Numa sessão com jovens sobre participação cívica e eleitoral, Roberta Metsola foi instada por um participante a pronunciar-se sobre o “genocídio na Palestina”, tendo a política maltesa, em resposta, sustentado que a posição da União Europeia (UE) é clara.

“A forma como Israel reage a este ataque atroz e abominável [do movimento islamita palestiniano] importa. E quando nós, como Europa, falamos hoje sobre o que precisa ser feito, quando falamos sobre a libertação de todos os reféns, ao mesmo tempo, dizemos que os civis inocentes em todos os lugares devem ser protegidos”, afirmou na sessão promovida ao fim do dia pela Fundação Francisco Manuel dos Santos no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), em Lisboa.

A presidente do PE recordou que esteve na região cinco dias após os ataques do Hamas no sul de Israel, que deixaram, segundo as autoridades israelitas, 1.200 mortos, além de mais de 200 pessoas raptadas pelo grupo palestiniano, e que ela própria viu no local a crueldade do massacre executado naquele dia e que disse que nunca esquecerá.

Para Metsola, aqueles eventos e a resposta militar de Israel na Faixa de Gaza - que já provocou cerca de 15 mil mortos, a maioria civis, de acordo com as autoridades do território controlado pelo Hamas -, exigem “um coração grande o suficiente para proteger todos” e mentes com clareza suficiente para explicá-la.

Em muitos Estados-membros, assinalou, a guerra entre Israel e Hamas levou a “um entrincheiramento de posições e ao reacender da intolerância em alguns lugares”, inclusive ao ódio, dando os exemplos de manifestações de antissemitismo e islamofobia.

A presidente do PE afirmou que existe um apelo dos países da região para que a UE assuma um papel ativo neste conflito e numa paz duradoura, que interessa não só a Israel e à Palestina, como aos países vizinhos.

Isso significa que “os israelitas vivam com segurança e que os palestinianos sejam livres”, o que implica a “erradicação do Hamas” e uma negociação com uma liderança legítima da Palestina em direção à solução de dois estados, defendeu, destacando que o PE pediu desde o primeiro momento um cessar-fogo, apesar de todo o seu espetro político.

“Foi fácil? Não. Houve quem desejasse que não o fizéssemos? É claro. Mas, fizemo-lo porque é na névoa que é preciso clareza para ver tudo isso”, sustentou a política de 44 anos perante a audiência de dezenas de jovens.

Na sessão, integrada no ‘videocast’ da Fundação Francisco Manuel dos Santos FFMS “Isto não é assim tão simples”, Roberta Metsola foi desafiada a escolher a mudança que gostaria de ver realizada e abordou a divisão da sociedade, que observou ser hoje mais notória do que no momento em que iniciou há duas décadas a sua carreira política.

“Gostaria que nossa sociedade fosse menos dividida. A intolerância não está na ordem do dia e discordar de alguém não significa ódio. Vemos isso muito mais agora. É muito mais duro, muito mais hostil”, considerou, acrescentando que, por comparação às suas primeiras eleições, o quadro é atualmente mais amplo e a mensagem pode tornar-se viral rapidamente, em que uma informação incorreta circula facilmente antes que possa ser corrigida ou contra-atacada.

A sete meses das eleições europeias, Roberta Metsola, que foi em 2022 a política mais nova a assumir a presidência do PE e a terceira mulher no cargo, também deixou um alerta sobre o risco da polarização da sociedade e de posições muito afirmativas, numa alusão ao extremismo político.

“É muito mais fácil estar num painel com seis ou oito outros candidatos e ser preto no branco. Muito mais difícil é ser cinzento […], mas o mundo é cinzento”, comentou, justificando que é igualmente “mais fácil dar respostas fáceis para perguntas difíceis do que respostas adequadas”.

A política de Malta salientou a importância do voto e da escolha sob pena de os eleitos não refletirem o interesse de cada um, conduzindo a “um sentimento de complacência que levou à fragmentação da política em toda a União Europeia” e que a PE pareça um lugar distante, o que também é responsabilidade do lado de políticos que sabem que vão acabar por ser escolhidos sem precisar de ouvir o eleitorado, nem mudar a sua atuação.

É neste sentido que questiona um suposto afastamento dos partidos tradicionais quando foram eles que encontraram a saída para a pandemia de covid-19 com “uma unidade na Europa nunca antes vista”.

“Precisamos talvez mudar o nosso pensamento sobre o que entendemos por partidos tradicionais e dizer que são esses partidos que podem garantir a economia e a estabilidade, sem medo de se adaptar ou de mudar”, defendeu a política do grupo Partido Popular Europeu (centro-direita), acrescentando que “isso precisa ser feito por partidos que são sólidos, estáveis, mas que exigem mudança com o progresso social, o que não aconteceu em todos os lugares”.