A ameaça de bomba é na mesma cidade que esta quinta-feira proibiu a intervenção do ministro da Justiça da Turquia, Bekir Bozdag, numa concentração agendada para recolher apoios à revisão constitucional defendida pelo Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, prevista para abril.

De acordo informações prestadas por fontes da autarquia à agência AFP, a ameaça foi feita através de uma chamada telefónica e terá tido o cancelamento como motivo. À agência Reuters, o presidente da câmara da cidade, Michael Pfeiffer, admitiu que pode haver uma ligação entre os acontecimentos.

A polícia local está no edifício à procura de eventuais explosivos, disse o presidente da câmara de Gaggenau à emissora alemã n-tv.

O cancelamento do comício de apoio a Tayyip Erdogan em Gaggenau surge depois do azedar das relações entre os dois países, parceiros, como Portugal, da NATO. A Turquia disse já que a Alemanha tem de “aprender a comportar-se” se quiser manter as relações com a Turquia.

Os comentários do ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Mevlut Cavusoglu são a reação imediata ao impedimento de ministros do país de Erdogan de discursarem em comícios na Alemanha. Estes encontros fazem parte de uma campanha para recolher apoio ao “sim”, entre os 1,5 milhões de turcos a viver na Alemanha, no referendo de abril, onde os poderes do presidente Erdogan podem ser aumentados.

Bekir Bozdag, ministro turco da Justiça, que iria falar em Gaggenau,  cancelou a viagem esta quinta-feira (2 de março). “Esta reunião com o ministro alemão da Justiça não será realizada. Vou voltar para a Turquia”, disse Bozdag em Estrasburgo à televisão privada alemã n-tv.

O presidente da câmara de Gaggenau, que foi esta manhã alvo da ameaça, justificou o cancelamento com a lotação do espaço: “Como a organização do ato é conhecida em toda a região, a cidade espera uma grande quantidade de visitantes. A sala de Bad Rotenfels, os estacionamentos e as vias de acesso não são suficientes para a afluência prevista”, lê-se num comunicado do autarca citado pela AFP.

A oeste da Alemanha, em Colónia, outro dos comícios previstos, organizados pela União de Democratas Turcos Europeus, ficou sem autorização. À AFP, um porta-voz do município disse que o encontro com o ministro turco da economia “não pode ser realizado e não será”.

Por seu lado, Mevlut Cavusoglu acusa a Alemanha de ter “duplicidade de critérios”. O embaixador alemão em Ancara foi já chamado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros turco para explicar o sucedido, apurou a agência Reuters junto de fontes ministeriais.

A contribuir para o mal-estar entre os dois países está a detenção do correspondente do jornal alemão ‘Die Welt’, Deniz Yucel, na segunda-feira. Yucel é o primeiro jornalista alemão a ser detido na Turquia depois da repressão que surgiu depois do golpe falhado de julho. Berlim veio já dizer que a prisão do correspondente causou danos severos aos laços entre os dois países.

A repressão depois da tentativa de golpe tem sido alvo de fortes críticas na União Europeia. Berlim, contudo, tenta manter o compromisso com Ancara para prevenir a vinda de refugiados acolhidos na Turquia para a Europa.