Em declarações à Lusa, à margem da sessão de apresentação dos resultados do primeiro ano de implementação do ReSist (programa municipal de promoção da resiliência sísmica do parque edificado privado e municipal e infraestruturas urbanas municipais), a geóloga Cláudia Pinto realça ainda que o plano terá de incluir “medidas implementadas a nível territorial”.
Sublinhando a importância de “uma intervenção conjunta, com outras medidas mais implementadas a nível local”, a perita da Câmara Municipal de Lisboa assinala que “existem territórios em que é impossível mitigar as inundações”.
“Alcântara vai sempre inundar, a água está a meio metro de profundidade, chove um bocado e vai sempre inundar”, afirmou.
Esses territórios têm de ser adaptados e “as pessoas vão ter de viver com isso”, recomenda, explicando que a adaptação passa por medidas como o “levantamento de cotas de soleira ou (…) equipamentos (…) como as válvulas de comporta que se põem nas portas”.
Com um investimento total de cerca de 250 milhões de euros, o Plano Geral de Drenagem de Lisboa – primeiro anunciado em 2006, mas que só avançou em 2015, com Fernando Medina (PS) na presidência da autarquia – é considerado uma obra importante para enfrentar cheias e inundações na capital, mas as grandes intervenções, nomeadamente a construção de túneis, só arrancaram este ano, sob a presidência de Carlos Moedas (PSD).
O primeiro túnel, em Campolide, já está a ser construído.
A autarquia de Lisboa partilhou hoje com os municípios vizinhos os primeiros resultados do programa ReSist, apresentado publicamente em março do ano passado, e informou que a ficha de resiliência sísmica do edificado de Lisboa vai ficar disponível ‘online’ no final de junho.
A ferramenta vai responder à pergunta “a que riscos se encontra exposta a minha casa?”. Através da morada, vai ser possível a qualquer pessoa saber se onde vive há infraestruturas enterradas (aquedutos, túneis do metropolitano, redes de grandes coletores) e a vulnerabilidade da zona a riscos naturais (inundação, sismo, etc.).
Simultaneamente, serão produzidas “recomendações sobre o dever de conservação, que deve ser feito de oito em oito anos”, recorda Cláudia Pinto.
As áreas mais vulneráveis a sismos estão identificadas nas zonas ribeirinhas e na zona histórica de Lisboa.
“As freguesias mais caras são as mais vulneráveis”, nota a geóloga. Por outro lado, as zonas mais resistentes são as de solos mais rijos, como Monsanto e Alcântara, sendo que esta é “muito vulnerável a inundações”.
O programa ReSist está também a concluir as 100 vistorias a 50 edifícios habitacionais e 50 equipamentos municipais e Cláudia Pinto explica que o índice de resistência sísmica que lhes vai ser atribuído poderá ser aplicado a outras zonas de características arquitetónicas semelhantes.
A coordenadora destaca ainda a aposta na formação e capacitação, identificando uma “lacuna muito grande a nível do setor técnico”, sobretudo nos “projetistas mais novos”, que aprenderam a projetar em betão, quando 60% dos edifícios de Lisboa são alvenarias.
“Muitas das más práticas que vemos acontecer (…) poderão não ser por negligência, poderão ser por desconhecimento” e “acabam por trazer maiores fragilidades aos edifícios do que eles já tinham antes”, nota Cláudia Pinto, acrescentando que entre setembro e março a equipa do programa ReSist realizou “2.500 ações em escolas" de Lisboa.
“A questão não é se haverá um grande sismo, mas quando”, alerta, considerando que a área metropolitana de Lisboa vive numa “falsa sensação de segurança”.
Edificado antigo e não intervencionado recentemente e concentração de pessoas em zonas históricas aumentam a vulnerabilidade sísmica da capital.
“O que é construído agora é resistente a sismos, mas antes disso depende da mestria de quem dimensionou e executou”, realça a geóloga, defendendo que o seguro contra sismos, que custa 30 euros por ano, passe a ser obrigatório.
“Há um problema cultural, é preciso mudar a mentalidade”, apelou, deixando avisos aos municípios vizinhos.
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