Um projeto de lei sobre esse tema delicado, que divide a opinião pública britânica, será examinado na próxima sexta-feira pelos deputados da Câmara dos Comuns, por iniciativa de uma deputada da maioria trabalhista.

"Se a lei estivesse em vigor quando meu pai morreu, poderia ter tido uma morte muito mais segura e suave" e "poderíamos ter passado por isso emocional e psicologicamente juntos", afirma Anil à AFP, na sua casa de Walthamstow, no nordeste de Londres, recordando que o seu pai não avisou a ninguém que ia se matar.

Como ajudar alguém em risco?

A comunidade pode ter um papel relevante na prevenção do suicídio. É importante ter a consciência de que a maior parte das pessoas que se suicidaram avisaram antes e que, portanto, nunca deveremos menorizar um aviso de suicídio.

Todas as pessoas que tenham ideias de suicídio devem procurar apoio imediato e a família deve lutar por esse apoio. Recorde-se a necessidade de tratar a depressão, que é uma doença e não um estado de espírito — e é tratável. Existe uma urgência de psiquiatria com atendimento imediato em muitos locais e que em todos os distritos há um serviço de psiquiatria com consultas.

Caso tenha pensamentos suicidas ou conheça alguém que revela sinais de alarme, fale com o médico assistente. Se sentir que os impulsos estão fora de controlo, ligue 112.

Outros contactos:

SOS Voz Amiga
Lisboa (atendimento das 16 às 24h)

21 354 45 45
91 280 26 69
96 352 46 60

SOS Telefone Amigo
Coimbra
239 72 10 10

SOS Estudante
Coimbra
808 200 204

Escutar - Voz de Apoio
Gaia
22 550 60 70

Telefone da Amizade
Porto
22 832 35 35

A Nossa Âncora
Sintra
219 105 750
219 105 755

Departamento de Psiquiatria de Braga
Braga
253 676 055

Brochura do INEM
Ler aqui.

Na estante da sua sala, uma fotografia mostra a sua mãe, que morreu por causa de um cancro em 2008, e o seu pai, quando a doença ainda não o havia debilitado muito.

"No momento da sua morte, estava verdadeiramente incapacitado, tinha perdido a sua dignidade corporal, as suas funções básicas de mobilidade, sofria dores neurológicas muito intensas e muitos efeitos colaterais da doença", lembra Anil, de 35 anos.

"Mal podia levantar a mão para se alimentar", acrescenta.

Anil Douglas, a campaigner in support of the assisted dying bill whose father suffered from multiple sclerosis and committed suicide, poses for a portrait following an interview with AFP in London on November 15, 2024. Ian Douglas, a London engineer and economist suffering from multiple sclerosis, secretly took his own life in February 2019, with his illness at an advanced stage.his son Anil, who has campaigned ever since to change the law to allow assisted dying in the UK, welcomes a vote in p
Anil Douglas, a campaigner in support of the assisted dying bill whose father suffered from multiple sclerosis and committed suicide, poses for a portrait following an interview with AFP in London on November 15, 2024. Ian Douglas, a London engineer and economist suffering from multiple sclerosis, secretly took his own life in February 2019, with his illness at an advanced stage.his son Anil, who has campaigned ever since to change the law to allow assisted dying in the UK, welcomes a vote in p Photographs belonging to Anil Douglas of his late father who suffered from multiple sclerosis and committed suicide, are pictured following an interview with AFP in London on November 15, 2024. Ian Douglas, a London engineer and economist suffering from multiple sclerosis, secretly took his own life in February 2019, with his illness at an advanced stage. his son Anil, who has campaigned ever since to change the law to allow assisted dying in the UK, welcomes a vote in parliament on the issue this Friday. On November 29, 2024 MP's will debate and vote on a bill to legalise assisted dying in England and Wales. (Photo by HENRY NICHOLLS / AFP) / TO GO WITH STORY by Marie HEUCLIN créditos: HENRY NICHOLLS / AFP

Situação atual "perigosa"

O seu suicídio, um dia antes de seu aniversário de 60 anos, foi um choque para toda a família.

