Cusquices, fofocas, coscuvilhices, mexericos, bisbilhotices. Tantos são os termos usados — mesmo que de maneira mais informal — para se referir o ato de falar sobre alguém que não está presente.

Segundo um estudo, publicado na revista Social Psychological and Personality Science, as pessoas passam em média 52 minutos por dia a fazê-lo. Contudo a maior surpresa reside no conteúdo: a maior parte não passa de "conversa fiada", que não tem o objetivo de tecer julgamentos sobre ninguém.

"Na verdade, descobrimos que a esmagadora maioria das conversas era neutra", diz a autora do estudo, Megan Robbins, psicóloga da Universidade da Califórnia, em Riverside, que estuda o modo como as interações sociais das pessoas estão relacionadas com a sua saúde e o bem-estar, segundo a NPR. "Cerca de três quartos da conversa que ouvimos não foi positiva nem negativa", diz.

Para o estudo ser possível, os envolvidos concordaram em transportar um pequeno gravador entre dois a cinco dias, que fazia o registo de tudo aquilo que era dito.

No fim, a conclusão geral não espanta: todos gostamos de falar sobre os outros. "As pessoas adoram falar sobre outras pessoas. Partilhamos toneladas e toneladas de informações sociais", diz Jeremy Cone, psicólogo do Williams College. Por outro lado, o psicólogo, que não estava envolvido no estudo, diz estar intrigado com o facto de a maioria das conversas ser bastante "mundana".

Ou seja, fala-se muito sobre coisas do dia a dia, mesmo que a pessoa em causa não esteja presente. Por exemplo, um filho que tirou a carta, outro que acabou a licenciatura, assuntos do trabalho ou até algum familiar que está doente. E, nestas "cusquices", não há maldade nenhuma. "Muito disso é apenas documentar factos, partilhar informações", diz Cone.

Olhando para os resultados, não se pode, contudo, dizer que não há julgamentos nas conversas. Mas o número é reduzido: das conversas analisadas, apenas há 15% de comentários negativos ou julgamentos sobre outrem.

E quem se dá mais aos mexericos? Segundo o estudo, tanto homens como mulheres têm este tipo de conversa. Mas os extrovertidos fazem-no mais do que os introvertidos.

Um dos temas abordados foi, também, este tipo de conversas em ambiente de trabalho. Neste caso, as conversas podem mesmo ajudar a acompanhar o que está a acontecer e a formar alianças sociais com outras pessoas.

"Quando se fala sobre outras pessoas, pode-se acompanhar quem está a contribuir para o grupo e quem está a ser egoísta", explica Elena Martinescu, investigadora de pós-doutoramento do King's College, em Londres, que estudou este tipo de conversas no local de trabalho.

Num dos estudos de Martinescu, publicado este ano na Frontiers in Psychology, foram entrevistadas pessoas sobre as suas experiências com mexericos no local de trabalho. No estudo, os participantes tiveram de "descrever uma situação específica em que um colega de trabalho disse algo positivo ou negativo nas costas de outro colega de trabalho”. Ao saberem disso, as pessoas em causa sentiram-se magoadas ou enraivecidas — mas nem tudo é mau. Muitas vezes, saber o que foi dito leva à auto-reflexão e, em alguns casos, faz com que se ganhe motivação para melhorar.