Desde que o número de casos de covid-19 começou a subir em Portugal e na Europa, que a eficácia das vacinas voltou a ser questionada por várias franjas da população. Num país com mais de 85% da população completamente vacinada, e com milhares de pessoas a quem já foi administrada a dose de reforço, a frase de António Costa - "não podemos descansar à beira da vacinação" - levou a que se perguntasse 'então para que foi tudo isto?'. Hoje, na reunião do Infarmed, desfizeram-se as dúvidas.
Vacinação evitou cerca de duas mil mortes
“Desde maio até agora, a adesão dos portugueses à vacina terá poupado à volta de 200 mil infeções, menos 135 mil dias em enfermaria, menos 55 mil dias em unidades de cuidados intensivos e pouparam-se cerca de duas mil vidas”, afirmou o epidemiologista Henrique Barros do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) na reunião de avaliação sobre a situação da pandemia em Portugal, na sede do Infarmed, em Lisboa.
O grupo etário com maior incidência de infeções é uma faixa da população não vacinada
O especialista da Direção-Geral da Saúde Pedro Pinto Leite adiantou que o grupo etário com maior incidência de infeções é o das crianças até aos 9 anos, que corresponde a uma faixa da população não vacinada.
Vacinas com eficácia acima dos 80% na prevenção de hospitalização e morte
As vacinas contra a covid-19 utilizadas em Portugal apresentam uma eficácia superior a 80% na prevenção de hospitalização e de morte e superior a 53% contra a infeção pelo SARS-CoV-2, adiantou hoje uma especialista do INSA.
Em relação às formas graves de doença, as "efetividades [das vacinas] são bastante elevadas, superior a 80% de uma forma geral, sendo mais baixas quando olhamos para população acima dos 80 anos”, referiu Ausenda Machado, na reunião sobre a situação epidemiológica em Portugal na sede do Infarmed, em Lisboa.
Segundo a especialista do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), contra a infeção pelo coronavírus, as quatro vacinas utilizadas no plano de vacinação nacional permitem uma proteção acima dos 50% para os vários grupos etários.
“Os resultados da efetividade indicam-nos que as vacinas são efetivas na redução da doença, mas em particular quando olhamos para doença grave ou muito grave”, adiantou Ausenda Machado.
Proteção decai nos idosos com 65 anos ou mais
Nos idosos com 65 ou mais anos, “começamos a perceber que há um decaimento desta proteção conferida após a vacinação completa, sendo que este decaimento é mais significativo” no caso da infeção, o que vem reforçar da importância de uma dose de reforço, disse.
“A informação preliminar da introdução da estratégia de reforçar a vacinação na população com 80 ou mais anos parece mostrar um decréscimo da incidência neste grupo etário”, adiantou a especialista Ausenda Machado.
0,7% do total de pessoas vacinadas foram infetadas
Fazendo um parentesis na reunião do Infarmed, este artigo não ficaria completo com toda a informação disponibilizada hoje se não incluísse a análise de risco semanal da Direção-Geral da Saúde e do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge.
Neste documento sobre as 'linhas vermelhas' é referido que “desde o início do processo de vacinação contra a covid-19, foram identificados 66.343 casos de infeção por SARS-CoV-2 entre um total de 8.925.907 indivíduos com esquema vacinal completo há mais de 14 dias (0,7%)”.
Segundo o relatório, entre as pessoas infetadas, 1.292 pessoas – 1,9% – foram internadas com diagnóstico principal de covid-19 e 346 pessoas com diagnóstico secundário, sendo que cerca de metade tinha mais de 80 anos.
O documento adianta ainda que, entre os 66.343 casos de infeção de pessoas com esquema vacinal completo há mais de 14 dias, registaram-se 467 óbitos por covid-19 (1,1%), dos quais 345 em pessoas com mais de 80 anos.
“O risco de morte, que é medido através da letalidade por estado vacinal, é 1,5 a 4 vezes menor nas pessoas com vacinação completa do que nas pessoas sem esquema vacinal completo, de acordo com os dados de outubro, mês com os dados consolidados mais recentes. Estes valores podem ainda sofrer alterações devido ao atraso do evento morte em relação à infeção”, refere o relatório.
Porque é urgente vacinar e reforçar a vacinação antes do Natal?
Na sua intervenção na reunião de peritos no Infarmed, em Lisboa, Baltazar Nunes apresentou vários cenários, afirmando que, na maior parte deles, “o pico de maior pressão sobre o sistema nacional de saúde em camas ocupadas em unidades de cuidados intensivos é o período entre final de janeiro e princípio de fevereiro”.
“Para não atingirmos o limiar de 255 camas em cuidados intensivos, que é o nível de alerta que definimos para não começar a afetar o funcionamento normal dos serviços de saúde, precisamos de vacinar praticamente toda a população elegível para vacinação (mais de 65 anos) antes do período em que irá haver uma maior transmissibilidade que é o período de finais de dezembro”, disse o responsável da unidade de investigação epidemiológica do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA).
Observou, contudo, se o país tiver “uma situação bastante mais favorável”, com “uma perda de efetividade mais lenta” todos os cenários estão abaixo da linha vermelha.
Por isso, defendeu, “é muito importante” atingir elevados níveis de cobertura vacinal na dose de reforço na população elegível, afirmou, sublinhando que existe claramente uma correlação entre a cobertura vacinal, a incidência e a mortalidade.
Baltazar Nunes salientou que as simulações apontam que a redução da efetividade da vacina no tempo vai-se traduzir, provavelmente, numa onda epidémica e com a intensidade de impacto que poderá ultrapassar as “linhas vermelhas”.
No entanto ressalvou, há uma medida que está a ser implementada e que vai ter um efeito claro: “Se conseguirmos vacinar grande parte da população que é elegível antes do Natal podemos claramente evitar uma onda epidémica que ultrapasse as ‘linhas vermelhas’ e sem impacto significativo no Serviço Nacional de saúde”.
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