Vá, eu admito, devo fazer parte de uma minúscula minoria que na minha faixa etária nunca viu a série Friends.

“Apóstata”, “traidor”, “snobe” — perdi a conta do rol de insultos que me já foram dirigidos por nunca ter dado a devida atenção à série que popularizou entrar em casa dos outros amigos sem sequer bater à porta porque esta nem sequer está trancada (minto, provavelmente foi o Seinfeld).

E não é que desgoste sequer das aventuras e desventuras de Chandler, Joey, Phoebe, Monica, Rachel e Ross. É boa série para ver uns episódios de seguida num domingo à tarde, mas nunca me senti investido em querer ver de seguida nem saber quais os destinos dos seis protagonistas.

Ainda assim, não nego o seu impacto cultural nem os factores que fizeram dela um fenómeno de audiências, cuja popularidade dura até hoje, dia em que fez 25 anos. Nem eu, nem o João Dinis, que dedicou a este marco da televisão um belo artigo.

Mas este título não foi apenas escolhido para celebrar a ficção do pequeno-ecrã, não. É também uma referência à realidade, ou melhor, dizendo à “política real”.

Enquanto acabo de escrever estas linhas, já foram contados os votos das Eleições Regionais da Madeira, plebiscito que, ao contrário dos outros anos, em que o PSD atingiu maiorias absolutas, vai obrigar as forças políticas a coligar-se para formar governo, naquilo se afigura "um momento histórico".

O PSD foi o vencedor, mas precisará de forças como o CDS-PP para poder governar. Já o PS, apesar de dizer ter  “condições para governar” e de ter atingido o seu melhor resultado de sempre, não vai poder contar com os seus parceiros de “geringonça”, já que só a CDU elegeu. Precisará então do JPP para tentar constituir uma força governativa, caso o PSD não o faça.

Seja de um lado, seja do outro, será preciso escolherem-se “amigos” nos próximos dias. Podem não ser os que se quer, mas vão ser daqueles que se precisa. Durante os próximos quatro anos, os amigos vão precisar de ser amigos.