Quem são os dois homens desaparecidos na Amazónia?

Dom Phillips, um especialista no que toca às tribos indígenas que vivem na maior floresta do mundo, foi visto pela última vez a semana passada na região de Javari no estado do Amazonas, que faz fronteira com o Peru.

Jornalista há mais de 15 anos, radicado em Salvador, no Brasil, colaborou com meios de comunicação como o Washington Post, o New York Times, o Financial Times e o Guardian.

O jornalista encontrava-se em viagem com Bruno Araújo Pereira, um ex-funcionário do Governo Federal, responsável por proteger os povos isolados do Brasil e que era alvo de ameaças por parte de figuras das indústrias madeireira e mineira.

Phillips encontra-se a trabalhar num livro da Alicia Patterson Foundation sobre defesa ambiental, tema pelo qual se celebrizou, escrevendo várias reportagens sobre as tribos e a região da Amazónia face aos riscos ambientais e ao perigos que os povos isolados são expostos.

Foi relatado que os dois iam fazer uma visita a uma equipa de vigilância indígena, para que o jornalista conhecesse o local e fizesse algumas entrevistas com indígenas que vivem na área, que nos últimos anos está a ser atacada constantemente por mineradores ilegais, madeireiros e invasores.

Como se soube do desaparecimento?

Na segunda-feira, a União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (UNIVAJA), em contacto com os dois homens, soou os alarmes, depois de ambos terem desaparecido numa visita à rede de rios junto ao município de Atalaia do Norte.

Phillips e Araújo Pereira chegaram ao Lago do Jaburu na passada sexta-feira e julga-se que terão partido de regresso para Atalaia do Norte por um dos rios às 06:00 de domingo. No entanto, nunca chegaram a regressar e a viagem durava apenas três horas. Uma equipa de resgate foi enviada para procurá-los, mas não teve sucesso.

De acordo com a UNIVAJA, ambos os homens receberam ameaças nos dias antes de desaparecerem.

Já se encontrou alguém que possa ter relação com o desaparecimento?

Segundo o jornal "O Globo", dois pescadores foram detidos pela Polícia Federal na noite de segunda-feira no âmbito do caso, incluindo a pessoa com a qual o jornalista e o guia se deveriam reunir.

Philips e Pereira Araújo começaram a viagem de regresso na madrugada de domingo, fazendo uma paragem na comunidade de São Rafael, onde Pereira tinha programado uma reunião com um líder local para discutir as "invasões" às suas terras, segundo um comunicado divulgado.

Como está a ser organizada a investigação?

O Ministério Público Federal (MPF) anunciou a abertura de um procedimento administrativo para apurar o desaparecimento, uma investigação que será conduzida pela Marinha, com participação de Polícia Federal, Polícia Civil, Força Nacional e Frente de Proteção Etnoambiental Vale do Javari.

O que diz o Governo brasileiro?

“O Governo brasileiro tomou conhecimento, com grande preocupação, da notícia de que o jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira estão desaparecidos na região do Vale do Javari, na Amazónia”, diz um comunicado hoje divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores.

Segundo o comunicado do Governo brasileiro, após o desaparecimento ser comunicado às autoridades, a Polícia Federal naquela região foi mobilizada e tomou “todas as providências para localizá-los o mais rápido possível”.

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil destacou que continuará a acompanhar as buscas “com o zelo” que o caso exige e envidando “os esforços necessários para encontrar prontamente o profissional da imprensa britânica e o servidor da Fundação Nacional do Índio”.

“Na hipótese de o desaparecimento ter sido causado por atividade criminosa, todas as providências serão tomadas para levar os perpetradores à Justiça,” acrescentou.

Por sua vez, o Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, desejou hoje que os dois homens sejam encontrados, mas admitiu, entre as hipóteses possíveis, que podem ter sido executados.

“Realmente, duas pessoas num barco, numa região tão selvagem, não é recomendado”, disse Bolsonaro, que acrescentou que naquela área “tudo pode acontecer”.

“Pode ter sido um acidente, pode ser que eles tenham sido executados”, afirmou, referindo ainda: “Esperamos e rogamos a Deus que sejam encontrados em breve”.

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