Como o suicídio assistido é ilegal e punível com 14 anos de prisão, Ian suicidou-se sem contar a ninguém próximo, depois de comprar comprimidos em segredo num site.

"Ele era muito determinado e teimoso em não querer perder sua independência e as suas habilidades físicas. Então eu acho que não é surpreendente que ele tenha decidido controlar o fim de sua vida", explica Anil.

Os que se opõem à legalização do suicídio assistido temem que isso possa incitar as pessoas vulneráveis a acabar com as suas vidas.

Mas para Anil, "a lei atual é perigosa. Ela força-os [pessoas moribundas] a tomar decisões radicais, em completo isolamento, sem proteção. Isso é exatamente o que o meu pai fez", disse. Para Anil, é "vital" que a lei mude.

Após a sua morte, os seus entes queridos descobriram que Ian se tentou matar duas vezes antes de conseguir, um final que os médicos atribuíram a problemas gástricos.

"O que fez foi obviamente um ato de recuperação da autonomia, mas também foi extremamente perigoso e arriscado", devido à legislação vigente, considera Anil.

Nas horas após a morte, a polícia chegou na casa do pai de Anil, como é habitual numa situação assim, e confiscou o seu telefone, computador, e também os de Anil e da sua irmã.

Anil Douglas, a campaigner in support of the assisted dying bill whose father suffered from multiple sclerosis and committed suicide, poses for a portrait following an interview with AFP in London on November 15, 2024. Ian Douglas, a London engineer and economist suffering from multiple sclerosis, secretly took his own life in February 2019, with his illness at an advanced stage.his son Anil, who has campaigned ever since to change the law to allow assisted dying in the UK, welcomes a vote in p
Anil Douglas, a campaigner in support of the assisted dying bill whose father suffered from multiple sclerosis and committed suicide, poses for a portrait following an interview with AFP in London on November 15, 2024. Ian Douglas, a London engineer and economist suffering from multiple sclerosis, secretly took his own life in February 2019, with his illness at an advanced stage.his son Anil, who has campaigned ever since to change the law to allow assisted dying in the UK, welcomes a vote in p Anil Douglas, a campaigner in support of the assisted dying bill whose father suffered from multiple sclerosis and committed suicide, poses for a portrait following an interview with AFP in London on November 15, 2024. Ian Douglas, a London engineer and economist suffering from multiple sclerosis, secretly took his own life in February 2019, with his illness at an advanced stage. his son Anil, who has campaigned ever since to change the law to allow assisted dying in the UK, welcomes a vote in parliament on the issue this Friday. On November 29, 2024 MP's will debate and vote on a bill to legalise assisted dying in England and Wales. (Photo by HENRY NICHOLLS / AFP) / TO GO WITH STORY by Marie HEUCLIN créditos: HENRY NICHOLLS / AFP

A polícia olhava "com desconfiança"

"Essa experiência foi muito traumática e perturbadora", conta Anil, que lembra ter sentido a polícia olhar para ele "com desconfiança".

Desde a morte do pai, Anil participa na associação Dignity in Dying (Dignidade ao morrer), que faz campanha no Reino Unido pela legalização do suicídio assistido.

Esta associação defende o projeto de lei apresentado pela deputada trabalhista, que prevê autorizar na Inglaterra e no País de Gales adultos que sofrem uma doença incurável e que tenham uma expectativa de vida inferior a seis meses, com autorização de dois médicos e um juiz, e que sejam capazes de tomar sozinhos os medicamentos que causariam a morte.

Um quadro rigoroso, muito mais do que o vigente, por exemplo, nos Países Baixos, na Bélgica ou no Canadá, e que contém "medidas adequadas de proteção contra a coerção", defende Anil, que participou em vários encontros organizados pela Dignity in Dying nos últimos meses.

Anil declara-se "otimista" e lembra que várias sondagens recentes mostram o apoio da maioria dos britânicos ao suicídio assistido.

Na próxima sexta-feira, Anil voltará ao Parlamento quando os deputados debaterem o texto, esperando que sejam "corajosos".