A cerimónia de tomada de posse de António Guterres como secretário-geral da ONU  acontece às 15 horas de Lisboa, na sede da ONU, em Nova Iorque, na sala da Assembleia Geral, perante representantes dos 193 estados-membros, e é antecedida por uma homenagem ao secretário-geral cessante, Ban Ki-moon, que fará o seu último discurso como secretário-geral perante o plenário. Ao final do dia, por volta das 18 horas locais e 23 horas em Lisboa, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, oferece uma receção para cerca de 800 pessoas na Sala de Jantar dos Delegados, também na sede da organização.

No discurso inaugural e depois de fazer o juramento sobre a Carta das Nações Unidas, o novo secretário-geral da ONU deverá traçar as linhas mestras do seu "programa de governo", desde a resposta às crises globais até ao muito aguardado e muito adiado processo de reforma da pesada maquinaria institucional da organização de 71 anos.

Desde que foi aclamado pela Assembleia-geral da ONU em outubro, António Guterres já tratou de visitar as capitais e de se reunir com os líderes dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança.

Um dos primeiros atos de António Guterres depois de tomar posse deverá ser o anúncio da nomeação do vice-secretário-geral e do seu chefe de gabinete, com analistas a anteciparem que os dois lugares-chave serão ocupados por mulheres. Guterres já afirmou que as questões de igualdade de género no interior da ONU vão merecer atenção particular no seu mandato.

A ministra do Ambiente da Nigéria, Amina Mohammed, é tida como a principal candidata ao cargo de vice-secretário-geral.

António Guterres, 67 anos, vai iniciar o seu mandato de cinco anos em 1 de janeiro de 2017, três semanas antes da tomada de posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos da América, em Washington.

"Uma espécie de papa Francisco civil"

O padre Vítor Melícias vai hoje assistir "com grande alegria", em Nova Iorque, ao juramento de António Guterres como secretário-geral das Nações Unidas e compara o amigo de 50 anos a "uma espécie de papa Francisco civil".

Em declarações à Lusa e Antena 1 a bordo do avião que o transportou no domingo de Lisboa a Nova Iorque - e onde também seguia o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que não prestou declarações à comunicação social -, o padre franciscano destaca o perfil de António Guterres para as funções que exercerá a partir de 01 de janeiro.

"Este homem tem sido em toda a sua vida um exemplo de grande inteligência e de grande coração, ele põe a prioridade nos outros e no serviço dos outros, é amigo dos pobres e inimigo da pobreza, é amigo da paz e inimigo da guerra. Às vezes até quase que me lembra uma espécie de papa Francisco civil", sugere.

O padre Vítor Melícias, que se considera parte da "família afetiva" do antigo-primeiro-ministro português, salienta que este é, por ventura, o cargo que António Guterres sempre desejou.

"Ele tem desenvolvido imensas funções, presidente da Internacional Socialista, foi primeiro-ministro, alguns queriam que se candidatasse a Presidente da República. Eu julgo que este tipo de funções são aquelas que ele sempre desejou e para os quais tem um perfil efetivamente, estar ao serviço da Humanidade e dos valores", refere.

Lembrando uma amizade de 50 anos - que começou nos tempos de estudante e no "Grupo da Luz", um espaço de discussão religiosa e social que integrava, entre outros, o próprio Marcelo Rebelo de Sousa -, Vitor Melícias não esconde a sua satisfação pelos altos cargos que ambos ocupam.

"Como dupla não podia ser melhor, um na Presidência da República, outro nas Nações Unidas, melhor que isto não era possível", disse, considerando-os, embora diferentes, "duas pessoas que conjugam muito bem o verbo servir e o verbo respeitar os outros".

Com Guterres tem falado nos últimos dias por telefone e diz senti-lo "feliz e disponível": "Sinto-o feliz porque encontra nas Nações Unidas condições para desenvolver este seu papel".

"Obviamente, por ele, dá-me uma enorme satisfação e segurança de que prestará um grande serviço à Humanidade, as circunstâncias serão aquelas que o mundo lhe proporcionará, oxalá lhe sejam favoráveis", acrescentou o padre que casou António Guterres e é também o seu confessor.