"Não sou nem vou ser candidato à liderança do PAN", afirmou, em entrevista à SIC Notícias.
Para André Silva, “é por demais evidente” que deve ser convocado um congresso, “mais que não fosse” para retificar os estatutos, cujas alterações mais recentes foram rejeitadas pelo Tribunal Constitucional.
“Alguém que está à frente de um partido que tem os resultados que teve nas eleições autárquicas, que não assume essas próprias responsabilidades, inclusivamente até diz que renovaram os mandatos em Lisboa quando se perdeu metade desses mandatos, quando perde 75% do seu grupo parlamentar, a única saída digna e ética seria colocar o seu lugar à disposição, demitir-se e depois pensaria se se recandidataria ou não”, defendeu.
Nas eleições legislativas do final de janeiro o PAN perdeu o grupo parlamentar que alcançara em 2019, no mandato de André Silva, e elegeu apenas um deputado.
O ex-porta-voz apontou que “uma forma de mostrar desapego e humildade seria demitir-se e convocar um congresso”.
Apesar de considerar que Inês Sousa Real tem “estatutariamente legitimidade para ocupar o cargo e para cumprir o seu mandato até ao fim”, o antigo dirigente disse ter “dúvidas do ponto de vista político”.
Se deixar de ser líder, Inês Sousa Real, eleita deputada única do PAN, deverá deixar o parlamento e “dar espaço a que outra alternativa competente possa liderar o partido novamente para um espetro de onde saiu”.
André Silva considerou também que a opção da direção de auscultar as bases é “atirar areia para os olhos dos filiados”.
Desde que deixou a liderança do Pessoas-Animais-Natureza, em junho do ano passado, quando decorreu o último congresso, André Silva tem estado afastado da vida política mas na sexta-feira escreveu um artigo no jornal Público no qual se mostrava disponível para ajudar a recuperar a credibilidade do partido e apontava duras críticas à atual liderança.
Apesar de não querer “regressar à direção do PAN nem a um cargo” que já exerceu, o ex-líder apontou que “coisa diferente é poder contribuir para ajudar o partido a ganhar novamente a credibilidade e a notoriedade que já teve fruto dos graves erros políticos que foram cometidos nos últimos meses e colocaram o partido nesta circunstância”.
E recusou “qualquer contradição” com o que disse antes do congresso, em entrevista à agência Lusa, que não via “rigorosamente cenário nenhum” que o fizesse regressar à política.
“Eu saí dos cargos que tinha políticos e partidários, decidi afastar-me da vida política, assim o mantenho, e não quero regressar ao cargo que tive, não quero regressar à direção do PAN, não quero deter qualquer tipo de cargo político”, defendeu.
André Silva explicou que se manteve em silêncio desde que saiu da liderança do PAN “para não prejudicar o partido, para não criar ingerência ou para não ter qualquer perspetiva paternalista sobre aquilo que são as ações do partido”.
Agora, “com tantos e tantos erros políticos cometidos por esta liderança em tão pouco tempo que desbarataram e puseram o partido na lama, completamente descredibilizado, e não havendo no horizonte – só daqui a dois anos - um ato eleitoral”, o ex-porta-voz achou ser seu “dever ter uma palavra pública para com todos aqueles que votaram no PAN desde 2015 porque há um sinal de esperança que tem que ser dado”.
Apontando que Inês Sousa Real herdou um “partido absolutamente aceite, credível e em crescimento”, André Silva apontou “vários erros” cometidos pela atual líder que “são absolutamente graves”, os quais “ninguém estava à espera”.
“Desde logo, de uma falta total de noção, querer ser governo” e uma única mensagem que não passa”, criticou, falando num “rumo desastroso”.
O antigo dirigente afirmou também que o PAN se tornou “subserviente” em relação ao PS e “passou a ser muleta ao ponto de fazer coligações autárquicas em concelhos determinantes, em que a derrota estava claramente à vista”.
Sobre as demissões de vários membros da Comissão Política Nacional, hoje conhecidas, André Silva recusou ter tido influência e defendeu que é “uma atitude que revela maturidade e democracia interna”.
(Notícia atualizada às 23h43)
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