Para o major-general Viktor Yahun, que foi vice-diretor da SBU, a agência de serviços de segurança da Ucrânia, até 2015, é preciso proceder uma limpeza devido à sua proximidade à sua congénere russa, a FSB.

Esta constatação é feita após a SBU ter informado esta quinta-feira a detenção de um dos seus membros, um tentente-coronel, por suspeitas de "alta traição", adianta o The Guardian.

A SBU divulgou fotografias da operação de detenção, onde é possível ver pacotes de dinheiro espalhados pela sua casa. Suspeita-se que o funcionário tenha fotografado com o telemóvel documentos onde estão patentes checkpoints militares ucranianos em Zaporizhzhia, uma das regiões anexadas pela Rússia e que tem sido palco de combates na frente leste.

O homem terá alegadamente enviado estes documentos através de um email registado num servidor russo. Outras fotografias da detenção mostram cartões SIM de operadoras russa, dinheiro em moeda estrangeira, um guia russo para aprender a falar inglês, uma soqueira e duas facas.

Em comunicado, é ainda dito pela SBU que foram encontradas "provas de conexões permanentes entre representantes das forças de segurança e instituições públicas da Federação Russa", especialmente visando "parentes próximos do traidor".

Desde a invasão de 24 de fevereiro de 2022, mais de 60 membros da SBU e do ministério público ucraniano ficaram em territórios ocupados e colaboraram com as forças russas.

O problema, para Yahun, é que se alguns agentes da SBU foram subornados ou chantageados a colaborar com a Rússia, muitos outros consideram-se russos, e por isso têm sido agentes-duplos. Além disso, apesar da geração que trabalhou no tempo da União Soviética já ter sido afastada — por razões políticas ou porque houve agentes a reformar-se —, os seus filhos e filhas continuam ligados à SBU, devido às práticas de recrutamento da agência.

Yahun denuncia mesmo que, pelo menos até 2010, a SBU celebrou internamente o dia do KGB, a antiga agência de espionagem e serviços secretos da União Soviética.

Os últimos meses têm sido palco de demissões e detenções no seio da SBU devido a acusações de traição, como no caso de Oleg Kulinich, nomeado pelo próprio Volodymyr Zelensky em 2020 para supervisionar as operações na Crimeia, ou no de Andriy Naumov, que liderou o departamento de segurança interna da SBU e fugiu do país para a Sérvia horas antes da invasão da Rússia.