As autoridades polacas relatam hoje bloqueios e dificuldades de condução em mais de uma centena de pontos das principais autoestradas do país, bem como nas vias circulares de Varsóvia e Cracóvia, com bloqueios desde o início da manhã causados pelos agricultores e os seus tratores.
Da mesma forma, ocorrem manifestações de protesto em todos os postos rodoviários na fronteira com a Ucrânia e a passagem de veículos de carga provenientes da Ucrânia está interrompida.
Um porta-voz do Grupo Nacional de Sindicatos de Agricultores e Organizações Agrícolas reiterou hoje, em nome dos manifestantes, que exigem que Varsóvia se retire do Acordo Verde Europeu, que as importações agroalimentares da Ucrânia para a Europa sejam completamente proibidas e que seja permitida a atividade das fazendas de criação de animais para obtenção de peles.
Em declarações à imprensa polaca, Roman Kondrów, da plataforma agrária “Gente Enganada”, garantiu: “A Polónia está inundada de produtos ucranianos (…), embora tenhamos sido os primeiros a dar uma mão aos nossos vizinhos”.
Atualmente, a Polónia permite o trânsito de alimentos ucranianos através do seu território, desde que o seu destino de venda seja um país terceiro, mas os agricultores denunciaram fraudes que permitem que estes produtos permaneçam em território polaco.
Depois de interromperem temporariamente os seus protestos no final do ano após reunião com o novo Governo do primeiro-ministro Donald Tusk, as associações agrícolas retomaram as suas mobilizações este mês e ameaçam agora intensificar os seus protestos até paralisar o trânsito nas principais cidades do país e impedir completamente a circulação de camiões de e para a Ucrânia.
Segundo a polícia polaca, uma fila de 600 camiões com destino à Ucrânia formou-se na passagem de fronteira em Dorohusk ao longo de 15 quilómetros, enquanto na passagem fronteiriça de Hrebenne há 500 camiões ao longo de 27 quilómetros e na passagem fronteiriça de Korczowa há 800 camiões por 10 quilómetros.
A polícia destacou que, até hoje, os manifestantes permitiam a passagem de um veículo por hora, mas a partir de agora pretendem bloqueá-la completamente.
Neste cenário, um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Oleg Nikolenko, indicou que os protestos na fronteira prejudicam a economia ucraniana e visam “causar uma maior deterioração” nas relações entre os dois países.
“A fronteira entre a Polónia e a Ucrânia é também a fronteira europeia. Não deve ser mantida refém de interesses políticos”, afirmou o ministro ucraniano, apelando às autoridades polacas para que tomem medidas que permitam o normal funcionamento nas fronteiras.
Também o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, denunciou na noite de segunda-feira a situação na fronteira com a Polónia, que “não pode ser considerado normal ou comum” e apelou a “decisões comuns e racionais” para se resolver a situação.
“Apenas 5% das nossas exportações agrícolas passam pela fronteira polaca. Portanto, na realidade, a situação não é sobre cereais, mas sim sobre política”, lamentou Zelensky.
Varsóvia tem sido um dos principais apoiantes internacionais de Kiev desde o início da invasão russa, mas no ano passado as relações começaram a deteriorar-se depois de a Polónia – juntamente com outros países que fazem fronteira com a Ucrânia – ter vetado as importações agroalimentares do país vizinho, alegando que desestabilizaram o seu próprio mercado.
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