Das temperaturas preocupantes no Vietname, a registar um recorde de 44,1 graus no sábado, às inundações na República Democrática do Congo que provocaram pelo menos 394 mortos, o tema das alterações climáticas tem sido muito abordado.

Uma quebra superior a 50% na produção das primeiras cerejas, por exemplo, mostra como as condições climatéricas adversas que se registaram em abril, com grandes amplitudes térmicas, afetaram as plantações. Já uma investigação de uma equipa internacional de climatologistas da rede “World Weather Attribution” (WWA) mostrou que as alterações climáticas aumentaram em pelo menos 100 vezes as probabilidades de um episódio de calor sufocante como o que aconteceu no final de abril e que afetou especialmente Portugal, Espanha, Marrocos e Argélia.

“Este calor teria sido quase impossível sem as alterações climáticas causadas pelo homem” e as temperaturas foram até 3,5 graus superiores ao que teriam sido num cenário sem emergência climática, dizem os autores do relatório.

A revolta dos jovens em Portugal já se fez ouvir. O movimento "Fim ao Fóssil. Ocupa!" exige o fim dos combustíveis fósseis até 2030 e eletricidade 100% renovável e acessível até 2025, tendo fechado temporariamente escolas e cortado ruas em Lisboa. Algumas dezenas de ativistas ocuparam, nomeadamente, o Liceu Camões, no dia 2 de maio, num protesto contra as alterações climáticas.

Já a associação ambientalista Zero, divulgou dados sobre a pegada ecológica do país, segundo os quais Portugal esgota hoje os recursos naturais disponíveis para este ano, e começa a usar recursos que só deveriam ser consumidos no próximo ano.

Diz a associação que, "se cada pessoa no planeta vivesse como uma pessoa média portuguesa, a humanidade exigiria cerca de 2,9 planetas para sustentar as suas necessidades de recursos".

Isto acontece por causa do modelo de produção e de consumo que suporta o estilo de vida no país, estando o consumo de alimentos (30% da pegada global do país) e a mobilidade (18%) entre as atividades humanas que mais contribuem para a Pegada Ecológica de Portugal, diz a Zero.

A circularidade dos materiais em Portugal é de apenas 2,2%, quando a média comunitária está quase nos 13%, os portugueses comem cerca de três vezes mais proteína animal do que deviam, em detrimento dos legumes e frutas, e só 9,7% do consumo final bruto de energia nos transportes provém de fontes renováveis.

Como tal, para reduzir a dívida ambiental portuguesa, a associação defende uma aposta numa agricultura virada para alimentos de qualidade, preservando os solos e reduzindo a poluição e o uso de água, um aproveitamento do potencial do teletrabalho, que reduz deslocações, um investimento em modos suaves de transporte e transportes públicos, e sustentabilidade dos produtos (nomeadamente reparar, reutilizar e reciclar).

Além disso, dá exemplos de como cada português pode contribuir, desde a redução da presença de proteína animal na alimentação, à movimentação de forma sustentável - ao privilegiar os transportes coletivos e andar a pé ou de bicicleta -, e ao fim do hábito do "usar e deitar fora", optando por "ter menos, mas de melhor qualidade".

*Pesquisa e texto pela jornalista estagiária Raquel Almeida. Edição pela jornalista Ana Maria Pimentel

*Com Lusa