O presidente da Rússia afirmou hoje, durante uma reunião sobre a situação nas zonas fronteiriças entre a Rússia e a Ucrânia, transmitida através da televisão estatal russa que "não fazia sentido" manter as conversações de paz com Kiev, após a incursão militar ucraniana na zona de Kursk.
Para Putin é "claro que o regime e Kiev recusaram as nossas propostas para o regresso a um plano de acordo pacífico", alegando que um dos objetivos ucranianos com a sua operação militar é melhorar a posição da Ucrânia em eventuais negociações de paz.
"O inimigo, com a ajuda dos seus chefes ocidentais, está agora a efetuar a sua aposta, e o Ocidente mantém uma guerra contra nós, utilizando-se dos ucranianos para melhorar a sua posição negocial no futuro", disse o presidente russo, citado pela agência Tass.
Depois de realçar que não faz sentido manter conversações com um Governo que "ataca civis", Vladimir Putin prometeu uma resposta firme à mais importante investida ucraniana, contra a invasão militar russa à Ucrânia, desde fevereiro de 2022.
Para o presidente da Rússia, o objetivo do mais recente ataque é ainda travar a ofensiva de Moscovo no leste e sul da Ucrânia. "A principal tarefa do Ministério da Defesa consiste sem qualquer dúvida em expulsar o inimigo dos nossos territórios", além de semear a discórdia na Rússia: "Um outro objetivo do inimigo consiste em semear a discórdia e a divisão na nossa sociedade, intimidar as pessoas, destruir a unidade e a coesão da sociedade russa", declarou o Chefe de Estado russo.
Mas afinal a Ucrânia também já invadiu a Rússia?
De acordo com a Lusa, e como já foi noticiado pelo SAPO24, a Ucrânia iniciou a sua maior incursão, desde que a Rússia invadiu os territórios ucranianos, na passada terça-feira. Cerca das 8h locais (6h em Lisboa), perto de 300 soldados ucranianos atacaram as unidades da guarda fronteiriça russas, apoiados por 11 tanques e mais de 20 veículos blindados.
De imediato, as tropas russas e as unidades do Serviço Federal de Segurança (FSB) deslocadas na fronteira repeliram o ataque, fazendo com que as forças ucranianas perdessem seis tanques, dez blindados e ainda outros veículos militares, referiram, na altura, fontes russas.
“Foram bombardeadas as localidades fronteiriças de Kursk”, indicava o FSB em comunicado.
O ministério informou, posteriormente, que as forças russas continuavam a perseguir os restantes membros dos grupos de sabotagem ucranianos que se refugiaram na Ucrânia após a tentativa de incursão no país vizinho. “O inimigo foi atacado com fogo de artilharia, aviação militar e ‘drones’ de ataque”, assinalou o Ministério da Defesa, que publicou diversos vídeos da operação.
Na noite de terça-feira, as defesas antiaéreas russas abateram um total de 11 ‘drones’ ucranianos de asa fixa sobre quatro regiões do país que fazem fronteira com a Ucrânia, informou o Ministério da Defesa russo. Segundo o relatório militar, os engenhos não tripulados foram intercetados e destruídos nas regiões de Kursk (4), Belgorod (3), Voronezh (2) e Rostov (2).
Mas a investida não ficou por aqui.
O dia seguinte
Já no dia 7 de agosto, o exército russo informou que os combates continuavam na região russa de Kursk, e que milhares de pessoas estavam a abandonar a zona. Num vídeo divulgado no Telegram, o governador regional, Alexei Smirnov, anunciou que as autoridades tinham preparado abrigos para 2.500 refugiados e que já tinham colocado mais de 300 pessoas, incluindo 121 crianças, na noite de terça-feira.
“Outras regiões russas estão prontas para acomodar os residentes das zonas fronteiriças de Kursk nos seus territórios”, acrescentou o governador.
Por esta altura, os serviços médicos da região de Kursk já registavam cinco mortes, entre a população civil, e 27 feridos.
Mais tarde foi a vez de Kiev ordenar a evacuação de 23 localidades da zona fronteiriça, que envolvia a retirada de cerca de 6.000 pessoas, incluindo 425 crianças, na região de Sumy.
Nesta altura, o chefe do Estado-Maior russo, Valery Gerasimov, já informava que cerca de 1.000 soldados ucranianos tinham participado na incursão armada lançada na véspera na região de Kursk, na fronteira com a Ucrânia.
Horas mais tarde, a região russa de Kursk entrou em estado de emergência: “A situação operacional continua a ser difícil nas zonas fronteiriças. Para eliminar as consequências da entrada de forças inimigas, decidi estabelecer um estado de emergência”, destacou o governador Alexei Smirnov, numa mensagem na rede social Telegram.
Entre 8 de agosto e o dia de hoje
Os ataques seguiram-se e, já na manhã de dia 8, os sistemas de defesa antiaérea russos disseram ter abatido seis ‘drones’ e 12 foguetes sobre a região russa de Kursk.
Num novo balanço, as autoridades locais informaram que, desde o início da incursão, vários milhares de pessoas tinham abandonado a região e mais de 600 tinham sido abrigadas em abrigos. Como resultado dos ataques, já cinco civis tinham morrido e outros 31 estavam feridos, disse a Lusa consoante dados do Ministério da Saúde russo.
Já junto à linha de Donestk, "durante os três primeiros dias de evacuação das zonas perigosas, foram resgatadas 1.010 crianças de 756 famílias", anunciava a polícia em comunicado.
Durante a madrugada de 9 de agosto, um ataque com drones ucranianos provocou um incêndio numa base militar na região russa de Lipetsk, a 300 quilómetros da fronteira com a Ucrânia. O governador regional, Igor Artamonov, decretou então estado de emergência na zona e ordenou a evacuação de cinco aldeias vizinhas.
Após este ataque seguiram-se outros novos ataques, quer através de investidas aéreas ou terrestres, que motivaram a evacuação de outros 20 mil ucranianos da região de Sumy. Como resposta, a Rússia atacou um supermercado na cidade ucraniana de Kostiantinivka, perto de Donetsk, que causou, pelo menos, dez mortos e 35 feridos.
Nos últimos dias, entre ataques e contra-ataques, com mortos e feridos de ambos os lados, já mais de 76 mil pessoas foram retiradas da região de Kursk e cerca de 14 mil da região de Belgrod.
De acordo com o governador interino de Kursk, Alexei Smirnov, as forças ucranianas já ocupam, atualmente, 28 localidades da zona, desde a incursão iniciada na passada terça-feira. A operação estende-se numa zona de 12 quilómetros de profundidade e 40 quilómetros de largura, com um balanço provisório de, pelo menos, 12 mortos e 121 feridos civis.
O primeiro prenúncio de Zelensky
Segundo a Lusa, a Ucrânia reivindicou hoje o controlo de 1.000 quilómetros quadrados de território russo na região fronteiriça de Kursk, onde as suas forças prosseguem a ofensiva, entretanto assumida, pela primeira vez, pelo presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
“Continuamos a efetuar operações ofensivas na região de Kursk. Neste momento, controlamos cerca de 1.000 quilómetros quadrados do território da Federação da Rússia”, declarou o comandante das Forças Armadas ucranianas, Oleksandre Syrsky, durante uma reunião com o presidente.
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