Segundo Tim Collins, um coronel da reserva do exército britânico, as revelações que o Príncipe Harry fez no seu livro sobre o número de mortes no Afeganistão quando estava ao serviço do exército britânico são “grosseiras” e acrescenta que não devia falar publicamente sobre missões militares porque ao fazê-lo está a colocar-se em perigo.

"Harry agora voltou-se contra a sua outra família, os militares", disse o coronel, que ficou célebre pelo seu discurso no início da guerra do Iraque onde serviu como militar.

"Não é assim que nos comportamos no exército, não é assim como pensamos", afirmou Collins sobre o relato do príncipe sobre os combatentes que abateu, considerando que o livro é um "golpe trágico para ganhar dinheiro".

De acordo com o The Guardian, vários especialistas militares consideram que não se deve desumanizar os insurgentes ao descrevê-los como “peças de xadrez removidas do tabuleiro”, como fez o príncipe no livro.

Harry refere no livro que considerava essas pessoas como "peças de xadrez" retiradas do jogo, tal como fora instruído no treino militar, pois é "impossível", disse, disparar sobre um alvo "se se pensar que é uma pessoa".

Ben McBean, um ex-fuzileiro naval que, em 2008, perdeu um braço e uma perna no Afeganistão e que o duque de Sussex descreve no livro como um "verdadeiro herói", pediu a Harry para se calar:

"Gostamos muito de ti, príncipe Harry, mas tens de calar a boca!", escreveu no Twitter.

O governo Talibã acusou o príncipe de cometer crimes de guerra durante a sua missão no Afeganistão, há dez anos.

Harry foi enviado para o Afeganistão por duas vezes, primeiro em 2007 e 2008, período em que foi responsável pela coordenação de ataques aéreos, e novamente em 2012 e 2013, nessa altura como piloto de helicópteros.

Câmaras montadas na frente do helicóptero permitiram avaliar o sucesso das missões e também determinar com precisão quantas pessoas abateu.

Harry justificou as suas ações com os ataques de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, sublinhando acreditar que os inimigos contra os quais lutava no Afeganistão tinham cometido um crime contra a humanidade.

Um alto responsável do regime afegão criticou hoje o príncipe Harry por ter revelado em livro ter abatido 25 talibãs enquanto servia como militar no Afeganistão e acusou-o de protagonizar "crimes de guerra".

"Todos aqueles que [Harry] matou não eram peças de xadrez, eram humanos, tinham famílias. Entre os assassinos dos afegãos, são poucos os que têm a decência em confessar os seus crimes de guerra", disse Anas Haqqani, um membro influente do governo afegão, ao jornal inglês.

O porta-voz do governo afegão, Bilal Karimi, também criticou Harry.

"Esses crimes não se limitam a Harry, mas a todas as potências ocupantes que cometeram tais crimes no nosso país. Os afegãos nunca esquecerão os crimes dos ocupantes", escreveu Karimi na conta pessoal na rede social Twitter.

As declarações aparecem em “Spare”, uma autobiografia do príncipe Harry, que será lançada no dia 10 de janeiro no Reino Unido, e que foi colocado antecipadamente à venda em Espanha, "por erro", com o título "En La Sombra" ("Na Sombra", em Portugal).

Num breve trecho que ficou conhecido na quinta-feira, pode ler-se algumas confissões de Harry como a agressão do seu irmão e herdeiro ao trono, William. Aliás o nome do livro “Spare”, pode fazer referência a um velho ditado da realeza 'um herdeiro e um suplente'. O primeiro filho é herdeiro de títulos, poder e fortuna, e o segundo é um suplente, caso algo aconteça ao primogénito.

(notícia atualizada às 20h30)

*com Lusa