal de Lisboa, para acertar pormenores.

Todavia, este momento não vai ser igual ao que seria costume. Tendo em conta as medidas de segurança necessárias, o desfile na Avenida da Liberdade vai ter participação reduzida, não sendo assim possível a realização de uma manifestação popular, o que veio já causar várias reações.

  • "A liberdade não tem donos": A Iniciativa Liberal (IL) acusou a comissão de tentar impedir o partido de participar nas comemorações, pretendendo os liberais organizar o seu próprio desfile no mesmo dia e local. Em comunicado, a IL recorda que "participa nas comemorações na Avenida da Liberdade desde 2018, após se ter formalizado como partido";
  • "Atitude contrária aos valores de Abril": O partido Volt Portugal (VP) revelou que também lhe foi negada participação no desfile do 25 de Abril, uma decisão que contesta e vai desafiar estando presente no local. O partido alegou ter recebido uma resposta assinada por Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 de Abril, na qual se lê que é necessário "restringir a participação no desfile que decorrerá na Avenida da Liberdade às organizações que constituem esta Comissão Promotora";
  • "25 de Abril sempre, fascismo nunca mais!": Por sua vez, o Livre cedeu quatro lugares da sua comitiva no desfile a estes dois partidos. "@Liberalpt e @Voltportugal, venham desfilar connosco. O Livre faz parte da Comissão Promotora do 25 de Abril. Uma vez que não podem participar por não serem promotores, o Livre cede dois lugares a cada um", escreveu o partido da papoila na sua rede social Twitter, identificando os dois partidos. Mais tarde, esta sugestão foi vista pela Associação 25 de Abril como "chicana política";
  • "O 25 de Abril é de todas as pessoas": A revolta chegou também ao parlamento. A deputada não inscrita Cristina Rodrigues anunciou que vai protestar o facto de não poder intervir na sessão solene de comemoração do 25 de Abril na Assembleia da República e indicou que quer participar no desfile em Lisboa. Para a parlamentar, estas proibições "demonstram um claro preconceito para com as deputadas não inscritas", salientando que "esta situação ganha especial relevância no dia que se celebra o fim da opressão e do silenciamento do povo".

Devido à polémica, a Associação 25 de Abril veio já reforçar a ideia que defendeu desde o início: tempos diferentes pedem um desfile diferente, com as medidas de segurança necessárias.

Vasco Lourenço explicou, assim, que a decisão de um desfile reduzido "levou à não aceitação de integração de organizações de várias natureza, onde se incluem os partidos políticos IL e Volt, independentemente de anteriores participações na manifestação".

Garantindo que não há tentativa de "limitar a liberdade política em Portugal", a Associação deixa um apelo a todos os portugueses, para colmatar a impossibilidade de uma Avenida cheia: "que às 18 horas do dia 25 cantem, onde quer que estejam, a Grândola Vila Morena e o Hino Nacional, como demonstração da vontade de continuar a construir uma sociedade cada vez mais alicerçada nos valores de Abril".