Em comunicado, Stéphane Dujarric, porta-voz de Guterres, indicou que a preocupação do líder da ONU estende-se ainda à crescente dimensão étnica da violência, assim como aos relatos de violência sexual.

Entre as cidades particularmente afetadas, Guterres apontou El-Geneina, no oeste de Darfur, Niala, no sul, e Kutum e El Fasher, no norte de Darfur.

“O secretário-geral reitera o seu apelo para que Forças Armadas Sudanesas e as Forças de Apoio Rápido (RSF, sigla em inglês) parem de lutar e se comprometam com uma cessação duradoura das hostilidades. Ele lembra a todas as partes da sua obrigação de proteger os civis”, diz o comunicado, que reforçou o compromisso das Nações Unidas em apoiar o povo sudanês.

“Com quase nove milhões de pessoas agora a necessitar urgentemente de ajuda humanitária e proteção no Darfur, o secretário-geral enfatiza a necessidade de acabar com os saques e ampliar o acesso para que a ajuda chegue aos que mais precisam. Ele presta homenagem aos trabalhadores humanitários, especialmente aos nossos parceiros locais, que arriscam as suas vidas para prestar assistência”, concluiu.

Também o chefe da missão da ONU no Sudão, Volker Perthes, disse hoje que a violência perpetrada na vasta região de Darfur, no oeste do Sudão, pode constituir “crimes contra a humanidade”.

Desde meados de abril, os intensos combates têm-se concentrado, principalmente, na capital Cartum e em Darfur, uma região onde milícias locais, combatentes tribais e civis armados se juntaram aos confrontos.

“Como a situação em Darfur continua a deteriorar-se, estou particularmente preocupado com a situação em El-Geneina, onde a violência assumiu dimensões étnicas”, disse o enviado da ONU em comunicado.

“Ataques em massa contra civis, com base nas suas origens étnicas, supostamente cometidos por milícias árabes e homens armados em uniformes da RSF são muito preocupantes e, se verdadeiros, podem constituir crimes contra a humanidade”, alertou.

Na semana passada, o governo sudanês declarou Perthes ‘persona non grata’, acusando-o de ser tendencioso no conflito. Mas, para a ONU, o seu estatuto permanece “inalterado”.

Pelo menos 866 pessoas morreram e outras 6.083 ficaram feridas no Sudão desde o início dos combates entre o exército do país e grupo paramilitar RSF, há dois meses, informou a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Os dados estão atualizados até 06 de junho e foram fornecidos à OMS pelo Ministério da Saúde do Sudão, que destacou a situação na capital sudanesa, Cartum, onde já morreram 230 pessoas e outras 3.508 ficaram feridas.

Agências da ONU estimam que, desde o início das hostilidades, mais de 1,4 milhões de pessoas foram forçadas a fugir de suas casas dentro das fronteiras do Sudão.

Um número que se soma aos 3,7 milhões de deslocados internos que o país já tinha, principalmente na região ocidental de Darfur.