Em declarações à agência Lusa, Luís Lopes, geólogo e responsável do departamento de Geociências da Universidade de Évora (UÉ), observou que por baixo da estrada existia "o material que resulta da dissolução do mármore, um solo residual, que é o barro ou terra rossa".
"Esse material tem capacidade de absorver água, mas quando tem água de mais acaba por se tornar num líquido e essa condição deve ter sido fulcral para desencadear o colapso e, a partir daí, foi tudo atrás", afirmou.
O especialista realçou que os estudos para "se saber o que estava" por debaixo da estrada "nunca foram feitos", mas apontou aquela possibilidade "devido à quantidade de terra que caiu para as pedreiras e que pode ser vista nas imagens das televisões".
Luís Lopes integrou uma equipa da UÉ que efetuou um relatório técnico sobre a estabilidade da parede da pedreira que se encontrava em atividade, das duas onde ocorreu o deslizamento de terras, o qual foi realizado em 2008 e atualizado em 2015, a pedido da empresa proprietária.
"São duas pedreiras que são contíguas", em que "existe um degrau ao meio" a separá-las e cujos proprietários são diferentes, assinalou.
Esse relatório, disse, foi feito para se ter a perceção de "eventuais quedas de blocos da parede para dentro da pedreira" e concluiu que eram necessárias "medidas de sustentação".
O geólogo e diretor do departamento de Geociências da UÉ ressalvou que o trabalho não se debruçou sobre as condições de circulação na estrada, indicando que, para isso, "teriam de ser feitos outros ensaios, que não foram pedidos nem foram feitos".
Sobre o acidente ocorrido na segunda-feira à tarde, o especialista afirmou que ficou "um pouco surpreendido", mas reconheceu que sempre que passava naquela estrada tinha "a perceção que aquilo não estava bem".
"Não é caso único. Já nos anos 80 [do século XX], houve uma queda [numa pedreira] junto ao cemitério de Estremoz e, na altura, também foi noticiada. Ou seja, eventos como este têm ocorrido e não são propriamente uma novidade", frisou.
O professor da UÉ indicou que as pedreiras onde ocorreu o acidente têm "mais de 60 anos" e que, quando foram criadas, "não havia lei para as enquadrar", considerando que "não se pode julgar agora a localização da estrada e das pedreiras".
"Os tempos eram outros e exploravam-se um ou dois pisos e não se ia além de 10 metros de profundidade, não se via risco nisso, mas, com o tempo, as coisas evoluíram e dessa exploração superficial agora temos uma cavidade com 90 metros de um lado e uns 80 do outro e o risco veio", sustentou.
O deslizamento de um grande volume de terra na estrada entre Borba a Vila Viçosa, no distrito de Évora, provocou a deslocação de uma quantidade significativa de rochas, de blocos de mármore e de terra para o interior de dois poços de pedreira, pelas 15:45 de segunda-feira.
Estão confirmados dois mortos, operários da empresa que explora a pedreira, e estão dadas como desaparecidas três pessoas, cujas viaturas em que alegadamente seguiam terão sido arrastadas para o interior da pedreira.
As autoridades de socorro destacaram a "complexidade" das operações em curso, sublinhando que vão ser "morosas e difíceis".
O Ministério Público instaurou "um inquérito para apurar as circunstâncias que rodearam a ocorrência" e a Polícia Judiciária (PJ) iniciou hoje as investigações.
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