Em entrevista à Lusa, Sofia Seabra, a primeira autora de um estudo hoje divulgado sobre abelhões polinizadores, lança uma “recomendação imediata” aos agricultores portugueses, especialmente da região Oeste e Sudoeste alentejano - onde os abelhões comerciais são utilizados para polinização da cultura de tomateiro e de pequenos frutos - para eliminarem as caixas de colmeia que já não estão a ser utilizadas.

“Não devem ser deixadas do lado de fora das estufas, mas sim eliminadas de forma adequada, através de congelamento ou selagem numa caixa fechada”, recomenda aquela especialista, referindo que há exemplares da subespécie exótica de abelhões polinizadores importada da Bélgica e Holanda a escapar das estufas e a colocar em risco as abelhas e abelhões autóctones, bem como os ecossistemas.

Outra preocupação da equipa de investigadores, que contou com 12 cientistas portugueses, é o surgimento de uma “espécie híbrida” que resulta do cruzamento dos abelhões de colmeias comerciais e dos abelhões nativos, e que pode até alterar a forma como nos alimentamos e pôr em "risco a própria conservação da natureza”, disse Sofia Seabra.

“As consequências de eventuais fenómenos de hibridação são imprevisíveis, podendo num extremo criar híbridos altamente adaptados que se tornam invasores, e noutro extremo criar híbridos menos adaptados, levando a um declínio populacional”.

Se houver um declínio populacional “grande parte das nossas culturas passam a estar em risco de diminuir”, acrescenta aquela cientista.

Segundo Sofia Seabra, investigadora do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (cE3c), na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, em Portugal deveria haver uma regulamentação sobre as espécies que se importam, tal como já acontece em alguns países, como o Reino Unido ou Espanha.

“Nem sequer de sabe o que se faz às caixas de colmeias comerciais a seguir a serem utilizadas”, lamenta a cientista, referindo que no final da época as larvas daquela subespécie começam a crescer, dando origem a novos machos e a novas rainhas, que depois em liberdade acasalam com insetos nativos resultando daí os híbridos.

A introdução da subespécie exótica trazida da Holanda e Bélgica, países onde estão as empresas que comercializam os abelhões, pode levar também à transmissão de novas doenças.

A transmissão de parasitas e de doenças pode pôr em causa a sobrevivência das populações das muitas espécies de abelhas que existem em Portugal, como por exemplo as abelhas do mel, avisa a investigadora.

O estudo, cujo objetivo era perceber quais os impactos na natureza da utilização de espécies de insetos que são polinizadores nas estufas, resulta da colaboração entre investigadores do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (cE3c) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, do Centro de Investigação em Agronomia, Alimentos, Ambiente e Paisagem (LEAF - Linking Landscape, Environment, Agriculture and Food) do Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa, e do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da Universidade de Aveiro.

A investigação contou com o apoio financeiro do Programa de Desenvolvimento Rural e da Fundação para a Ciência e a Tecnologia.

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