O primeiro-ministro de Espanha anunciou, esta segunda-feira, a dissolução do Parlamento e a antecipação das eleições legislativas nacionais para 23 de julho na sequência dos resultados das eleições municipais e regionais deste domingo. Mas afinal o que se passa no país para que tenha existido esta reviravolta?

Em primeiro lugar, é importante notar que o PSOE, partido de Pedro Sánchez, liderava os executivos regionais de nove das 12 regiões autónomas que tiveram eleições no domingo, tendo perdido mais de metade e conservando apenas quatro: Astúrias, Canárias, Castela La Mancha e Navarra.

Já o principal opositor, o PP, que só governava duas das regiões que no domingo foram a votos (Madrid e Múrcia), ficará a liderar oito, a que se juntam Andaluzia e Castela e Leão, que anteciparam para 2022 as eleições e que o Partido Popular também ganhou.

Como não venceu com maioria absoluta em todas as regiões, o PP vai depender em alguns casos do apoio do VOX (partido de extrema-direita) para conseguir governar, como é o caso da Extremadura, Aragão ou Baleares.

Sublinha-se que o VOX entrou pela primeira vez num governo em Espanha em 2022, em Castela e Leão, coligado com o PP.

Nas eleições municipais, que se realizaram em todo o país, o PP foi também o partido globalmente mais votado, conseguiu uma maioria absoluta na capital espanhola, Madrid, e conquistou à esquerda grandes cidades, como Sevilha e Valência.

As eleições legislativas espanholas estavam previstas para dentro de seis meses, em dezembro. Porém, de acordo com o chefe do governo, esta decisão foi tomada face aos resultados das eleições municipais e regionais de domingo, que ditaram o afastamento "de magníficos" presidentes autonómicos e autarcas socialistas do poder e que "numerosas instituições" em Espanha passem "a ser administradas por novas maiorias formadas pelo PP e VOX", partidos de direita e extrema-direita.

"Como presidente do Governo e também secretário-geral do partido socialista, assumo em primeira pessoa os resultados e penso ser necessário dar uma resposta e submeter o nosso mandato democrático à vontade popular", afirmou.

Sánchez justificou que nesta altura da legislatura o governo já adotou a generalidade das reformas do programa com que tomou posse e outras que acordou com a União Europeia.

Por outro lado, salientou que Espanha vai assumir no segundo semestre deste ano a presidência do Conselho da União Europeia e por esse motivo é necessária "uma clarificação sobre a vontade dos espanhóis e das espanholas".

Quem são os principais opositores de Sánchez?

Depois da decisão de hoje tomada pelo primeiro-ministro espanhol, os problemas a equacionar são vários. De acordo com o jornal espanhol El País, o principal risco é o forte crescimento da direita, "que tem mostrado uma mobilização extraordinária em torno da mensagem de 'revogar o sanchismo', e essa decisão acaba por beneficiar a maioria do PP e do Vox e por afundar ainda mais a esquerda".

Contudo, destaca-se que este tipo de decisão é comum em Pedro Sánchez, tendo já em 2019 provocado a repetição das eleições.

Esta decisão também arriscada não surtiu os efeitos esperados. Na altura, o governante achava que os cidadãos iriam culpar o Unidas Podemos pelo fracasso das negociações e assim poderia conquistar grande parte dos votos deste partido, algo que não aconteceu, tendo que avançar para uma coligação com o mesmo.

Neste momento, o principal partido da oposição, o PP, que está na oposição desde 2018 e venceu no domingo as eleições regionais e municipais espanholas, viu o seu presidente, Alberto Núñez Feijóo, a decretar a sua “satisfação por isso se ter traduzido na convocação de eleições gerais” antecipadas.

Em declarações à imprensa, sublinhou: “Espanha deu ontem [domingo] o primeiro passo para abrir um novo ciclo político”. Sublinhou ainda que “os espanhóis disseram basta” ao “sanchismo”, os governos liderados por Pedro Sánchez.

Pediu ainda aos eleitores "uma maioria clara, incontestável e contundente para iniciar um novo rumo”, na declaração aos jornalistas na sede do partido, em Madrid, onde apelou também à “confiança dos cidadãos para ser o próximo presidente do governo de Espanha”.

Quais os desafios do PP?

Feijóo foi eleito presidente do PP há pouco mais de um ano e teve no domingo o seu primeiro teste eleitoral, que se traduziu numa vitória nas eleições regionais e municipais.

No entanto, o PP vai precisar de apoios do VOX (extrema-direita) para governar várias comunidades autónomas e municípios.

Apesar da aparente popularidade, o líder do PP não poderá também ser indiferente à sua principal opositora interna, Isabel Díaz Ayuso, a presidente eleita da comunidade de Madrid, que obteve maioria absoluta na capital do país pelo PP.

Como reação ao anúncio do chefe de governo, a eleita por Madrid sublinhou que “o projeto do PSOE está esgotado (…) Sánchez está num beco sem saída. É uma rendição”, defendeu em entrevista ao Telemadrid, citada pelo El País.

Segundo a governante, Pedro Sánchez foi longe de mais e ninguém o seguiu, numa altura em que Espanha decidiu que quer uma mudança. “Convocou as eleições porque não aguenta mais. Estes meses dissemos que, na realidade, estas eleições eram 8.000 moções de censura. Assim foi”, aponta.