"Volvidos vários anos de intenso trabalho e de uma magnífica experiência cívica e pessoal, decidi não me recandidatar aos órgãos nacionais do partido", escreveu André Silva numa carta que dirigiu aos militantes do PAN e que publicou na sua página pessoal no Facebook.
Na carta, o porta-voz do PAN considera que "chegou a hora de mudar" e refere que, tendo sido pai há cinco meses, entende que deve "apanhar o comboio da paternidade para materializar valores" que considera essenciais nas esferas privada e pública.
"Além de pretender equilibrar a minha vida pessoal e familiar com a vida profissional, carrego a forte convicção de que numa democracia saudável as pessoas não devem eternizar-se nos cargos, devendo dar oportunidade a outras. Ou seja, como muitos sabem, defendo a limitação de todos os mandatos políticos, sejam eles partidários ou em órgãos de poder institucional", justifica.
Face a estes motivos, André Silva diz que entendeu não se recandidatar a um novo mandato na Comissão Política Nacional do PAN, "deixando todos os cargos de direção partidária".
"Vou-me embora tendo presente o patamar de notoriedade atingido pelo partido, bem como as aptidões de ação política e de disputa eleitoral autónoma que adquiriu nos últimos anos. Por tudo isto e por toda a mudança que quero que tenha lugar na minha vida, resolvi também renunciar ao mandato de deputado à Assembleia da República, com efeito na data de realização do nosso congresso no mês de junho, cumprindo assim meia legislatura e fechando um ciclo pessoal e da vida do partido", acrescenta.
Na sua carta, o até agora porta-voz do PAN vinca que regressará à "condição de filiado de base" da sua força política e adianta que continuará a dar ao "coletivo partidário" o contributo que estiver ao seu alcance e que entender ser desejável e relevante ao partido e à sociedade.
"A minha saída não abala a confiança que tenho no PAN enquanto coletivo partidário, nem deve abalar a vossa", adverte logo a seguir.
Porta-voz da Comissão Política Permanente desde 2014 e deputado desde as eleições legislativas de 2015, André Silva, na sua missiva, assinala também princípios ideológicos do PAN como os direitos dos animais, o combate à crise climática e a "afirmação de direitos sociais das pessoas fora dos arcaicos preconceitos do divisionismo esquerda/direita".
"Após sete anos como porta-voz do partido, continuo a acreditar nessa mudança e na capacidade única deste coletivo partidário para a afirmar. O trabalho que fizemos deixa-me profundamente orgulhoso. Conseguimos entrar no parlamento, demos voz e visibilidade às nossas causas e à nossa mundivisão, trouxemos temas para o debate político que, por desinteresse ou falta de coragem, eram totalmente ignorados pelos outros partidos", sustenta.
André Silva defende em seguida que o PAN, nos últimos anos, conseguiu "marcar a agenda política e forçar o país a debater assuntos incómodos e controversos, deixando claro que, doa a quem doer, não existem setores intocáveis, sejam eles a tauromaquia, o baronato da caça, a agropecuária intensiva, e tantos outros setores poluidores e exploradores de animais e de recursos naturais".
"Também fomos a jogo no campo da promiscuidade entre o futebol e a política, e entre esta e o setor bancário. Alargamos a luta contra a discriminação, pela Igualdade e na defesa de quem menos pode. Afirmamos a nossa voz na defesa da transparência e no combate à corrupção, sabendo que esta é uma das principais causas da desigualdade social e económica do país. Fomos corajosos e, por isso, demos densidade política aos desafios do século XXI", sustenta ainda o porta-voz cessante do PAN.
Numa nota pessoal, André Silva escreve que, ao longo dos últimos anos de atividade política, viveu "intensamente os desígnios do PAN".
"No caminho, cometi erros, tentei aprender com eles e corrigi-los. Abdiquei de muito a nível pessoal para me dedicar à missão de afirmar e fazer crescer o partido, relegando todos os outros aspetos da minha vida. Chegou a hora de mudar", alegou.
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