Com ‘t’shirts’ negras e cravos brancos, os enfermeiros exibiam cartazes a dizer “basta”, “a classe acorda”, “pela valorização da enfermagem, não te acomodes com o que te incomoda”, “não nos calam” e a “união faz a força”, entre outros.

A concentração foi agendada pelo Movimento Nacional de enfermeiros, que se autoclassifica como apartidário e sem filiação sindical, por identificar que “a saúde, em Portugal, tem muita falta de recursos humanos e muitos serviços estão em dotações mínimas, o que mete em perigo a segurança dos doentes”, destacou Nuno Alpalhão, representante do Movimento.

Nuno Alpalhão, enfermeiro desde 2004, destacou ainda o subfinanciamento da Saúde pelo Estado e justifica que o protesto de hoje “está relacionado com o novo Orçamento do Estado para 2019″.

“O Governo tem de olhar para a Saúde, não só para as questões economicistas, e estamos aqui para chamar a atenção do Sr. Presidente da República de que precisamos de atenção e que alguém intervenha pela Saúde”, considerou.

Ana Rita Cavaco, bastonária da Ordem dos Enfermeiros, que também apoiou a concentração, destacou que os enfermeiros protestam pelas condições da carreira, mas também pela falta de profissionais, referindo estudos que dizem que Portugal precisa de mais 30.000 enfermeiros.

“Há por todo o país hospitais e centros de saúde que têm pedido a contratação de enfermeiros, mas o Ministério da Saúde está engolido pelo Ministério das Finanças e os enfermeiros não têm condições para trabalhar, nem em número, nem em material”, disse.

A bastonária salientou que “Portugal está na cauda do mundo em número de enfermeiros”.

“Somos os pior cotados para o ‘racio’ de 1.000 habitantes. Neste momento, por exemplo, o hospital de Santa Maria tem tantos médicos como enfermeiros e deveria ter três vezes mais enfermeiros do que médicos. Por isso não compreendemos por que é que não é feito nada e viemos pedir a moderação do Sr. Presidente da República”, salientou.

Ricardo Valeriano começou a carreira há meses e o futuro assusta-o.

“Nem tinha noção de que estivesse tão mal, sinceramente, porque nós, quando estamos em estágio estamos protegidos e quando chegamos à profissão em si começamos a trabalhar sozinhos e está péssimo”, afirmou este enfermeiro em Lisboa.

Já Manuela Miranda, enfermeira de Mafra há 17 anos, veio protestar porque “não tem carreira desde 2009, nem aumento salarial” e exige “ter alguma valorização pelos anos de experiência profissional e alguma expetativa” de progressão.

“Além disso as condições de trabalho são penosas e devemos lutar por uma aposentação mais cedo consoante os anos de serviço e por melhores condições de trabalho”, disse, salientando que o marido, também enfermeiro, trabalha por turnos e não é valorizado por isso ao nível de remuneração.

Maria Helena, enfermeira de Santiago do Cacém há 35 anos, considera que a carreira está a ser “maltratada, desconsiderada”.

“Chegou a altura em que nós temos uma vida miserável, temos carreiras feitas, investimento feito por nós, portanto [vim] em defesa de nós e de todos os que de nós precisam”, concluiu.