Lula da Silva, presidente do Brasil, iniciou a cimeira do G20, que começou hoje no Rio de Janeiro, a afirmar: "Dezasseis anos depois, constato que o mundo está pior".
Perante os líderes das 20 maiores economias mundiais e de países convidados, o chefe de Estado brasileiro anunciou a "Aliança Global contra a Fome e a Pobreza", com a adesão de 81 países e o objetivo de acabar com a fome até 2030 e reduzir a desigualdade.
"Compete aos que estão aqui a inadiável tarefa de acabar com esta chaga que envergonha a humanidade", disse. "Este será o nosso maior legado", sublinhou Lula da Silva.
Todos os países do G20 aderiram à iniciativa, inclusive a Argentina, do ultraliberal Javier Milei, que inicialmente foi o único a ficar de fora da aliança, segundo uma fonte da presidência brasileira.
Além dos países, aderiram também 66 organizações internacionais, incluindo a União Europeia (UE) e a União Africana (UA).
Segundo o último relatório apresentado, em julho, pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e outras agências da ONU, mais de 733 milhões de pessoas passaram fome em 2023, ou seja, 9% da população mundial.
Já na sexta-feira, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) anunciou uma contribuição financeira de até 25 mil milhões de dólares (cerca de 25 mil milhões de euros) para apoiar programas e "acelerar o progresso na luta contra a fome e a pobreza entre 2025 e 2030".
Agora, a Aliança pretende atingir 500 milhões de pessoas em nações pobres com programas de transferência de fundos, expandir a alimentação escolar de “alta qualidade” para 150 milhões de crianças em nações com pobreza infantil e fome endémica e ajudar pequenos agricultores.
Portugal vai contribuir com mais de 280 mil euros anuais
Convidado pelo homólogo brasileiro para a cimeira, o primeiro-ministro português, Luís Montenegro, anunciou a participação monetária de Portugal na Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.
"Com o presidente Lula da Silva tive uma conversa inicial, ainda não tive a conversa mais densa que pretendo ter até amanhã para, entre outras coisas, prepararmos, com mais detalhe, a cimeira que vamos realizar precisamente aqui no Brasil no próximo mês de fevereiro e a visita de Estado do Presidente da República, que também será realizada nessa ocasião", disse.
Contudo, Montenegro adiantou que Portugal vai contribuir com 300 mil dólares anuais (283.081,50 euros), assumindo que a "segurança alimentar é fundamental para o combate à pobreza".
Segundo o primeiro-ministro, o montante anunciado “é um contributo inicial” para o lançamento das despesas administrativas desta iniciativa.
Em declarações aos jornalistas, Montenegro aproveitou para agradecer ao Brasil a oportunidade que deu a Portugal de poder participar durante todo este ano na presidência brasileira do G20, como observador.
“Foi uma experiência muito proveitosa para nós, para Portugal, mas sobretudo também para todos os países que representam uma grande parte do mundo mais evoluído do ponto de vista económico e que, com o nosso contributo, pôde dar alguns passos no sentido de poder espalhar esse progresso económico para outras geografias onde há pobreza, onde há fome”, disse.
Em particular, sobre a iniciativa lançada pelo presidente Lula da Silva, destacou a importância de juntar os líderes das principais economias mundiais no objetivo de “tornar mais uniforme o acesso a bens essenciais, à qualidade de vida mínima, à dignidade das pessoas”.
“Portugal, desde já, tem um contributo inicial como membro fundador desta aliança, correspondente a 10% das despesas administrativas de funcionamento da aliança. É já um contributo significativo como membro fundador. Estamos a falar de cerca de 300 mil dólares anuais, que nós assumimos como contributo até 2030”, disse, explicando o anúncio feito no seu discurso na primeira sessão de trabalho da reunião do G20.
Por outro lado, o primeiro-ministro português alertou que “não pode haver um efetivo combate à fome e à pobreza” se se mantiverem as guerras hoje espalhadas por todo o mundo e destacou a importância da segurança alimentar.
“Estou muito à vontade, porque o governo português tem dado uma grande ênfase à necessidade de termos uma agricultura que seja encarada como um setor estratégico e estruturante e que nos garanta mais autonomia alimentar. Ora, a segurança alimentar é uma pedra de toque do combate à fome e também do combate à pobreza”, disse.
*Com Lusa
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