O chefe do governo esloveno, Janez Jansa, que assegura a presidência rotativa da União Europeia, publicou no Twitter uma foto onde se qualificam vários deputados neerlandeses como "marionetas" do riquíssimo empresário George Soros. O tweet, entretanto apagado, foi ainda assim guardado para a posteridade por vários internautas.

A foto publicada por Jansa representava um quadro em que Soros - uma personalidade odiada pelos teóricos da conspiração e antissemitas europeus - aparecia ligado a vários eurodeputados. Entre estes estava Hans van Baalen, do partido VVD de Mark Rutte, que faleceu em abril, com 60 anos.

"'Tweet' de mau gosto de Janez Jansa sobre os deputados europeus. Condeno-o nos termos mais fortes", escreveu Mark Rute, também no Twitter, em resposta.

"O governo acaba de transmitir este mesmo sentimento ao embaixador da Eslovénia na Haia", acrescentou Rutte, que teve recentemente várias controvérsias com dirigentes da Europa Central.

O primeiro-ministro esloveno respondeu, com várias mensagens no Twitter, a Rutte, referindo-se nomeadamente ao assassínio em Amesterdão do jornalista, especializado em assuntos criminais, Peter R. De Vries.

"Pois bem, Mark, não perca tempo com os embaixadores e a liberdade da imprensa na Eslovénia. Com Sophie in 't Veld, protejam os vossos jornalistas contra os assassínios na rua", retorquiu.

A polémica teve início com o envio de uma delegação do Parlamento Europeu, com, entre outros, a deputada neerlandesa Sophie in 't Veld, à Eslovénia para examinar as preocupações com as liberdades da comunicação social e o Estado de Direito.

Foi, aliás, aqui que a controvérsia online teve início, com um tweet da conta da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas, um dos vários grupos políticos que compõem o Parlamento Europeu, a denunciar a falta de comparência de Jansa para receber a delegação, colocando uma fotografia com a mensagem "out of office" ("fora do escritório").

Em resposta, o primeiro-ministro da Eslovénia escreveu "Quem são vocês? Quantas vezes é que visitaram um chanceler alemão, um primeiro-ministro neerlandês ou um presidente francês? Já agora, foi nos Países Baixos que o último jornalista foi assassinado na #UE. Na Eslovénia, tais tentativas foram apenas executadas durante o regime dos vossos camaradas do StrankaSD". Esta última referência foi ao partido dos Social-Democratas da Eslovénia, partido que descendeu do partido comunista do país.

A partir daqui, a situação tornou-se cada vez mais quezilenta. O Presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli, tentou pedir moderação a Jansa. “Apelamos a que pare com as provocações contra membros do Parlamento Europeu. Os ataques aos eurodeputados são ataques aos cidadãos europeus”, escreveu.

Uma vez mais, Jansa não se ficou e respondeu que “A Eslovénia não é uma colónia” e acusou os eurodeputados de "abusar do Parlamento Europeu para fomentar intrigas políticas e acusações sem sentido à Eslovénia". Noutro tweet, acusou os sociais democratas eslovenos de serem eles a controlar a comunicação social do país.

Por fim, Charles Michel, Presidente do Conselho Europeu, acabou mesmo por intervir, ainda que de forma tímida e sem se referir diretamente a Jansa. “O respeito mútuo entre as instituições da UE e no seio do Conselho Europeu é o único caminho a seguir”, escreveu, avisando que "os membros do Parlamento Europeu devem poder fazer o seu trabalho livremente, sem qualquer pressão”. Esta intervenção, porém, não mereceu resposta do primeiro-ministro esloveno.

Os confrontos que se deram nas últimas 24 horas não só surpreenderam pelo tom — recorde-se que Jansa ocupa a presidência rotativa da União Europeia, como ocorram a uma semana do Conselho Europeu se reunir. Ou seja, Rutte e Jansa estarão presentes na mesma sala.

Janša tem sido acusado de se tornar cada vez mais autoritário, de uma forma semelhante ao seu aliado de linha dura, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán.

Os seus detratores dizem que o Governo de Janša tem pressionado a imprensa eslovena, incentivado o discurso de ódio e gerido mal a pandemia de covid-19.

Já Janša defende que a UE tem dois pesos e duas medidas para o respeito do Estado de direito, adotando uma postura mais branda em relação aos países ocidentais.

A Eslovénia assumiu a presidência do Conselho da UE a 1 de julho, naquela que é a segunda vez que o país de dois milhões de habitantes se encontra no leme do bloco, após uma primeira presidência em 2008.

No entanto, o cenário é muito distinto daquele de 2008, quando foi em ambiente de verdadeira celebração que se tornou a primeira das ex-repúblicas da antiga Jugoslávia a presidir à União, já então sucedendo a Portugal e integrando o trio de presidências completado por Alemanha.

Desta feita, e apesar de celebrar 30 anos de independência, a Eslovénia vive mergulhada numa crise política, tendo o atual Governo sobrevivido já a duas tentativas de destituição este ano, enquanto decorreram ao longo do verão manifestações semanais a reivindicar a demissão do executivo de Jansa.

*com Lusa

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