Hoje começou a campanha eleitoral, os partidos e os líderes preferiam que o dia tivesse sido marcado por propostas e ações. Mas a desinformação esteve em cima da mesa, ainda que de forma velada, que é exatamente quando se torna mais perigosa.
No fim do ano passado, Miguel Poiares Maduro dizia a Rute Sousa Vasco, numa entrevista ao SAPO24, que "um aspeto fundamental para qualquer eleição, e não só, também para a nossa participação no espaço público e democrático, é a forma como nos informamos, por um lado. E como, através dessa informação, formamos as nossas preferências políticas. Cada um de nós toma posição relativamente a um conjunto de temas e define quais são os temas prioritários sobre os quais nos pronunciamos. Tomamos as nossas posições com base na informação que temos sobre o que é verdade e o que é falso relativamente a esses temas, nas opiniões que vimos e ouvimos e na diferente credibilidade que lhes atribuímos."
Tão importante que a MediaLab do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), está a monitorizar e fazer a despistagem de desinformação política na pré-campanha e campanha eleitoral para as eleições legislativas de março, ao abrigo de um protocolo com a agência Lusa. E, no primeiro relatório, soube-se da existência de pelo menos quatro casos desinformativos relacionados com as legislativas foram identificados, em janeiro, nas redes sociais, com uma publicação do Chega de um gráfico com uma interpretação errada e uma afirmação descontextualizada do Bloco de Esquerda.
Ora, hoje segundo o mesmo MediaLab do ISCTE, soube-se que o caso de desinformação dos alegados tiros à comitiva do Chega a Famalicão, na quarta-feira, teve “mais alcance e impacto” nas redes socais do que a sua correção, quatro horas depois.
Se no caso do Chega não há dúvidas da falsidade da informação, tendo sido confirmada pela PSP, há casos mais ardilosos em que o levantar de uma dúvida é o suficiente para que se crie todo um enredo à volta de um tema. É disso que Paulo Rangel acusa o PS, depois de ontem José Luís Carneiro ter sugerido que há “negociações escondidas” entre a Aliança Democrática e outros partidos, desafiando a coligação a clarificar este fim de semana se viabiliza um Governo do PS. Hoje, o vice-presidente do PSD, Paulo Rangel, acusou José Luís Carneiro de lançar boatos e mentiras ao sugerir que há negociações secretas entre partidos e equipara a forma de o PS fazer campanha à do Chega. “O PS, em desespero já está a imitar o Chega e a basear a sua campanha nas notícias falsas, nos boatos e nos rumores”, disse.
Também o presidente da Iniciativa Liberal (IL), Rui Rocha, acusou hoje o Bloco de Esquerda (BE) de fazer "imputações completamente falsas" a propósito do partido ser financiado por "rios de dinheiro" de milionários. A coordenadora do BE, Mariana Mortágua, tinha considerado ontem que uma dos aspetos da “cavalgada da direita” e da “mutação política” destas eleições são os “rios de dinheiro que correm de cofres milionários” para partidos como Chega e IL.
Nestes casos, não obstante a dificuldade de repor a verdade - seja ela qual for, há caras por trás das afirmações que podem ser mais, ou menos, responsabilizadas por aquilo que disseram. Mas com o advento das redes sociais e com o aparecimento de páginas anónimas torna-se mais difícil averiguar a origem de alguma propaganda e notícias falsas.
Ainda hoje o SAPO24 mostra a página "Jovens por Portugal", que a três dias do início da campanha, começou a partilhar vídeos nas redes sociais. Em modo anónimo o mote é sempre o mesmo, afastar os eleitores da AD. No X, antigo Twitter, surgiram as dúvidas e, de acordo com a lei eleitoral, estarão a incorrer em várias infrações. Ainda há dois anos mais de 80 organizações de verificação de factos ("fact-checking") em todo mundo enviaram uma carta aberta ao YouTube, pedindo medidas mais eficazes para combater a desinformação.
A campanha para as legislativas antecipadas de março arrancou hoje com metade dos líderes dos partidos com representação parlamentar a norte, incluindo o socialista Pedro Nuno Santos e o social-democrata Luís Montenegro, que passaram pelo distrito do Porto.
*Com Lusa
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