Diário de quarentena, por Patrícia Reis. Dia 6


Ah, como é bom perceber que as pessoas se organizam. A quem possa interessar saber quais os comerciantes nos Mercados de Alvalade a disponibilizar serviços de entrega ao domicílio por favor vá ao site da junta de freguesia, está lá tudo.

Vejo esta notícia e sigo para a rua, preciso de ir ao talho, tenho um filho que só come carne. Sou a senha 89 e quando chego o quadro electrónico mostra o número 42. Uma senhora diz que está aí há duas horas. Outra traz o guarda chuva porque é alérgica ao sol. Algumas pessoas têm máscara e luvas, outras não. Mantêm todas a distância entre si.

No talho estão três pessoas a serem atendidas. Conheço bem os talhantes, venho aqui há muitos anos. São pessoas afáveis e bem dispostas. Atendem o mais rápido que conseguem. Na rua faz vento e eu agradeço estar de calças e ter trazido um blusão. Um senhor vem do lado do supermercado e conta que a fila é enorme. Desistiu, vai encomendar on-line. Dizem-lhe que as encomendas estão atrasadas e ele encolhe os ombros e segue caminho falando ao telefone. “Ó António, tu tens carne em casa?".