Caso a candidatura de Robow avance, os observadores acreditam que o homem que em tempos elogiou Osama bin Laden e tentou impor um Estado islâmico tenha boas hipóteses de vencer a eleição para a liderança da região sudoeste, em novembro.
Robow, que até há pouco tempo tinha a cabeça a prémio – os Estados Unidos da América ofereciam cinco milhões de dólares (cerca de 4,4 milhões de euros) de recompensa – tem afirmado várias vezes o seu afastamento do grupo extremista.
“Discordo do seu credo, que não serve a religião islâmica”, disse o Robow, o desertor mais afamado do Al-Shebab, grupo que ajudou a fundar.
Agora, Mukhtar Robow tenta alcançar a liderança do Governo da região sudoeste da Somália, uma iniciativa que o Governo federal reprova.
O Ministério do Interior da Somália considera que a Robow é “inelegível”, uma vez que continua sob sanções internacionais.
De acordo com observadores contactados pela agência Associated Press (AP), o atual estado do Governo federal da Somália leva a que as várias autoridades não saibam quem pode ou não decidir a legitimidade de candidatos.
“Quem tem a última palavra sobre quem concorre? Ninguém sabe”, disse um antigo conselheiro de segurança nacional, Hussein Sheikh-Ali, à AP, que contactou ainda a presidência do país – que não respondeu – e a missão das Nações Unidas na Somália – que não quis comentar o assunto.
A AP contactou ainda Robow, que afirmou não poder comentar.
Apesar de um passado em que recrutou jovens locais para o Al-Shebab, o povo da região sudoeste é recetivo a Robow, que proibiu a execução quase certa de vários dirigentes governamentais aquando da invasão de Baidoa, em 2009.
“Ele já mudou para melhor, então esqueçam o seu passado”, disse um líder local tradicional local, Ali Ahmed Isa, acrescentando que “tal como outros políticos com passados terríveis como senhores de guerra que agora são políticos, nada o pode afastar desse papel de liderança”.
Robow tem demonstrado estar próximo da comunidade.
Em outubro de 2017, Robow doou sangue para demonstrar o apoio às vítimas de um ataque bombista que matou mais de 500 pessoas na capital somali, Mogadíscio.
Mais recentemente, Robow apareceu num hospital em Baidoa, capital da região sudoeste do país, onde visitou as vítimas e condenou os ataques do Al-Shebab naquela zona.
De acordo com Robow, Governo federal da Somália enviou um responsável para o tentar dissuadir.
“Foi-me pedido que abandonasse a minha candidatura, mas eu digo-vos… vou concorrer à presidência [da região sudoeste]”, disse Robow aos seus apoiantes, acrescentando: “com a ajuda de Deus, iremos ganhar e a paz vai vencer”.
Robow continua sob sanções impostas em 2008 pelos Estados Unidos, depois de ter sido considerado “terrorista mundialmente especialmente designado”, não tendo sido negociada a sua libertação destas sanções entre o Governo federal e as organizações internacionais.
Sheikh-Ali acredita que não há tempo para que Robow seja libertado destas sanções antes da eleição de 17 de novembro.
O antigo conselheiro de segurança nacional vê isto como desapontante, lembrando que a Somália tem uma tradição de acolhimento.
O atual Presidente somali, Mohamed Abdullahi Mohamed, integrava o grupo fundamentalista islâmico Hizbul Islam, que tentou derrubar o Governo federal da Somália.
“O caso de Robow está a comprometer as hipóteses de outros líderes do Al-Shebab se afastarem do grupo e se juntarem ao Governo”, afirmou Sheikh-Ali à AP, pedindo o diálogo com o grupo extremista: “A Somália precisa de paz”.
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